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Incêndio atinge depósito da Cinemateca Brasileira na zona oeste de São Paulo

Por Folha de São Paulo

29/07/2021 20h07 — em
Arte e Cultura



SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Um incêndio, já controlado, atingiu um depósito da Cinemateca Brasileira, na zona oeste de São Paulo, na noite desta quinta-feira (29). O prédio fica localizado na rua Othão, número 290, na Vila Leopoldina, e, segundo o Corpo de Bombeiros, não há vítimas.

O incêndio começou durante a manutenção, por parte de uma empresa terceirizada, no ar condiciado de uma sala no primeiro andar do imóvel. Ela e outra sala adjacente, que abrigam o acervo histórico de filmes da entidade, foram atingidas, bem como um terceiro ambiente dedicado a arquivos impressos.

Segundo a capitã Karina Paula Moreira, do Corpo de Bombeiros, estima-se que 400 m2 foram tomados pelas chamas, com labaredas que atingiram seis metros de altura. Ela também afirma que não há como saber, por enquanto, o que foi queimado e o que foi preservado.

O prédio em questão não é a sede principal da Cinemateca, que fica na Vila Clementino, na zona sul da capital paulista. Mas o depósito atingido pelas chamas também abriga parte importante de seu acervo, como filmes de 35 mm e 16 mm, feitos de material altamente inflamável. Eles seriam cópias para exibição, não os rolos originais, que ficam em outro local.

Além deles, também ficam guardados ali o acervo da Programadora Brasil —iniciativa do antigo Ministério da Cultura para exibição de conteúdo em circuitos não comerciais—, equipamentos museológicos, como projetores antigos, e documentos, incluindo quatro toneladas de arquivos sobre políticas públicas para o audiovisual, recentemente transferidas do Rio de Janeiro.

As ruas nos arredores do imóvel foram interditadas e havia muita fumaça no local. Bombeiros chegaram a escalaram o teto do edifício para controlar as chamas. Esta é a quinta vez que a entidade enfrenta um incêndio —situação semelhante já havia ocorrido em 1957, 1969, 1982 e 2016. No ano passado, esse mesmo prédio foi atingido por uma enchente que danificou 113 mil cópias de DVDs.

O governador do Estado de São Paulo, João Doria, se manifestou sobre o ocorrido em suas redes sociais. "O incêndio na Cinemateca de São Paulo é um crime com a cultura do país. Desprezo pela arte e pela memória do Brasil dá nisso: a morte gradual da cultura nacional", escreveu.

Paloma Rocha, cineasta e filha de Glauber Rocha, que acompanha a situação da Cinemateca há anos, diz que essa é uma tragédia anunciada, já que a entidade estava sem técnicos monitorando seu acervo há pelo menos um ano, quando o governo federal demitiu funcionários dali após o fim do contrato de gestão que mantinha com a Acerp, a Associação de Comunicação Educativa Roquette Pinto.

"Isso está acontecendo desde que esse governo, que pensa que a Terra é plana, fechou o Ministério da Cultura, vilipendiou o dinheiro do Fundo Setorial do Audiovisual e deixou artistas e cineastas na míngua. Esses cafajestes não dão dinheiro para a Cinemateca, mas conseguem dinheiro para comprar Covaxin. É uma zona", diz ela, que explicou que a obra de seu pai não está no galpão que pegou fogo.​

Nas redes sociais, internautas têm cobrado um posicionamento de Regina Duarte, ex-secretária da Cultura de Jair Bolsonaro, que deixou o cargo com a promessa do presidente de que assumiria a direção da Cinemateca. A única publicação dela nas redes, até as primeiras horas do incêndio, foi uma resposta a uma homenagem feita por um fã-clube. Mario Frias, atual ocupante do cargo deixado pela atriz, tampouco se pronunciou.

Principal instituição de preservação do audiovisual brasileiro, a Cinemateca está no meio de um imbróglio envolvendo o governo federal que se arrasta há anos e que se agravou nos últimos meses.

O contrato que o governo tinha com a Acerp, para administrar do local se encerrou em 2019 e, depois disso, funcionários foram demitidos e contas ficaram em atraso —incluindo aí as de prestadoras de serviços de segurança e de manutenção do imóvel.

Em julho do ano passado, o Ministério Público Federal ajuizou uma ação civil contra a União devido aos impasses em torno da gestão da Cinemateca. O MPF pedia, em caráter de urgência, a renovação de contrato com a Acerp até o fim de 2020.

Em janeiro deste ano, o governo federal escolheu a Sociedade Amigos da Cinemateca para assumir a gestão em caráter emergencial. Em maio, a Justiça Federal deu um prazo para que as autoridades provassem que estão trabalhando para garantir a preservação do acervo.


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