Criador do Rock in Rio defende artistas brasileiros e sertanejos em seu festival
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Para comemorar as quatro décadas do Rock in Rio, Roberto Medina quer desmistificar crenças que se formaram em torno de seu festival, entre elas a de que o evento foi criado para ter apenas shows de rock e a de que não há espaço de destaque para artistas brasileiros, diz o empresário.
"O rock representava um comportamento transgressor para a minha geração. Não se restringia a um gênero musical", ele afirma, por videoconferência, de seu escritório no Parque Olímpico, na zona Oeste do Rio de Janeiro, que até o fim da próxima semana é chamado pelos cariocas de Cidade do Rock.
Medina diz que a primeira edição do Rock in Rio, em 1988 --três anos após o fim da ditadura militar--, simbolicamente marcou o fim da repressão e a retomada da liberdade de os artistas dizerem, em alto e bom som, tudo o que pensavam sobre o país sem sofrerem perseguição.
O evento aconteceu às vésperas da eleição de Tancredo Neves, o primeiro presidente eleito de forma democrática em décadas. Para toda a geração de Medina, ir às urnas era uma prática inédita --à época, o empresário tinha 41 anos, e havia convivido com a ditadura desde os 17.
Cazuza, ele lembra, imprimiu essa sensação ao show do Barão Vermelho, quando terminou de cantar "Pro Dia Nascer Feliz" desejando "um Brasil novo, com uma rapaziada esperta".
"Além da qualidade logística que eu queria com o evento, tinha um aspecto político muito forte. Era a oportunidade de colocarmos o selo da redemocratização na música", afirma Medina, que veria seu festival ter ainda muitas manifestações políticas, a mais forte delas talvez na última edição, às vésperas do pleito que levou Lula de volta ao palácio do Planalto, em derrota de Jair Bolsonaro.
É verdade que, conforme o tempo passou, foi aberto um espaço cada vez maior para outros gêneros musicais, mas já na primeira edição, diz Medina, havia um line-up que fazia cair por terra o discurso de que o festival era feito só para o rock.
Nomes como Alceu Valença, Gilberto Gil e Ivan Lins tocaram com roqueiros brasileiros, como Erasmo Carlos e Barão Vermelho, e os estrangeiros, a exemplo de AC/DC, George Benson, Iron Maiden, James Taylor e Queen, com Freddie Mercury.
O empresário diz que sua maior expectativa para esta nova edição do Rock in Rio é o Dia Brasil. Será no segundo sábado do festival, no dia 21, quando o festival, com exceção de uma participação de Will Smith com seu rap, só terá apresentações de artistas brasileiros, em todos os seis palcos.
Os shows serão temáticos e vão reunir os principais astros de cada gênero musical. O de rock, por exemplo, vai contar com a presença de Capital Inicial, Detonautas, NX Zero, Pitty, Rogério Flausino e Toni Garrido.
Um dos shows que mais o anima, ele conta, é o de sertanejo, que vai reunir Chitãozinho & Xororó, Ana Castela, Luan Santana, Simone Mendes e Júnior Lima, marcando a estreia do gênero musical mais ouvido do país no festival. "Eu estava engastado por não termos o sertanejo, e este é o primeiro passo para sua entrada no Rock in Rio. Cada vez mais o sertanejo se aproxima do pop, e qualquer preconceito musical é equivocado", diz.
O Dia Brasil, no entanto, está entre as três datas para as quais o festival ainda tem ingressos disponíveis. Isso pode refletir uma dicotomia do comportamento do público, que ao mesmo tempo em que cobra mais brasileiros nos palcos, preferem ir ao festival nos dias em que há uma grande atração internacional.
Este ano, vão se apresentar Imagine Dragons, neste sábado, Avenged Sevenfold, no domingo, Ed Sheeran, na quinta-feira, dia 19, Katy Perry, na sexta, dia 20, e Shawn Mendes, encerrando o evento, no domingo, dia 22.
Mas Medina, esperançoso, cita pesquisas que apontam o brasileiro como o povo que mais escuta sua própria música no mundo todo e diz que, quando o público assistir aos shows do Dia Brasil, seja presencialmente, seja na televisão, ficará mais empolgado para as próximas edições.
"É mais fácil vender ingresso quando você contrata um artista internacional, que ninguém pode ver no resto do ano, e põe de headliner. O Dia Brasil é um formato que as pessoas ainda não conhecem, mas quero que seja permanente. Cada artista vai subir ao palco e cantar 20 minutos só de hits. Não tem como não gostar", diz.
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