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Para a Polícia Militar, legislação ‘frágil’ não inibe ataques de criminosos

Por Agência O Globo

14/11/2017 21h11 — em
Rio de Janeiro



RIO - O presidente da Comissão de Análise de Vitimização da Polícia Militar, coronel Fábio Cajueiro, também defende a criação de protocolos para a realização de operações após assassinatos de PMs. Ao comentar os números da pesquisa, ele ponderou que o trabalho não considera a ficha criminal de quem morre em confronto com a tropa. O oficial destacou que bandidos reagem quando o estado intervém após um ataque a um agente de segurança.

— Para começar, gostaria de separar civil, cidadão de bem, de bandido, inimigo da sociedade — afirmou Cajueiro. — O criminoso atira e mata um policial, e, quando a repressão mais intensa e reativa à morte do guardião da sociedade ocorre, ele continua atirando, intensificando o cenário absurdo e surreal de enfrentar a polícia sem qualquer receio, expondo inocentes ao risco de serem atingidos por balas perdidas.

O oficial ainda argumentou que há uma “fragilidade” na legislação brasileira:

—Em qualquer outro lugar do planeta, o criminoso foge da polícia porque sabe que, se enfrentar um agente de segurança, sua pena será severa, poderá pegar prisão perpétua ou mesmo uma condenação à morte. Mas aqui, não. No Brasil, mate alguém com as mãos, uma faca, um revólver, uma pistola, uma submetralhadora ou um fuzil, mate uma ou cem pessoas, e só ficará, no máximo, 30 anos preso. Isso sem considerar as benesses e progressões de regime que encurtam as penas.

Para Cajueiro, a Região Metropolitana do Rio vive uma guerra de causa socioeconômica:

— Não é um trabalho de polícia convencional, como em outros lugares do Brasil, do mundo ou mesmo do interior do estado. Décadas ou até séculos de desigualdade social estão materializados nas favelas do Rio.

O coronel lembrou que, normalmente, forças de segurança entram em guerra quando julgam ter superioridade bélica, numérica e tecnológica:

— A PM do Rio combate em inferioridade, mas consegue resultados devido à sua fantástica e sofrida tropa, que sangra e sofre sem trégua para impedir o domínio total de territórios por narcotraficantes — disse Cajueiro. — Um outro fator de vitimização é a corrupção de integrantes das três esferas do poder público, que fornecem insumos, proteção e informações a bandidos.

Ao falar sobre o sentimento de vingança relatado em algumas das entrevistas feitas pela pesquisadora Terine Husek Coelho, o oficial frisou que “policiais são humanos”:

— Temos a melhor tropa do mundo, mas temos vontades, dores e sentimentos como qualquer pessoa. Nós os sublimamos e os controlamos a duras penas para cumprir nosso dever. A mistura permanente de adrenalina, testosterona e cortisol no nosso sangue cobra alto preço.

O coronel listou propostas para a redução das mortes de PM e dos autos de resistência: investimentos em operações de deslocamento seguro, desmobilização das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) e comparação de um mapeamento dos locais onde PMs de folga foram atacados com a mancha de roubo de veículos. Além disso, ele sugeriu parcerias público-privadas para investimentos em armas, coletes balísticos e manutenção e blindagem de viaturas.


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