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Apaixonados pela cidade emplacam boas ideias

Por Agência O Globo

19/11/2017 7h11 — em
Rio de Janeiro



RIO — Uma turma de cariocas — ou mais do que isso, de apaixonados pelo Rio — tem deixado a cidade mais bonita, colorida e amigável, num momento em que ela tanto precisa de amor. A advogada e artesã aposentada Helen Maria, por exemplo, decidiu emplacar o bem e, há um ano, recolhe rodas de carretéis de fio e caixotes de fruta descartados para transformá-los em cartazes com frases positivas, que são amarrados com barbante em árvores. Mensagens como “Desacelere”, “Cuide com carinho”, “Sorrir faz bem” e “Bom dia” passaram a fazer parte do dia a dia de quem circula pelas ruas Dona Mariana e Sorocaba, em Botafogo, onde Helen mora:

— Constatei que a inspiração valeu a pena. No ano passado, descobri um mieloma múltiplo (câncer das células plasmáticas da medula óssea). E a energia gerada pelo projeto me ajuda muito. A doença está congelada, nem fiz quimioterapia. Vi que fazendo o bem você acaba beneficiando a si mesmo. A lei do retorno é natural.

A artesã, de 58 anos, hoje contabiliza mais de 500 plaquinhas produzidas, com material reciclado e tintas compradas com dinheiro próprio ou doado pelo ex-marido. No Rio, também é possível encontrar as mensagens em locais como Aterro do Flamengo, Laranjeiras e Lagoa. Na Rua Irineu Marinho, na Cidade Nova, a instalação foi a pedido do empresário Alberto Rodrigues, dono da cafeteria Estrela Café e amigo de Helen.

— Na minha época, não precisava de placa para as pessoas cederem lugar para idoso ou para grávida. Mais do que uma crise econômica, o país vive hoje uma crise de valores morais. Vivemos num mundo individualista; é preciso ter respeito pelo próximo. E o trabalho de Helen ajuda a chamar atenção para isso — destaca Alberto.

Helen também doou seu trabalho para o Botafogo Medical Center, onde plaquinhas “cumprimentam” pacientes.

— As pessoas vêm para cuidar da saúde. Às vezes chegam com dor, aflitas e, quando leem as frases de bem-estar, se transformam. Podem achar que não, mas as placas fazem a diferença, têm o poder de mudar o dia — afirma Elaine Tardin, administradora do centro médico.

Com o mesmo objetivo, de transformar a vida de alguém, alunos da Escola Sá Pereira, no Humaitá, montaram a Esquina Literária. Trata-se de uma estante localizada em um dos muros externos do colégio, onde é possível deixar e levar livros. O estoque é alimentado por alunos, pais e vizinhos.

— Numa discussão sobre direitos humanos, conversamos com os alunos sobre a questão da leitura, e resolvemos criar juntos a Esquina Literária. Pensamos que estamos num universo muito privilegiado e decidimos fazer algo para contribuir com o nosso entorno, onde há pessoas com tão poucos recursos, algumas alfabetizadas só na vida adulta — explica Jade Moura, coordenadora pedagógica da Sá Pereira.

O interesse de moradores de rua pela leitura chamou a atenção de Juliana Janot, de 12 anos, uma das responsáveis pelo projeto:

— A Esquina acabou se tornando um espaço de troca e convivência muito acolhedor. Já vimos pessoas em situação de rua lendo lá na frente. É uma estante onde todos se sentem à vontade para pegar o livro que quiser, sem prazo para devolver. É um espaço de liberdade.

Também pensando em acolher — no caso, passageiros de ônibus que esperavam em pontos sem abrigo —, o marceneiro paulista Wagner Ferraz, do Coletivo Abrigo, usou restos de madeira e alumínio que encontrou numa caçamba para construir uma parada coberta e toda estilizada. A casinha, que também tem estante para doação de livros, já esteve na Rua das Laranjeiras e, atualmente, encontra-se na Pedra do Sal. Ela deverá seguir em breve para algum local da Baixada Fluminense.

— Fiz pensando no pai de família que levanta às 5h para trabalhar, fica em pé no ponto debaixo de sol e chuva, vai em pé no ônibus. Por que não levar um pouco de qualidade de vida para ele, permitir que espere sentado, lendo um livro? — questiona Wagner.

Para aumentar o alcance de sua iniciativa, o marceneiro, que aportou no Rio há três meses cheio de disposição para fazer o bem, tem como parceira a relações públicas Bruna Távora, a aceleradora Ekloos e o Oi Futuro. Ele também conta com a ajuda da arquiteta carioca Tais Smith, que doa restos de material de obras que ela coordena. Gente como a cuidadora de idosos Lucia Barbosa, que mora em Duque de Caxias e pega trem e dois ônibus para chegar ao trabalho, em Laranjeiras, agradece o carinho:

— Esperar o ônibus num ponto colorido como esse ajuda a diminuir o estresse e alegra o coração.


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