Compartilhe este texto

Rio receberá cerca de um milhão de turistas e espera bater recordes no setor

Por Agência O Globo

25/07/2016 3h52 — em
Rio de Janeiro



RIO - O chiado carioca ainda domina a cidade, é claro, mas a poucos dias do início dos Jogos, o Rio já ganhou outros sotaques. E não são poucos. Basta dar uma volta pela orla para encontrar não tantos “hermanos” — que dominaram a paisagem durante a Copa e que talvez se aproveitem da proximidade para chegar em cima da hora —, mas uma profusão de chineses, suíços, ingleses, espanhóis, alemães, franceses e holandeses. É uma turma que, além de muita animação, está chegando com disposição para gastar. Segundo a Riotur, a Olimpíada e a Paralimpíada, que, juntas, têm 29 dias de competições propriamente ditas, deverão gerar para a cidade uma receita de U$S 1,8 bilhão (R$ 5,8 bilhões). Se a previsão se concretizar, será um recorde. A Copa do Mundo de 2014, por exemplo, movimentou R$ 4,4 bilhões em seus 31 dias de duração. O réveillon, outra festa que costuma brilhar tanto pelos fogos quanto pela quantidade de visitantes, gerou este ano uma renda para a cidade de U$S 686 milhões (R$ 2,2 bilhões).

— O turista que vem para a Olimpíada tem outro perfil. Normalmente, traz a família e gasta mais. O da Copa, por exemplo, costuma ser homem e só gasta com ingresso e cerveja — diz o economista Fábio Bentes, da Confederação Nacional do Comércio, que estima que cada visitante deixará na cidade U$S 929, pouco mais de R$ 3 mil.

Segundo o economista, os maiores gastos serão com alimentação, setor que deverá responder por mais de um terço (34,5%) da receita gerada, que ele estima em R$ 2,6 bilhões. Não é à toa, portanto, que os empresários do setor estão tendo surtos de otimismo. De olho na movimentação de estrangeiros e de turistas brasileiros — estão previstos um milhão de visitantes durante as duas competições, número superior aos 886 mil que vieram na Copa e aos 857 mil que aportaram na cidade na última virada de ano —, eles estão contratando temporários e fazendo estoque de alimentos. Dono de um quiosque na orla de Copacabana, Agostinho Pereira, por exemplo, reforçou o time de funcionários, que passou de 15 para 25. No restaurante Mondego não é diferente. O gerente Joaquim Pereira Soares, há 30 anos no estabelecimento, prevê um faturamento cerca de quatro vezes maior que o normal.

— Além do cardápio multilíngue e da recepcionista, que fala mais de oito idiomas, já estocamos mais de 800 quilos de filé mignon. Faça chuva ou sol, não vamos ficar sem servir o cliente — contou.

Nem todo mundo tomou o cuidado de contratar quem domine vários idiomas. Mas nem sempre os turistas que se deparam com cardápios somente em português se veem diante de uma armadilha. O casal de holandeses Lars Overnon e Simone Leyius enxergou no problema uma oportunidade para conhecer novos sabores. Na última quarta-feira, os dois experimentaram tapioca. Não chegaram a torcer o nariz, mas confessaram que gostaram mais da parte líquida da refeição — uma caipirinha atrás da outra. A cachaça fez tanto sucesso que a dupla, um pouco ressabiada por ter subido ao Corcovado num dia nublado (“Não vimos nada”), já planejava uma incursão à Lapa.

— Queremos beber lá, a Lapa é muito famosa — dizia Simone, que queria aproveitar o passeio para também conhecer a Escadaria Seláron.

As nuvens que atrapalharam o casal holandês, que ainda foi à Urca, mas desistiu de subir até o Pão de Açúcar, não tirou em nada o brilho da programação de um grupo de 20 chineses que, também na quarta-feira, conheceu a Praia de Copacabana. Apesar do tempo sem sol e da água gélida, os estrangeiros, quase todos uniformizados com casacos na cor laranja, entraram no mar com as calças levantadas para molhar as pernas até os joelhos. Feng Lian, imbuída do espírito olímpico, só sossegou quando conseguiu pular bem alto. Não foi um duplo twist carpado, mas ela ficou bem na foto. Aliás, nas fotos. Animadíssimos, os chineses tiravam, além de inúmeras selfies, retratos de quem passava ao redor. Era uma câmera profissional, um smartphone de última geração e uma filmadora per capita.

A cena chamava tanto a atenção que teve até carioca gente boa tentando alertar a turma para um possível risco de assaltos. Mas nada que os precavidos orientais precisassem se preocupar. Eles contrataram um segurança particular para acompanhá-los por sua passagem pelo Brasil, que inclui, além do Rio, visitas a São Paulo, Foz de Iguaçu e Manaus. O guarda-costas, um lutador de MMA de São Paulo, não teve problema algum até agora. Já o intérprete contratado pela turma deve dar trabalho: é mais fácil entender os turistas do grupo que falam inglês do que o tradutor mostrando seu português.

A segurança, um ponto que costuma deixar em alerta quem desembarca na cidade, não tem sido, aliás, motivo de preocupação. A francesa Stephanie Lelou, moradora de Nantes, chegou ao Rio receosa do que poderia encontrar. Mas bastaram algumas horas em Copacabana na companhia do africano Eric Loko, um morador da cidade que ela conheceu pela internet, para os temores evaporarem.

— Achei que aqui era perigoso, mas já vi muita polícia pelas ruas e percebi que a gente tem muito preconceito — disse Stephanie, que ficará um mês no Rio e pretende, antes de assistir partidas de tênis de mesa e provas de pentatlo, para as quais tem ingresso, conhecer Niterói. — Vi aquele museu redondo nos guias e fiquei interessada.

Estrangeiros que já conhecem a cidade também voltaram para os Jogos e estão ajudando a mudar os ares do Rio. É o caso da família Hoekstra, que mora em Haia, na Holanda, mas já passou um ano por aqui, em 2002, por conta do trabalho de Eelco, o pai, numa multinacional de gás e petróleo. Apesar de entender português, foi em inglês que ele contou que passará três semanas com a mulher, Manon, e os três filhos no Brasil. Uma das crianças, orgulha-se Eelco, “is carioca”. Faber nasceu no Rio durante a temporada de trabalho do pai e, coincidência ou não, é o mais expansivo dos irmãos. Parece ter o famoso jeitinho.

— Vamos até Fortaleza e voltaremos ao Rio para os Jogos Olímpicos — contou o pai.

Eelco diz que não se atrapalha com o idioma, mas os problemas de comunicação com motoristas de ônibus e taxistas que sequer arranham o inglês são muitos. Em geral, têm sido levados com bom humor por estrangeiros, que apelam para a língua universal de quem está em apuros: a mímica.

— Para chegar ao Cristo Redentor, pegamos um ônibus e achamos que o motorista nos entenderia quando perguntássemos onde deveríamos saltar. Só que ele não entendia nada. Minha namorada começou a ficar nervosa, mas teve a ideia de estender os braços para imitar a estátua. Aí ele entendeu — diverte-se o alemão Jürgen Haus, que ficará um mês no Rio e comprou ingressos para quatro competições.

Segundo o presidente da Associação Brasileira de Indústria de Hotéis (ABIH-RJ), Alfredo Lopes, o número de vagas ocupadas em hotéis na cidade já é superior ao mês de julho do ano passado. Nesta semana, 60% dos 56 mil quartos disponíveis já foram ocupados. A expectativa da Riotur é que a taxa de ocupação da cidade chegue a 98% na próxima semana.

— O que mudou, principalmente, foi o tipo de turista. Em julho, a maioria costuma ser de brasileiros aproveitando as férias escolares. Este ano temos uma porcentagem muito maior de estrangeiros. Hoje, cerca de 30% das nossas vagas já estão ocupadas por pessoas ligadas à Olimpíada — explicou Alfredo.


Siga-nos no
O Portal do Holanda foi fundado em 14 de novembro de 2005. Primeiramente com uma coluna, que levou o nome de seu fundador, o jornalista Raimundo de Holanda. Depois passou para Blog do Holanda e por último Portal do Holanda. Foi um dos primeiros sítios de internet no Estado do Amazonas. É auditado pelo IVC e ComScore.

ASSUNTOS: Rio de Janeiro

+ Rio de Janeiro