2020, quando a meia noite passar nada vai mudar
- Pela primeira vez estou com medo da meia noite. O que nos espera no raiar do novo dia? Muda o calendário, mas não muda a tragédia
2020 foi ano da desesperança, da luta contra a ciência, o ano da descoberta de que fizemos escolhas equivocadas e pelas quais pagamos um alto preço. Pela primeira vez não teremos o que comemorar e o futuro nunca foi tão incerto. Na luta contra um vírus mortal apanhamos de goleada - são cerca de 200 mil mortes - provocadas principalmente por um capitão sem estratégia de luta, que pode bater em retirada quando esse número dobrar e nunca mais ouviremos falar nele.
Nesse dia selaremos a paz com a ciência, nossas famílias voltarão a ter alegria e esperança, mas ficarão as perdas e as lagrimas choradas pelos que partiram - pais, mães, amigos irmãos, filhos.
Pela primeira vez estou com medo da meia noite. O que nos espera no raiar do novo dia? Muda o calendário, mas não muda a tragédia, não tira os conteiners das portas dos hospitais para refrigerar corpos vítimas da pandemia.
Estaremos em um deles um dia ? É possível. Se Bolsonaro não deixar de lutar contra a ciência, se as pessoas de um modo geral não forem mais conscientes de que a vida nunca esteve por um fio, que estamos mais frágeis agora, que o futuro para ser construído não depende apenas de nossos sonhos, depende do que fazemos hoje. E o que vamos fazer hoje ? Vamos lutar contra tudo o que está aí, que é nossa responsabilidade. Vamos lutar contra os nossos erros, as nossas escolhas equivocadas. Neste momento a ciência tem que prevalecer ou todos morreremos.
Raimundo de Holanda é jornalista de Manaus. Passou pelo "O Jornal", "Jornal do Commercio", "A Notícia", "O Estado do Amazonas" e outros veículos de comunicação do Amazonas. Foi correspondente substituto do "Jornal do Brasil" em meados dos anos 80. Tem formação superior em Gestão Pública. Atualmente escreve a coluna Bastidores no Portal que leva seu nome.