Com leitos lotados, pesquisador diz que Manaus vive 2ª onda de Covid-19
Manaus/AM - No último sábado (24), o nível de ocupação de leitos clínicos para Covid-19 no Delphina Aziz, referência no tratamento da doença em Manaus, chegou a 85% da capacidade, acompanhando a alta de novos casos, internações e mortes registradas desde agosto em Manaus e consolidada nos dois meses seguintes.
No estado, a lotação de leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) atingiu 94%. Para o epidemiologista da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Jesem Orellana, esses fatos são a prova definitiva de uma segunda onda de contágio e mortalidade por Covid-19 na capital. Além disso, afastam a hipótese de imunidade de rebanho natural em Manaus, sugerida por alguns agentes públicos e pesquisadores no fim de agosto.
"Resta saber por quanto tempo irá se prolongar, quantos ainda adoecerão ou morrerão e que medidas serão tomadas para conter esta nova fase da epidemia", declara Orellana.
Ele chama a atenção para a alta incidência de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG), que saltou de 5 para 12 por 100 mil habitantes de agosto para setembro, de acordo com a data do início dos primeiros sintomas. No mesmo período, as novas internações em leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) devido à Covid-19 ou SRAG não-especificada aumentou em quase 60%, de acordo com o Sistema de Informação de Vigilância Epidemiológico (SIVEP-Gripe).
Além disso, a mortalidade aumentou 136%, passando de 45 mortes, entre 09 de agosto e 22 de agosto, para 106, entre 04 e 17 de outubro, conforme o Sistema. A partir do início da flexibilização do distanciamento físico, em 1 de junho, foram registradas mais de 2 mil mortes no Amazonas causadas por Covid-19 ou por SRAG não-especificada (em Manaus, foram quase 1100 óbitos nas duas categorias).
"Em torno de 800 foram confirmadas por COVID-19, um dado que reforça a ampla subnotificação em tempos de pandemia e remonta ao dia 11 de maio, ocasião em que o Governo do Amazonas decretou luto por três dias, após o estado ultrapassar mil mortes", acrescenta Orellana.
Houve redução de testes diagnósticos padrão ouro no período posterior à reabertura das atividades econômicas. De junho a setembro, apenas 144 exames foram realizados por dia pela Fundação de Vigilância Sanitária do Amazonas (FVS-AM), embora a instituição tenha anunciado a capacidade de fazer 1200 testes/dia.
"Esse é um aspecto importante que merece reflexão, uma vez que parte da sensação de bem-estar e controle pode ser atribuída ao fato de o tamanho da epidemia estar sendo oculta pela quantidade limitada de exames", ressalta o pesquisador.
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