Análise: O grupo político que influencia na política da Rocinha
A Rocinha sempre foi a cereja do bolo da política de segurança do governo Sergio Cabral. Foi de um projeto urbanístico para a Rocinha, ainda na primeira campanha eleitoral, que surgiu a ideia do PAC das Favelas (com Manguinhos e Alemão no pacote). Foi esse o carro-chefe da entrada do PMDB nas áreas carentes da cidade. A chegada da UPP na Rocinha, em 2011, uma das últimas das grandes favelas a receber uma das unidades, consagrou o festejado modelo de ocupação territorial pelas forças policiais. E foi ali também, na Rocinha, que esse modelo começou a ser enterrado, dois anos depois, com o desaparecimento do pedreiro Amarildo e a revelação das torturas cometidas pelo comando da UPP naquela comunidade.
Quando no domingo último, às sete da manhã, a barulheira infernal, durante horas, acordou moradores da Rocinha e seus vizinhos da Gávea e de São Conrado, sabíamos, muitos, quase todos, que acontecera o que já se esperava há alguns dias: a facção que domina o território se dividira e um lado invadira com o apoio de gente de fora. Já são agora seis dias de medo, muito medo, porque a situação não se resolveu, para nenhum dos lados. E, então, ninguém vive mais uma vida normal.
Não é a primeira vez. Desde 2004 foram muitas idas e vindas. Mas não deixa de ser curioso que essa nova explosão da violência na Rocinha, seguindo o padrão do que já estava acontecendo em várias outras favelas da cidade, aconteça na mesma semana em que o ex-governador Sergio Cabral foi condenado a 45 anos de prisão. Nunca um grupo político exerceu tanta influência política na Rocinha. Nunca um líder do tráfico teve tanto poder para influenciar politicamente uma comunidade. Nem está preso bem longe da Rocinha, mas não quer perder seu território. Cabe ao sucessor de Cabral, o governador Pezão, que não se mexeu ainda mas que conhece a Rocinha como a palma de sua mão, decidir quem vai mandar naquele pedaço.
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ASSUNTOS: Rio de Janeiro