Com fala desta quinta-feira, Barroso alimenta dissenso e tonifica discurso de Bolsonaro
A fala do ministro Luiz Roberto Barroso nesta quinta-feira, em defesa das urnas eletrônicas e do TSE aumentou o "dissenso” e é reveladora de que ninguém está disposto a construir pontes para salvar a democracia. E mais que isso: que Bolsonaro, com toda sua falta de tato e precária inteligência, sabe mexer com as emoções daqueles que elegeu como inimigos de seu governo.
Barroso não defendeu apenas a Corte Eleitoral, como aliás era seu dever, mas também fez criticas ao governo, entrando pela economia e pela politica, o que não é sua área.
Por tabela, atingiu os que seguem o presidente - e não são poucos : "Hoje em dia, salvo os fanáticos (que são cegos pelo radicalismo) e os mercenários (que são cegos pela monetização da mentira), todas as pessoas de bem sabem que não houve fraude (nas eleições de 2018) e quem é o farsante nessa história."
De fato, não houve fraude porque Bolsonaro, que alega a fraude, foi eleito. Mas precisava ofender ? Nivelar-se ao presidente é aumentar o grau de temperatura que já está muito alto e em ponto de ebulição no País.
Com esse discurso generalista Barroso alimenta o radicalismo que sustenta a popularidade e tonifica as idéias fascistas pregadas por um presidente que, admitam ou não os comentaristas de plantão, começam a se espalhar como vírus no tecido social.
O que está no subconsciente popular não é a inflação que assusta, o preço da gasolina ou do pão. É sua causa, que Bolsonaro atribui a outros atores, entre eles o Supremo Tribunal Federal. Alguém já detectou isso e o risco que representa diante de um contagiante e crescente apoio a um presidente que mente?
Outra coisa pouco edificante neste momento. Falar do voto impresso, como fez Barroso, foi um erro, pois o assunto está superado e diz respeito a um outro Poder, que já deliberou sobre o tema.
Boisonaro o mantém no discurso porque não consegue disfarçar suas segundas intenções: provocar Barroso.
Está certo o ministro ao defender a Justiça Eleitoral, sob constante ataques do presidente.Mas errou no tom. E errou feio. Deu a Bolsonaro a oportunidade de, novamente, falar sobre um tema superado. Mas que o TSE (nem a oposição) parece disposto a deixar ser enterrado.
Raimundo de Holanda é jornalista de Manaus. Passou pelo "O Jornal", "Jornal do Commercio", "A Notícia", "O Estado do Amazonas" e outros veículos de comunicação do Amazonas. Foi correspondente substituto do "Jornal do Brasil" em meados dos anos 80. Tem formação superior em Gestão Pública. Atualmente escreve a coluna Bastidores no Portal que leva seu nome.