Bolsonaro com malas prontas para vir a Manaus, mas teme protestos
- Nada mais oportuno do que visitar a cidade mais amazônica de todas, forjada no centro da floresta. Bolsonaro, que não é bobo, se vier vai aproveitar a oportunidade para se declarar o mais amazônico de todos os presidentes.
O presidente Bolsonaro está em dúvida se mantém sua visita a Manaus nesta sexta-feira. Os motivos da indecisão são as pesquisas que apontam uma queda de popularidade e o receio de fortes manifestações contra a sua presença. Mas na pauta, não cancelada pelo governo do Amazonas até a publicação da coluna, está a inauguração de uma das fases do centro de convenções Vasco Vasques.
Nada mais pueril e sem importância para um chefe de Estado. Nada mais irrelevante para o Amazonas, mas Bolsonaro sabe que a visita pode gerar um fato politico positivo em um momento no qual tenta mostrar ao mundo sua preocupação com a Amazônia. E vem a calhar o seu suspeito interesse pela região, manifestado nesta quinta-feira, durante a cúpula de líderes mundiais sobre o clima.
Nada mais oportuno do que visitar a cidade mais amazônica de todas, forjada no centro da floresta. Bolsonaro, que não é bobo, se vier vai aproveitar a oportunidade para se declarar o mais amazônico de todos os presidentes.
Não foi à-toa a ideia de uma proposta inesperada, com o carimbo de Brasilia, da Assembleia Legislativa conceder o titulo de cidadão do Amazonas ao presidente, colocada de supetão para os deputados votarem e aprovarem.
Bolsonaro, caso confirmada sua presença - um dos inconvenientes do jornalismo de opinião é as coisas mudarem - não a opinião - de uma hora para outra - é essa: as coisas acontecem à revelia das expectativas - será cobrado pelo descuido de seu governo com a população da cidade que perdeu 13 mil de seus cidadãos para a Covid 19, pelos parentes dos que morreram por asfixia nas unidades hospitalares, pelos que ficaram no momento mais crucial sem o auxilio emergencial e tiveram fome.
Mas, convenhamos, Bolsonaro é o presidente do Brasil e assim deve ser tratado. Se não dá para aplaudi-lo, vamos respeitar ao menos o fato de ele, bem ou mal, representar o país. E os amazonenses sabem ser respeitosos, ainda que feridos e magoados com seu governo.
Raimundo de Holanda é jornalista de Manaus. Passou pelo "O Jornal", "Jornal do Commercio", "A Notícia", "O Estado do Amazonas" e outros veículos de comunicação do Amazonas. Foi correspondente substituto do "Jornal do Brasil" em meados dos anos 80. Tem formação superior em Gestão Pública. Atualmente escreve a coluna Bastidores no Portal que leva seu nome.