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MANAUS: Veja as fotos da manifestação contra a corrupção

Por Portal Do Holanda

13/03/2016 15h00 — em
Amazonas



As ruas de Manaus e do país voltam a ser ocupadas. Os protestos a favor do impeachment da presidente Dilma Rousseff são mais um exemplo de um novo jeito de se manifestar possível com a disseminação da internet e das redes sociais.

Em Manaus, a manifestação teve início na tarde deste domingo (13) e com concentração final na Ponta Negra. Vários grupos partindo de diferentes pontos da capital decidiram marchar em direção ao principal ponto turístico. Confira algumas imagens:

Para Massimo Di Felice, fundador do Centro de Pesquisas Atopos, da Universidade de São Paulo (USP), apesar de ser um retrato da disputa entre governo e oposição, o descontentamento vai além da desaprovação do mandato da presidente. Ele reforça o desgaste da democracia representativa parlamentar, que tem nos partidos e lideranças políticas sua principal engrenagem.

É um tendência mundial. Cada país obviamente tem sua especificidade política, seus momentos particulares, mas estamos diante de um novo tipo de ativismo, que chamamos de net-ativismo, que tem nas redes seu principal aspecto não somente de organização, mas também de atuação.

Uma característica é a origem de atuação. São movimentos que nascem nas redes digitais. É uma ecologia complexa, que começa nas redes, ganha as ruas e continua nas redes. São movimentos sem líder, têm uma forma distribuída. O anonimato também é um valor forte, pelo fato de que são movimentos que nascem críticos a instituições partidárias e tradicionais. Também são movimentos que não lutam pelo poder, não têm objetivo de disputar eleições. Tivemos dois casos apenas, que foi o do Podemos, na Espanha, e do Movimento 5 Estrelas, na Itália. A maioria continua sem disputar o poder, fora da democracia representativa. Também não são portadores de ideologias unitárias. Nos movimentos tradicionais, há uma centralização das informações pela liderança que são disseminadas depois para a população, de cima para baixo. Ao contrário, esses movimentos nascem da inovação tecnológica, que permite a cada cidadão acesso a informações importantes. Os net-ativistas são movimentos espontâneos, que não possuem líderes, mas cidadãos conscientes, que se informam através dos meios de informação tradicionais, mas também utilizando o poder de comunicação da internet. São ainda geralmente movimentos temporários. Isto é, não tendendo à institucionalização, tendem ao desaparecimento.

É híbrido. Há partidos políticos e movimentos sociais que tentam monopolizar o anseio legítimo da população e direcioná-los. No âmbito das redes, não se consegue manipular a vontade ou a pauta de manifestação. Fui ao protesto de 8 de março, das mulheres, na Avenida Paulista, em São Paulo. Havia um racha entre um grupo que colocou uma facha com apoio explícito à presidente e outra parte do movimento que não se identificou com isso. Não é mais possível monopolizar e direcionar manifestações. O protesto deste domingo tem um pouco das duas alas: dos partidos políticos, que tentam aproveitar o momento para seus interesses específicos e não os da população, e, do outro lado, existe um movimento espontâneo de pessoas, que, não sendo filiadas, atua livremente sobre seu direito de expressão. O Brasil vive um momento híbrido. Tem a ver com as características da cultura política no país, que é muito centrada em figuras personalísticas, líderes que dirigem as massas, mas esse momento é de desapego às instituições do passado.

Há interesse em dividir o país, em particular dos partidos políticos. É a forma de um tipo de cultura política obsoleta, da participação que ronda em torno de alguns líderes, que são os mesmos. Isso não vale apenas para os partidos políticos. Se perguntar quem são os líderes do Movimento Sem Terra hoje, você com certeza vai me responder os mesmos nomes de quando se constituiu o movimento. É um vício da política moderna. Num contexto de sociedade da informação, isso, além de ser impraticável, é suicídio, porque nós temos uma tecnologia que permite aproveitar as inteligências, contribuições e ideias de um país inteiro. Não precisamos mais delegar. É o exato contrário dessa polarização partidária, que é de interesse de lobbies, como são os partidos políticos. São instituições que foram importantes em um determinado período, no caso do Brasil na volta da democracia, mas que não representam mais. Durante a democracia tiveram um mérito muito grande, mas hoje, em um outro contexto, são nocivas ao desenvolvimento da democracia.

A tendência é sempre de reação. Nas últimas manifestações, na maioria dos casos, não vi bandeiras de partidos políticos. Geralmente, há sempre algumas bandeiras de legendas minoritárias, mas, mesmo assim, sempre os movimentos demonstravam claramente recusa a qualquer símbolo ligado à organização partidária. É um sinal claríssimo de que a população não quer mais ser representada por lobbies que defendem os interesses da própria instituição para se manter no poder e não os interesses do povo.

Essas manifestações são a fotografia do momento da política parlamentar e partidária, mas são híbridas. A manifestação é expressão clara de um desafeto definitivo da população perante às instituições dos partidos e também da forma de democracia representativa que elegeu uma líder. No contexto contemporâneo, o Brasil deveria experimentar formas de participação que não sejam baseadas em um salvador da pátria, mas na livre organização de ideias e de pessoas, que contribuam para o bem coletivo.

Acho que sim. Tem um elemento conjuntural, da crise que o país está vivendo, mas é mais que isso. É um dos pontos que vejo entre as manifestações de junho de 2013 e a de domingo. São manifestações de desafeto da sociedade perante as instituições. Um elemento decisivo é que as mídias de massa pautavam as questões públicas e agendavam o debate, o que permitia a participação da população, mas, no contexto midiático de redes, a pauta é criada por qualquer indivíduo. A democracia representativa parlamentar, como a conhecemos deve ser aperfeiçoada. Para isso, as tecnologias digitais são a grande ecologia de participação contemporânea. Não podemos pensar em manter um modelo de democracia parecido com o de Péricles, na Grécia do século V antes de Cristo.


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O Portal do Holanda foi fundado em 14 de novembro de 2005. Primeiramente com uma coluna, que levou o nome de seu fundador, o jornalista Raimundo de Holanda. Depois passou para Blog do Holanda e por último Portal do Holanda. Foi um dos primeiros sítios de internet no Estado do Amazonas. É auditado pelo IVC e ComScore.

ASSUNTOS: 13 de março, dilma, impeachment, Manaus, manifestação, Amazonas

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