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‘Solução emergencial só gera riscos’, diz porta-voz da OIM sobre crise migratória europeia

Por Agência O Globo

31/08/2016 3h52 — em
Mundo



RIO, PARIS e ROMA — Apesar de o mundo olhar com surpresa a volta do fluxo de migrantes entre as costas líbia e italiana, estatísticas revelam que o alto número de resgates no Mediterrâneo se manteve alto desde 2014. Enquanto autoridades recolhem diariamente mais de mil pessoas no mar, a Organização Internacional para as Migrações (OIM) critica o que vê como uma falta de vontade política da Europa em resolver o problema. Para seu porta-voz na Itália, Flavio di Giacomo, é fundamental que o continente foque em soluções a longo prazo, e não em "abordagens emergenciais".

O verão e boas condições climáticas propiciam a vinda. De fato, em grande parte de agosto vimos o número diminuir em relação a julho, mas por motivos específicos: tempo instável, vento forte. Eu estive há pouco tempo na Sicília, onde vi o mar muito irregular. Mas as condições melhoraram.

Os que chegam à Itália têm um perfil recorrente. Em 2016, 114 mil imigrantes (de acordo com estatísticas do final de agosto) entraram pelo mar. No ano passado, na mesma época do ano, foram 116 mil. Ou seja, estamos no mesmo número. A situação continua terrível.

O acordo entre Turquia e União Europeia não teve efeito sobre a Itália. Dos quase 120 mil que chegaram este ano, só 328 eram sírios. Esta é uma rota muito distante. Os que vinham antes eram mais ricos, podiam pagar. Os de agora estão barrados na Turquia. Não se podem permitir uma rota mais complexa. Viajam em família. As alternativas são muito perigosas ou caras.

Há migrantes econômicos, mas também aqueles que vêm de outros lugares com questões delicadas de direitos humanos. São pessoas que também querem se salvar. O que vemos na Itália, como na Grécia, em 2015, é uma consequência. É gente que foge das guerras, de regimes autoritários, da pobreza...

Na Líbia, muitos são sequestrados, esperando o pagamento das famílias em seus países. Podem ser mortos por grupos armados que vêm para roubar ou executar. A Líbia é hoje muito mais perigosa, e muitos pensam se vale a pena voltar atrás. Infelizmente, estas pessoas estão morrendo em toda parte: no mar, em casa, na Líbia.

O número de pessoas que chegam é gerenciável, a Europa é rica. Na realidade, a emergência humanitária é muito maior que a numérica. No ano passado, foi feito um teste político na Europa que resultou na divisão de seus membros sobre a solidariedade. Foi acertado um número de refugiados possível de gerir. A Europa começou a propor soluções a longo prazo, mas não fez nada.

Faltam canais legais. Os fugitivos não têm vias regulares de entrar na Europa. Faltam projetos de desenvolvimento nos países de onde elas saem. Nos próximos 30 anos, a Europa precisará receber mão de obra imigrante pela queda de sua natalidade. A solução só vira com políticas a longo prazo, e não soluções emergenciais, que só geram mais mortes e situações de risco.


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