Covid: Médico atribui 2ª onda em Manaus a nova cepa e irresponsabilidade
Manaus/AM - "Foi um engano". Assim o médico infectologista Nelson Barbosa da Silva resume um dos fatores que contribuíram para o aumento vertiginoso de casos e mortes por Covid-19 em Manaus - a sensação de que a pandemia havia passado. Com a liberação do comércio, a realização de campanhas eleitorais e as festas de fim de ano, criou-se o cenário propício para a disseminação da nova cepa do coronavírus. O aumento de casos graves na capital já é associada por especialistas à nova vertente.
Nesta entrevista, Barbosa aborda esse novo cenário dentro da pandemia e seus reflexos na crise no sistema de saúde do Amazonas, como a falta de oxigênio para pacientes, além da esperança trazida pelo início da campanha de imunização.
1) Como está a situação no fornecimento de oxigênio e atendimento no 28 de Agosto? Em quanto tempo o senhor acredita que o fornecimento será regularizado?
Temos oxigênio no 28 de Agosto, mas fomos orientados a racionar sem prejudicar os pacientes, e sim evitar ao máximo o desperdício. Enquanto médico, não posso dar informações sobre a regularização no fornecimento de oxigênio. Isso é atribuição dos gestores.
2) Qual foi o dia mais difícil da crise no fornecimento do insumo ao hospital? Pode fazer um breve relato da experiência?
O dia mais difícil foi na quinta-feira (14). Na quarta, ficamos sabendo que iria faltar oxigênio e começamos a fazer manobras em pacientes para reduzir a demanda por oxigênio, sem prejudicar a parte respiratória do paciente.
3) Pesquisadores atribuem o aumento do número de casos graves e óbitos à cepa do coronavírus que surgiu no Amazonas, que teria maior capacidade de contágio e infecção. Qual sua opinião sobre essa tese?
O aumento do número de casos deve-se à nova cepa do coronavírus que surgiu no Amazonas. Mas temos que lembrar que, após a liberação (do comércio), tivemos eventos que facilitaram a aglomeração de pessoas, como a campanha eleitoral, Natal e Ano Novo, além das festas clandestinas. A população achava que o coronavírus tinha passado, e foi um engano.
4) Diante desse contexto de risco, quais as orientações que a população deve seguir?
Diante da atual situação, as únicas armas são as medidas de proteção, uso de máscara, sair de casa de for extremamente necessário. O ideal é ter o isolamento social e uso de álcool em gel a 70%.
5) Órgãos oficiais divulgaram, recentemente, a ocorrência de reinfecções pelo novo coronavírus no Amazonas. No entanto, parte da população afirma que isso já vinha ocorrendo.
A reinfecção é possível, mas os pesquisadores só podem comprová-la com exames coletados no Lacen (Laboratório Central). Por exemplo, se há registros das duas infecções comprovados pelo RTPCR. Aí os pesquisadores podem tentar fazer a leitura do genoma desse vírus. Até agora, apenas um caso de reinfecção foi esclarecida pelos pesquisadores da Fiocruz.
6) A campanha de vacinação começou nesta terça-feira (19) em Manaus. Em quanto tempo o sr. acredita que a pandemia será contida no Amazonas?
A vacinação não vai acabar com os quadros de Covid-19 de uma hora para outra. Nem toda a população vai ser vacinadas. Haverá grupos a serem vacinados, como profissionais de saúde, indígenas e pessoas acima de 70 anos de idade. Quer dizer, enquanto a vacinação chega, devemos continuar seguindo as medidas de prevenção. porque os casos de Covid-19 vão ocorrer até o final do ano.
7) Quais as medidas que devemos ter em vista para garantir o êxito da campanha de vacinação?
A primeira coisa é acreditar que a vacina vai debelar a doença. Quanto mais acreditarmos na vacina, mais chance de eliminarmos esse vírus. Nesse primeiro momento, só a vacina não vai conter o número de casos, como já falamos. Devemos continuar com as medidas de segurança para evitar que o vírus circule entre a população.
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