Compartilhe este texto

O 'apocalipse zumbi' chegou ao espaço e intriga astrônomos

Por Portal Do Holanda

12/11/2017 1h17 — em


Foto: Reprodução

RIO – Uma estrela “zumbi” está desafiando as teorias atuais sobre a evolução e “morte” desses astros e deixando os astrônomos intrigados. Designada iPTF14hls, a estrela, localizada em uma galáxia relativamente próxima à nossa, a cerca de 508 milhões de anos-luz de distãncia da Terra, aparentemente explodiu em um fenômeno conhecido como supernova múltiplas vezes nas últimas décadas, quando deveria ter sido destruída já no primeiro desses poderosos eventos astronômicos.

A iPTF14hls chamou a atenção dos astrônomos em setembro de 2014, quando sua explosão em uma supernova foi detectada pelo projeto intermediate Palomar Transient Factory (iPTF), um levantamento automatizado do céu que usa uma câmera de campo amplo instalada em um dos telescópios do Observatório de Palomar, nos EUA, para identificar justamente estes tipos de fenômenos astronômicos transitórios. Usando um sistema de análise também automatizado, a supernova foi logo classificada como de um tipo conhecido como II-P e tudo sobre ela parecia “normal”.

Alguns meses depois, no entanto, a iPTF14hls começou a aumentar de brilho outra vez. Em geral, supernovas como essa atingem seu pico de brilho logo nos primeiros dias e lentamente esvanecer, sumindo em cerca de cem dias. A iPTF14hls, porém, aumentou e diminuiu de brilho pelos menos cinco vezes ao longo de aproximadamente 600 dias depois da explosão detectada em 2014. E mais: ao vasculharem dados de arquivo, os astrônomos encontraram sinais de outra supernova no mesmo local registrada em 1954, numa indicação de que a estrela já teria explodido então e inexplicavelmente sobrevivido para explodir novamente 50 anos depois.

- Esta supernova rompe tudo que pensávamos saber sobre como elas funcionam – comenta Iair Arcavi, integrante do projeto Nasa Einstein que faz seu pós-doutorado no Observatório de Las Cumbres (LCO), que administra uma rede global de telescópios robóticos para pesquisas astronômicas, e líder do estudo sobre o estranho fenômeno da estrela “zumbi”, publicado nesta quarta-feira na revista científica “Nature”. - É o maior quebra-cabeças que já encontrei em mais de uma década estudando explosões estelares.

Os astrônomos calculam que a estrela que explodiu tinha pelos menos 50 vezes a massa do Sol, e provavelmente era muito maior que nossa estrela, o que faria da iPTF14hls uma das mais maciças explosões estelares já observadas. E talvez esteja justamente no tamanho desta explosão a explicação para seu comportamento incomum que desafia nossa compreensão sobre estes fenômenos.

Segundo os astrônomos, a iPTF14hls pode ser o primeiro exemplo registrado do que chamam de “supernova pulsátil de par instável”. Esta teoria diz que estrelas muito maciças ficam com o núcleo tão quente que a energia é convertida em matéria e antimatéria. Isso produziria uma explosão que ejetaria as camadas externas da estrela, mas deixaria seu núcleo intacto, num processo que poderia se repetir ao longo de décadas até uma grande explosão final e o colapso gravitacional dos restos da estrela em um buraco negro.

- Estas explosões só eram previstas de acontecer no Universo primordial e deveriam estar extintas hoje – explica Andy Howell, líder do grupo de estudos de supernovas no LCO e coautor do artigo na “Nature”. - É algo como achar um dinossauro vivo hoje. Se você achasse um, questionaria se ele é mesmo um dinossauro.

E, de fato, os dados do evento não apoiam totalmente a hipótese da “supernova pulsátil de par instável”. A energia liberada pela explosão, por exemplo, parece ser muito maior do que a prevista nesta teoria, o que faria dela um fenômeno completamente novo para a ciência. O grupo de supernovas do LCO continua a monitorar a iPTF14hls, que permanece brilhando mesmo cerca de três anos depois da explosão.

- Este é um daqueles tipos de eventos que fazem você coçar a cabeça – resume Peter Nugent, chefe de Engajamento Científico da Divisão de Pesquisas Computacionais do Laboratório Nacional Lawrence Berkeley, nos EUA, e outro dos coautores do estudo na “Nature”. - A princípio, pensávamos que (a supernova) era algo completamente normal e tedioso. Mas aí ela continuou a brilhar mês após mês. Juntando todas as peças com nossas observações do Palomar Transient Factory, do Observatório Keck (no Havaí, que abriga dois dos maiores e mais poderosos telescópio óticos do mundo), do LCOGT e mesmo as imagens de 1954 do Levantamento do Céu de Palomar (projeto que registrou a aparente primeira explosão da estrela há mais de 50 anos), começamos a jogar uma luz sobre o que ela pode ser. Realmente gostaria de encontrar outra supernova como essa.

Fonte: O Globo.


Siga-nos no
O Portal do Holanda foi fundado em 14 de novembro de 2005. Primeiramente com uma coluna, que levou o nome de seu fundador, o jornalista Raimundo de Holanda. Depois passou para Blog do Holanda e por último Portal do Holanda. Foi um dos primeiros sítios de internet no Estado do Amazonas. É auditado pelo IVC e ComScore.

ASSUNTOS: Astrônomos

+