Cientistas descobrem ligação cerebral entre a fome e a vontade de comer
RIO - Satisfazer a fome é um comportamento primordial, mas decidir quando e o quê comer pode ser influenciado por indicações no ambiente, não apenas por quanto tempo se passou desde a última refeição. Sabe-se que sugestões visuais associadas a alimentos em comerciais de TV e anúncios nas ruas e estradas contribuem para a ingestão em excesso de comida, mas os cientistas ainda buscam entender como exatamente esses sinais externos aguçam o apetite e influenciam o comportamento das pessoas.
Para tentar responder esta questão, pesquisadores do Centro Médico Beth Israel Deaconess (BIDMC), nos EUA, desenvolveram uma nova abordagem na qual observaram e manipularam grupos específicos de neurônios no cérebro de camundongos. Com os experimentos, eles identificaram uma via biológica ligando os neurônios em regiões do cérebro mais “antigas e primitivas” que desencadeiam a sensação de fome com circuitos cerebrais distantes, relacionados a funções cognitivas mais sofisticadas, e envolvidos na decisão de reagir ou não a sugestões visuais relacionadas a alimentos. Assim, suas descobertas podem abrir caminho para novos tratamentos que atenuem a vontade de comer em pessoas obesas ou com distúrbios alimentares.
- Nossa questão principal era: como os neurônios antigos do ponto de vista evolucionário que promovem a fome na base do cérebro, no hipotálamo, influenciam as áreas cognitivas para nos ajudar a encontrar e comer alimentos ricos em calorias em um mundo complexo e em mudança? - explica Mark Andermann, professor de Medicina na Divisão de Endocrinologia, Diabetes e Metabolismo do BIDMC e um dos autores do estudo, publicado nesta quarta-feira na revista “Nature”.
Segundo os pesquisadores, quando uma pessoa está com fome, ela fica mais vulnerável a sugestões visuais que influenciem seu comportamento com relação à comida e como satisfazer esta vontade de comer.
- Simplesmente, quando você está com fome, a imagem de um cheeseburger pode ser extremamente atraente e eficaz para influenciar o seu comportamento – destaca Yoav Livneh, PhD, também do BIDMC e coautor do estudo. - Mas se a sua barriga estiver cheia depois de comer uma grande refeição, a mesma imagem de cheeseburger será pouco atrativa. Acreditamos que a via que descobrimos entre os neurônios promotores da fome e a região do cérebro chamada córtex insular desempenha um papel importante aqui.
Os dados de exames do cérebro de humanos apoiam a noção de que o córtex insular está envolvido na decisão sobre se vale a pena buscar uma determinada fonte de alimento. Em humanos saudáveis, o córtex insular aumenta sua atividade em resposta a sinais de comida durante a fome, mas não após uma refeição. Estudos sugerem que este processo geralmente é defeituoso em pacientes com obesidade ou outros distúrbios alimentares que exibem ânsias excessivas. Essas descobertas indicam que mudanças específicas na atividade cerebral, incluindo aumento da sensibilidade aos sinais alimentares, podem estar subjacentes a esses distúrbios – que não seriam, portanto, resultado de uma “falta de força de vontade”.
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ASSUNTOS: obesidade, pesquisa, vontade de comer