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Pesquisa revela desaparecimento de peixes no Rio Uatumã, na área de Balbina e Pitinga

Por Portal Do Holanda

23/01/2025 15h59 — em
Amazonas


Foto: Leandro Souza/Inpa

 

Após 35 anos da construção das Usinas Hidrelétricas de Balbina e Pitinga, no município de Presidente Figueiredo,  peixes endêmicos do Rio Uatumã desapareceram, conforme demonstrou estudo liderado pela pesquisadora Lúcia Rapp Py-Daniel, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI), pelo pós-doutorando Douglas Bastos e outros pesquisadores da Universidade do Estado do Amazonas (UEA) e da Universidade Federal do Pará (UFPA).

O projeto, que visa entender esse cenário, é financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam), tem como título “Peixes reofílicos do rio Uatumã: avaliando o status de conservação após 35 anos da construção das UHEs Balbina e Pitinga, Amazonas, Brasil”.

A proposta da pesquisa é avaliar a permanência de sete espécies endêmicas originalmente descritas apenas do Rio Uatumã, um dos principais afluentes da margem esquerda do Rio Amazonas, cuja biodiversidade foi afetada pela construção das usinas.

Os primeiros resultados de campo indicaram que as espécies ameaçadas de extinção, descritas antes da construção das barragens, não foram mais encontradas na região.

Um dos peixes é o Badi (Mylesinus schomburgkii), uma espécie de pacu reofílico, de fácil reconhecimento e muito abundante nas cachoeiras do Uatumã na década de 80.

O pesquisador Douglas Bastos explica que a maioria dos peixes reofílicos — que habita exclusivamente cachoeiras e trechos de águas rápidas — do rio Uatumã é conhecida apenas por material-tipo, coletado durante o inventário das UHEs.

Na primeira expedição ao Rio Uatumã, ocorrida em novembro de 2023, realizada abaixo da UHE de Balbina, a equipe coletou 945 exemplares, resultando em 247 amostras de tecidos e 170 lotes depositados na Coleção de Peixes do Inpa.

Mas após cinco dias de trabalho intenso e 20 horas de mergulho autônomo, as espécies esperadas não foram encontradas, levantando preocupações sobre o impacto significativo das UHEs na biodiversidade aquática local.

O impacto causado pelo ambiente alterado de um lugar de correnteza para um lago é muito forte nas espécies que vivem nessas áreas, explica a coordenadora do projeto, pesquisadora Lúcia Rapp Py-Daniel.

Na segunda fase do projeto, realizada em outubro de 2024, as buscas foram concentradas em habitats de cachoeiras que ainda não foram impactadas por hidrelétricas, como o Rio Abacate e Rio Jatapu, afluentes de grande porte do Rio Uatumã, que apresentam ambientes similares ao Uatumã. Nesse ambiente mais saudável, com grande diversidade de organismos aquáticos, foi possível encontrar espécies de peixes reofílicos, que haviam sido capturadas em Balbina na década de 80, como o sarapó (Apteronorus lindalvae) e uma espécie de bodó (Harttia uatumensis).

Uma novidade das expedições é a descoberta de novas espécies da ictiofauna da bacia do rio Uatumã. Até o momento, foram coletadas 10 a 15 espécies potencialmente novas, sendo cinco no rio Uatumã e dez no rio Jatapu. Além dos registros de pelo menos duas espécies de peixes que ainda não tinham ocorrência conhecida para a bacia do Uatumã.

Os pesquisadores responsáveis pelo projeto, que continua em andamento, são Lucia Rapp Py-Daniel, Douglas Bastos, Leandro Sousa, Jansen Zuanon, Marcelo Rocha, Valéria Machado, William Ohara, Valdenor Magalhães, Diana Kohler, Lucas Gama e Thiago Bueno.


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