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Matuê, no Rock in Rio, mostra por que se destaca no trap com show reflexivo

Por Folha de São Paulo

13/09/2024 18h45 — em
Arte e Cultura



RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) - Ídolo do trap nacional, Matuê mostrou que tem tamanho para ocupar o palco Mundo, o maior do Rock in Rio. Pelo menos em um dia todo dedicado ao ritmo que ele defende na música brasileira -no caso desta sexta-feira (13), encabeçado pelo americano Travis Scott.

Matuê foi a primeira atração do principal palco no primeiro dia do festival carioca na edição deste ano. Ele reuniu uma multidão impressionante para o horário, perto das 17h, dois anos depois de estrear no Rock in Rio -naquela ocasião, no palco Sunset.

Desta vez, o show foi menos quente do que na passagem anterior pelo festival. Em 2022, Matuê levou skatistas ao palco e cantou hits para uma plateia que praticamente não parou de fazer rodinhas de bate-cabeça. Agora, trouxe um disco novíssimo ao palco.

Lançado nesta semana, "333", segundo álbum completo do rapper, é mais cadenciado e absorto que a obra anterior dele. É também um trabalho sonoramente mais diverso, em que o MC toma mais riscos, e ainda não é totalmente conhecido pela maioria do público.

Entre as novas, estiveram "Crack com Mussilon", "Isso é Sério" -esta, com a presença do rapper Brandão85 no palco-, "Castlevania", "Maria", "O Som" e "333". As letras marcam um amadurecimento no discurso hedonista que o consagrou -em alguns momentos, ele lida com demônios e inseguranças.

Hitmaker do trap nacional, Matuê causou alvoroço com suas faixas mais conhecidas, caso de "Anos Luz", um de seus primeiros sucessos. Brincou que não podia acender -a considerar pelas letras- um baseado no palco antes de puxar "Quer Voar", recebida com pulos e mãos no alto.

As rodas de bate-cabeça estiveram lá, na própria "Quer Voar", em "Máquina do Tempo", "Vampiro" -em que recebeu os rappers Teto e Wiu, de sua gravadora- e "777-666". Esta última encerrou o show, com labaredas de fogo no palco.

No Rock in Rio, Matuê mostrou de novo por que se destaca no cenário do trap brasileiro. Ele canta com banda, não apenas com DJ, o que encorpa sua sonoridade para além das batidas eletrônicas, e domina como poucos o AutoTune. Em "O Som", essencialmente um rock, ele tocou guitarra.

Se ainda é cedo para saber se o novo disco pegou com o público, ele certamente marca um novo momento na carreira de Matuê. O rapper afirmou que o álbum se insere numa "jornada de crescimento e musicalidade", e disse que este é "um dos dias mais felizes" de sua vida antes de puxar "333", das mais reflexivas do trabalho.

Mais sereno do que é costume para o rapper, o show fez justiça a essa nova era artística. De certa forma, ela marca a humanização de um ícone que sempre mostrou uma persona intocável, acima das críticas, mais descolado e desejado que seus pares.

Foi a apresentação em grande escala de um Matuê que tira onda, mas também lida com as consequências do sucesso -ou, como canta em "1993", com as armadilhas do ego.


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