Garimpo volta a avançar em terras yanomami e indígenas sofrem com a fome
Manaus/AM - O garimpo voltou a avançar com força total nas terras Yanomami de Roraima, que faz fronteira com a Venezuela, propagando a fome, a desnutrição e a destruição dos rios no território.
Durante um voo da comitiva de ministros de Lula sobre Roraima, na região de Auaris, uma série de irregularidades foram encontradas sem nenhum pudor por parte daqueles que fomentam a exploração ilegal de ouro na área indígena.
Segundo uma publicação da Folha de São Paulo, que acompanhou a visita da comitiva a Roraima, do alto, foi possível ver pistas de pousos abertas em meio à mata com fila de aviões usados para abastecer os garimpos e transportar o minério ilegal. O governo até cogitou destruí-los, mas descobriu que eles estão em território venezuelano, para onde continuam avançando mata adentro.
Também foram observados os rios, antes límpidos e considerados fontes de água potável, que viraram um mar de mercúrio e outras substâncias altamente tóxicas e cancerígenas.
Na região de Homoxi, em Xitei, a movimentação de aviões é grande e os indígenas são obrigados a ver suas casas sendo destruídas por garimpeiros e criminosos.
O resultado é a falta de alimentos, desnutrição, doenças e devastação dos yanomamis. Na região de Auaris, essa realidade é ainda mais evidente, já que quase 7 mil indígenas foram diagnosticados com malária em 2023.
Além disso, crianças estão sendo internadas com quadro de desnutrição grave e malária. Em meio a tudo isso, avaliação dos profissionais de saúde também chegou a conclusão de que em decorrência de todas as dificuldades impostas pelo garimpo ilegal, os indígenas perderam o hábito e as condições do plantio, da roça, e agora dependem da doação de cestas básicas.
Por conta da contaminação dos rios, também já não é mais possível pescar, e na caça, os animais também estão morrendo nas florestas e têm se tornado escassos.
A Casa de Saúde Indígena Yanomami, em Boa Vista (RR), que antes abrigava temporariamente os nativos, agora se tornou uma espécie de hospital e atende pessoas que chegam em quadro complicado.
O local está superlotado e já não está conseguindo dar conta de tantas pessoas. Há promessas de medidas emergenciais para amenizar a situação do Casai, mas elas ainda não se concretizaram por parte do governo.
Enquanto isso, a crise humanitária se agrava cada vez mais rápida e mais mortal. Em 2023, 308 yanomamis morreram, mais da metade deles eram crianças com menos de 4 anos. Elas morreram de malária, desnutrição, pneumonia e outras mazelas fruto do garimpo ilegal.
Para tentar contornar a situação, na última terça-feira (9), o presidente Lula realizou uma reunião com os ministros e determinou a criação de uma “casa de governo”, com a atuação da Polícia Federal e Forças Armadas na defesa da terra yanomami.
No local serão montadas três bases de vigilância. Os agentes também devem atuar na expulsão de invasores e de criminosos que atuam a serviço dos donos de garimpos.
O governo pretende investir cerca de R$ 1,2 bilhão para fazer a casa de governo funcionar e ser atuante no combate aos invasores.
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