A 11ª e última namorada, sedutora e determinada
Uma entrega que começava ali, nos detalhes de corpos que se abraçavam e trocavam as primeiras energias, e mais tarde explodiam em encontros furtivos, protegidos por paredes com figuras eróticas e luzes de neon. Um tempo em que nada era explicito, que a paquera – hoje limitada ou proibida – era o início de tudo. Que a mulher não era aquela “dona”, era a namorada, ou a futura namorada...
As pessoas costumam romantizar relações nem sempre duradouras. Um nome tatuado no braço daquela mulher em momento de entrega absoluta transforma-se mais tarde num grande problema, marca de promessas não cumpridas, um sonho que virou pesadelo. Isso porque o amor – esse amor de homem e mulher é tão abstrato que se esgota com o tempo, ou se dilui pelo cansaço.
Sou de um tempo em que as relações eram construídas passo a passo e, no final, se mostravam mais duradouras e capazes de enfrentar os desafios que a vida impõe.
Um tempo que nada era explicito, que a paquera – hoje limitada ou proibida – era o início de tudo. Que a mulher não era aquela “dona”, era a namorada, ou a futura namorada.
Um tempo no qual o assédio não tinha a conotação de hoje. Era o olhar, o encontro de mãos, o toque atrevido no dorso acima das coxas durante a dança. Uma entrega que começava ali, nos detalhes de corpos que se abraçavam e trocavam as primeiras energias, e mais tarde explodiam em encontros cercados de paredes com figuras eróticas e luzes de neon.
Quem não lembra da primeira vez, lembra da 11a primeira vez. A vez que ficou, da troca de energia que produziu luz, que gerou novas vidas, que deu início a um lar, que nos fez construir pontes para os filhos que geramos.
Neste dia dos Namorados quero deixar aqui a minha história, a história que ficou, a da 11a primeira vez. Da última vez... Ou da vez definitiva...
Eu fui literalmente abduzido. Ela era bem mais jovem... Quando a porta da sala onde eu estava se abriu, a vi apoiada em uma grade, lábios pintados de vermelho e um sorriso que me puxava para um mundo que eu queria evitar. Um olhar penetrante e sedutor fez o sangue explodir e chegar as partes mais íntimas. Senti o mundo crescer e minha autoestima aumentar.
A verdade é que, sem perceber, eu estava sendo devorado e temia ser mastigado até os ossos. Desviei o olhar e segui. Ela, com uma voz rouca, pediu que eu esperasse. Mas apressei os passos, fugindo como uma presa prestes a ser totalmente dominada.
O tempo passou. Ela utilizou de todos os mecanismos possíveis para chamar minha atenção, se jogou na frente do meu carro, se atirou de cima de um telhado dentro da casa onde eu morava. Era determinada. Não desistiu e eu não resisti.
Houve três fases de conquista. Na primeira, era a mulher forte e determinada. Depois, dissimulada e frágil , tão frágil que eu a acolhia nos braços como quem acolhe uma criança. A terceira fase é a atual: determinada, dominadora, senhora de tudo. Estou literalmente encarcerado. Mas gosto. É a paixão...
Raimundo de Holanda é jornalista de Manaus. Passou pelo "O Jornal", "Jornal do Commercio", "A Notícia", "O Estado do Amazonas" e outros veículos de comunicação do Amazonas. Foi correspondente substituto do "Jornal do Brasil" em meados dos anos 80. Tem formação superior em Gestão Pública. Atualmente escreve a coluna Bastidores no Portal que leva seu nome.