Bruno e Dom: MPF aponta que 'Colômbia' financiava pesca e caça ilegal no Vale do Javari
Manaus/AM - Testemunhas relataram a atuação de Rubén Dario da Silva Villar, conhecido como "Colômbia", como o suposto líder de um esquema de financiamento de pesca e caça ilegal no Vale do Javari. Os depoimentos foram colhidos nesta quinta-feira (16) em Tabatinga, Amazonas, durante a audiência de instrução e julgamento de um processo que investiga uma organização criminosa ligada a crimes ambientais na região, paralelo ao caso do assassinato do indigenista Bruno Pereira e do jornalista Dom Phillips.
A audiência da Justiça Federal teve início com a presença de dez réus, incluindo "Colômbia" e Amarildo da Costa de Oliveira, o "Pelado", ambos também acusados de envolvimento nas mortes de Bruno e Dom, desaparecidos em junho de 2022. Na parte da manhã, testemunhas de acusação do Ministério Público Federal (MPF) foram ouvidas. Uma testemunha não identificada citou "Colômbia" como o financiador das atividades criminosas dentro da Terra Indígena Vale do Javari.
Um representante da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja) confirmou o depoimento, detalhando que os peixes extraídos ilegalmente da região eram vendidos a "Colômbia", que operava na cidade vizinha de Islândia. O clima de intimidação na área foi reforçado pelo depoimento de uma servidora da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), que relatou ter sido ameaçada por pescadores em Atalaia do Norte após uma ação de fiscalização que resultou na destruição de equipamentos ilegais.
Depoimentos de defesa e continuidade da audiência
No período da tarde, foram ouvidas as testemunhas de defesa e alguns dos réus. A audiência deve prosseguir nesta sexta-feira (17), com os depoimentos de outros réus, incluindo o próprio Rubén Dario Villar, o "Colômbia". Segundo a denúncia do MPF, o réu lidera uma organização criminosa com atuação em Benjamin Constant e Atalaia do Norte, especializada em pesca, caça ilegal e tráfico de munições.
O peruano Rubén Villar, apesar do apelido "Colômbia", teve seu histórico criminal – que inclui tráfico de drogas, pesca ilegal e uso de documentos falsos – amplamente exposto após os assassinatos de Bruno Pereira e Dom Phillips. Em novembro de 2024, a Polícia Federal (PF) o indiciou como mandante do duplo homicídio, alegando que ele forneceu cartuchos para a execução, patrocinou financeiramente a ação e coordenou a ocultação dos corpos, em retaliação às fiscalizações de Bruno na área.
Bruno Pereira e Dom Phillips foram mortos a tiros e tiveram seus corpos esquartejados, queimados e enterrados em junho de 2022, quando faziam uma expedição de investigação na Amazônia. Além de "Colômbia" e "Pelado", respondem pelo crime Oseney da Costa de Oliveira ("Dos Santos") e Jefferson da Silva Lima ("Pelado da Dinha"). O caso também envolve denúncias contra outros pescadores por usarem um menor de idade na ocultação dos cadáveres, ressaltando a complexidade da rede criminosa que atua no Vale do Javari.
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