Caso Hugo Levy movimenta sombras de um passado que o Amazonas se recusa a esquecer
O caso Coari, no Amazonas, remonta há 17 anos, mas sua sombra se espalha ainda hoje pelo Judiciário. Ao ingressar no STF com pedido de tutela incidental com vistas a reintegração no cargo de Juiz de Direito, Hugo Levy - aposentado compulsoriamente pelo Conselho Nacional de Justiça - faz essa sombra andar e tira do armário esqueletos de um tempo que a história se recusa a apagar.
A questão que atormenta o juiz aposentado é apenas uma: “Por que apenas eu ?”, quando uma juíza acusada de proteger o grupo sobre o qual eram imputados diversos crimes, inclusive pedofilia, acabou obtendo uma ‘punição-prêmio": foi removida de Coari para Manacapuru “de forma compulsória" pelo CNJ em 2012 . Pesos e medidas diferentes para atos que desabonam a magistratura. Neste caso, a interferência política foi óbvia.
A juíza havia sido flagrada em escutas telefônicas pela Policia Federal e acusada de atuar como “consultora"do principal acusado. Era o auge da Operação Vorax, um marco da Policia Federal no combate à pedofilia e à corrupção no Amazonas.
Para além da falta de sutileza de Hugo Levy, ao argumentar na ação ao STF que tem 68 anos e almejaria tornar-se desembargador, em vaga a ser aberta para juiz mais antigo, vale lembrar que seu suplício é uma lição para outros magistrados - e velhos de casca grossa.
Levy - que teve negado seu retorno à magistratura pela Ministra Rosa Weber - carrega nos ombros a acusação de manipulação e ingerência em processos judiciais em favor de políticos de Coari e de ter recebido vantagens em troca desses benefícios.
Mesmo sabendo da 'falta de santidade' de Levy, cabe lembrar que havia ontem como há hoje, em maiores proporções agora, sobrecarga de trabalho do magistrado.
Muitas vezes ele fica à mercê de uma eminência parda, assessor que atua nos "bastidores" e que não tem nem experiência, nem compromisso com a matéria ou o conteúdo. E que redige por dolo ou culpa, levando o juiz ao erro, com sentenças descabidas, aumentando a distância entre o ato judicial e a justiça almejada.
Sem tempo para ler e refletir, o juiz coloca sua assinatura no papel, forçado pelas regras de cumprimento de prazos, geralmente muito estreitos.
Levy pode ter sido vítima desse fato, vítima dessa eminência parda que se multiplicou nos gabinetes dos juizes nos últimos anos, mas também vítima de si mesmo, de sua arrogância, de sua prepotência, que aliás é. bem característica de tantos que vestem uma toga e se julgam acima do bem e do mal.
Clique para baixar arquivoRaimundo de Holanda é jornalista de Manaus. Passou pelo "O Jornal", "Jornal do Commercio", "A Notícia", "O Estado do Amazonas" e outros veículos de comunicação do Amazonas. Foi correspondente substituto do "Jornal do Brasil" em meados dos anos 80. Tem formação superior em Gestão Pública. Atualmente escreve a coluna Bastidores no Portal que leva seu nome.