Região de mata vira cenário de confrontos na Rocinha
RIO - Entrincheirado numa mata, o bando do traficante Rogério Avelino da Silva, o Rogério 157, tentava resistir, até o fim da noite desta sexta-feira, a um cerco formado por centenas de homens do Exército e da PM. Desde o último domingo, quando começou a guerra na Rocinha, os bandidos encontraram refúgio na densa vegetação que fica no entorno da parte alta da favela. Policiais do Batalhão de Operações Especiais (Bope) fizeram buscas e chegaram a pernoitar na região, mas não conseguiram capturar a quadrilha. Frequentes trocas de tiros na área verde são ouvidas por moradores tanto do morro como do asfalto.
De acordo com o setor de inteligência da Secretaria de Segurança, Rogério 157 teria tentado negociar uma rendição. Segundo investigadores, pelo menos cem bandidos estão escondidos na mata. Cada um teria um fuzil, além de granadas e farta munição — a quadrilha que decidiu romper com a facção de Antônio Francisco Bonfim Lopes, o Nem, se preparou para um confronto de longa duração. No entanto, a mobilização de tropas especiais das Forças Armadas teria assustado o grupo.
Vizinhos à Rocinha, moradores do Alto Leblon e da Chácara do Céu vêm se acostumando a escutar o barulho de balas zunindo e de helicópteros sobrevoando a mata. Nesta sexta-feira, todas as possíveis rotas de fuga da região foram ocupadas. Até quinta-feira, havia apenas policiais militares nessas trilhas, mas, com o reforço das tropas do Exército, o monitoramento do local passou a ser mais eficiente.
Agora, o cerco se estende também a pontos turísticos da Floresta da Tijuca, como a Vista Chinesa e as cachoeiras do Horto. Anteontem, segundo um esportista que pediu para não ser identificado, um integrante da quadrilha de Rogério 157 foi visto entrando com 30 quentinhas na mata. Ciclistas e corredores têm trocado mensagens em grupos do Whatsapp, alertando para o perigo na área.
Rogério 157 e os integrantes de sua quadrilha conhecem bem a região. A mata tem várias cachoeiras, frequentadas pelos bandidos desde a infância. Eles conseguem, segundo um oficial da PM, criar pontos de referência para enterrar armas e munição, mantendo assim um forte poderio bélico. Porém, de acordo com a mesma fonte da corporação, a quantidade de balas caiu consideravelmente nos últimos dois dias.
Não é de hoje que criminosos usam a mata que circunda a parte mais alta da Rocinha como local estratégico para confrontos. Em 2006, durante uma guerra entre traficantes da comunidade e do Vidigal, parte dos ataques ocorreu na área verde que separa as duas favelas. Na época, o Alto Leblon, um dos locais mais valorizados do Rio, sofreu com as incursões de traficantes. Fugindo pelo Parque Penhasco Dois Irmãos, bandidos entraram num dos condomínios de classe média alta da Rua Sambaíba.
O uso de trilhas como rotas de fuga é uma tática conhecida da polícia. Alguns anos atrás, foram mapeadas 25 trilhas na região. O Bope chegou a descobrir acampamentos do tráfico para treinamentos na mata.
— Hoje, moradores da região temem ver uma repetição das cenas ocorridas em 2006, quando vários bandidos saíram da mata. Muitos vêm evitando sair de casa — disse nesta sexta-feira Evelyn Rosenzweig, presidente da Associação de Moradores e Amigos do Leblon.
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