Após abalo com o pai, Carlos Bolsonaro tenta retomar influência no governo
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - Após sua relação com o presidente Jair Bolsonaro ter passado por um abalo no ano passado, o vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ) retomou o seu engajamento nas redes sociais e voltou à carga contra a comunicação do Palácio do Planalto.
Crítico desde o início do governo à condução dos canais institucionais da Presidência da República, ele tornou a divulgar realizações da gestão federal e a fazer reparo público sobre a postura da Secom (Secretaria Especial de Comunicação Social), comandada pelo publicitário Fabio Wajngarten.
O empenho do vereador ocorreu após ele ter ficado quase um mês ausente das redes sociais.
Segundo assessores presidenciais, Carlos submergiu depois de ter protagonizado um desentendimento com Bolsonaro, que se irritou após o filho ter publicado na conta oficial do pai manifestação favorável à prisão após condenação em segunda instância.
Na época, o presidente queria evitar o assunto na esfera pública para não se indispor com o STF (Supremo Tribunal Federal), que analisava a questão e decidiu por rejeitar a possibilidade.
Segundo relato feito à Folha, após o episódio, Bolsonaro pediu ao filho que desse menos opiniões nas redes sociais.
A ausência de Carlos ocorreu no mesmo período em que a CPMI (Comissão Parlamentar Mista de Inquérito) das Fake News intensificou a coleta de depoimentos de ex-aliados do presidente, entre eles a deputada federal Joice Hasselmann (PSL-SP).
Segundo a parlamentar paulista, que já entrou em diversos atritos com Carlos e os filhos de Bolsonaro nas redes sociais, o vereador tentou montar uma espécie de rede de espionagem no Palácio do Planalto. Isso incluiria grampos e dossiês.
Nas palavras de um aliado do presidente, após o desentendimento com o pai, Carlos chegou a ficar cerca de 45 dias sem falar com Bolsonaro.
O mesmo interlocutor relatou que o episódio deprimiu o presidente e que ambos decidiram fazer as pazes no fim do ano passado. Eles, porém, não passaram o Natal juntos.
Bolsonaro ficou em Brasília e viajou para a base naval de Aratu, em Salvador.
Carlos comemorou a festividade com o irmão e deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP). Eles postaram fotos nas redes sociais. O senador Flavio Bolsonaro (sem partido-RJ) não aparece em foto da família.
A avaliação do núcleo moderado do governo federal, formado por integrantes da cúpula militar e da equipe econômica, é que, em sua volta às redes sociais, o vereador iniciou uma tentativa de retomar a sua influência sobre o governo.
A sua primeira ofensiva foi sobre a comunicação institucional, a quem se referiu em dezembro como uma "bela de uma porcaria".
A estrutura de comunicação do Palácio do Planalto é subordinada à Secretaria de Governo, comandada atualmente pelo general Luiz Eduardo Ramos.
O antecessor do ministro, o também general Carlos Santos Cruz, foi exonerado do cargo justamente após ter protagonizado um desentendimento com Carlos.
Hoje, ele se tornou uma das principais vozes críticas à atual gestão.
"Se eu fosse comunicação do governo, o que sempre foi uma bela de uma porcaria, só neste vídeo trabalharia umas cinco mensagens facilmente", escreveu Carlos, referindo-se a uma das entrevistas diárias de Bolsonaro na entrada do Palácio do Alvorada.
No dia seguinte, em outra mensagem, ele escreveu que não é nem quer ser da "comunicação presidencial".
A crítica do filho do presidente ficou sem resposta do Palácio do Planalto, que preferiu ignorá-la.
A postura também foi adotada por outros ministros atacados anteriormente por Carlos, em uma tentativa de não se indispor com Bolsonaro.
Neste início de ano, a rede social do filho do presidente foi preenchida por informações sobre medidas adotadas pela gestão federal.
Nesta terça-feira (7), inclusive, a conta oficial do Ministério da Saúde compartilhou mensagem de Carlos sobre o repasse de recursos a hospitais do país para a realização de cirurgias eletivas.
Apesar de Carlos ter submergido durante quase um mês, o chamado "gabinete da raiva", que é tutelado pelo filho do presidente, continuou agindo no Palácio do Planalto.
O bunker ideológico é formado por três auxiliares presidenciais que mantêm viva a militância digital.
Carlos foi responsável pela estratégia de comunicação online que ajudou a eleger o pai. Mesmo após a vitória de Bolsonaro, o vereador continuou tendo acesso às redes sociais do presidente.
O filho 02 é o mais agressivo dos filhos de Bolsonaro nas redes sociais --por lá, costuma rechaçar a imprensa, criticar adversários e desautorizar aliados do pai.
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