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De assassinato de tradutores a queima de livros, por que Irã persegue Salman Rushdie

Por Folha de São Paulo

12/08/2022 14h37 — em
Arte e Cultura



SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Esfaqueado nesta sexta-feira (12) quando se preparava para dar uma palestra numa organização beneficente em Nova York, o escritor anglo-indiano Salman Rushdie é perseguido e ameaçado há décadas por autoridades iranianas desde em 1988, quando publicou "Os Versos Satânicos", livro que foi considerado ofensivo a Maomé e à fé islâmica.

Segundo a polícia nova-iorquina, o suspeito de atacar o escritor foi detido e ainda não há detalhes sobre sua identidade ou motivações. Não se descarta, porém, a possibilidade de que o atentado tenha sido feito em razão de "Os Versos Satânicos". Isso porque coincidência ou não, várias pessoas associadas ao livro já foram vítimas de ataques.

Queimada em praça pública em vários países islâmicos, a obra fez com que seu autor, editores e tradutores recebessem sentença de morte em 1989. Na época, o aiatolá Khomeini, dirigente do Irã, ofereceu US$ 2 milhões como recompensa a quem os matasse.

Diante das ameaças, Rushdie passou a viver recluso sob a proteção da polícia britânica. E pouco depois da mudança, recebeu o envio de um livro-bomba, num hotel em Londres. A bomba acabou explodindo antes do planejado, matando o próprio autor do atentado, que foi sepultado como "o primeiro mártir a morrer em uma missão para matar Salman Rushdie".

Em 1991, Hitoshi Igarashi, tradutor do livro no Japão, foi assassinado a facadas. Dias depois, o tradutor italiano Ettore Caprioli foi ferido, também com uma faca.

Dois anos depois, o editor turco Aziz Nesin, que havia publicado extratos do livro num jornal, foi atacado por extremistas islâmicos, que o encurralaram num hotel e incendiaram o prédio. O fogo matou 37 pessoas, mas Nesin sobreviveu.

Ainda em 1993, o tradutor norueguês William Nygaar sofreu um ataque, em que levou três tiros e ficou gravemente ferido.

Nunca foi provado o envolvimento do Irã nas ações. Em 1995, Rushdie faz sua primeira aparição pública, em Londres, desde a "fatwa" —um decreto religioso, no caso, a que ordenou a morte de Rushdie por blasfêmia a Maomé. Na época estimou-se que o governo britânico já teria gasto mais de US$ 7,5 milhões para proteger o escritor.

Apesar de oficialmente a fatwa já ter sido dita como encerrada em 1998 pelo ex-presidente iraniano Mohammad Khatami, na prática, a perseguição nunca parou.

No Brasil, "Os Versos Satânicos" foi publicado pela primeira vez em 1998 pela Companhia das Letras, editora que segue com os direitos da obra. Na época, a Companhia das Letras afirmou a este jornal que não recebeu nenhuma ameaça.


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