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Sem repetir os erros do adversário

Por Agência O Globo

24/07/2016 5h26 — em
Mundo



WASHINGTON, 23 (AG) - Os democratas, que realizam a partir desta segunda-feira sua convenção na Filadélfia, na Pensilvânia, para oficializar a nomeação de Hillary Clinton como candidata à Casa Branca, sabem exatamente o que querem: evitar as turbulências que marcaram o encontro republicano na semana passada. O objetivo é, com a unidade do partido, mostrar otimismo. E, assim, tentar reverter o mau momento nas pesquisas, nas quais a democrata tem perdido espaço devido à onda de violência racial no país e ao aumento de sua rejeição na esteira do escândalo dos e-mails de quando era secretária de Estado. Ao mesmo tempo, tentam atrair os jovens que apoiaram o pré-candidato Bernie Sanders nas primárias - com o que tem sido propagandeado como "o mais progressista programa da história do partido".

Além do apoio de Sanders - com quem a ex-primeira-dama disputou intensamente a candidatura -, a campanha de Hillary Clinton conta com um de oradores, como o presidente Barack Obama, no que deve ser seu último grande discurso na Presidência, e o marido, o ex-presidente Bill Clinton.

Outras estrelas democratas também devem reforçar a mensagem de união em torno de Hillary, que pode se tornar a primeira mulher a governar os Estados Unidos, entre eles o vice-presidente Joe Biden, e governadores e senadores populares nacionalmente e com potencial de empolgar os movimentos sociais.

Isso, por si só, já mostra um contraste importante com os republicanos, que não contaram com grandes nomes da legenda no evento de Trump - pelo contrário, uma de suas estrelas, o texano Ted Cruz, orientou os republicanos a votarem de acordo com a sua consciência, ou seja, não pediu votos para o controverso magnata.

- Esta é a campanha mais à esquerda do Partido Democrata. A campanha de Hillary aceitou 80% das propostas de Sanders, e ela precisa deste apoio forte para se contrapor ao populismo de Trump - afirmou ao GLOBO Beatriz Cuartas, professora e diretora da Universidade George Washington, que acredita que a falta de detalhes das propostas do republicano serão um problema para ele na eleição. - Também vemos a máquina democrata muito mais azeitada: a campanha de Hillary está preparada para ganhar.

Para Hillary, a meta da convenção é mostrar que ela é confiável. Apesar de sua imagem de política tradicional, a candidata também é vista como inconsistente por ter mudado suas opiniões sobre temas como casamento gay e a guerra do Iraque, sempre embalada pela opinião pública.

E mesmo tendo se salvado de um processo pelo caso dos e-mails - o FBI não pediu ação contra ela por usar o seu servidor pessoal quando era secretária de Estado para enviar mensagens, o que poderia comprometer a segurança dos EUA -, o episódio reforçou a impressão de que ela está "acima da lei". Justo no momento em que o eleitorado de esquerda se volta contra os "bilionários", Hillary precisa justificar os milhões recebidos de grandes corporações financeiras por suas palestras.

Precavidos, os democratas passaram os últimos dias aparando as arestas entre as correntes da legenda para evitar surpresas.

Segundo o site Politico, não haverá qualquer chance de um debate sobre as regras dentro da convenção, como o registrado no evento republicano. Sanders deve se encontrar nesta segunda-feira, antes da abertura oficial da convenção, com os cerca de 1.900 delegados que o apoiaram nas primárias, para explicar os motivos de ter se decidido pelo apoio a Hillary, na tentativa de que eles abracem a candidata e sua nomeação seja por aclamação, o que não ocorreu com Trump.

E a melhor forma de conseguir isso, além do apoio do senador, é com o programa de governo dos democratas. Hillary aceitou várias propostas do socialista, como oferecer universidade pública para famílias com renda anual de até US$ 125 mil (R$ 412 mil), ampliar o salário mínimo, regulamentar mais o mercado financeiro e ampliar o Obamacare, o sistema de saúde pública do país.

- Este apoio de Sanders é bem positivo, mas outros membros da esquerda do partido podem ajudá-la com este eleitor mais engajado. Obviamente, eles rejeitam mais Trump que ela. Não acredito que quem votou em Sanders nas primárias vá optar pelo republicano, exceto uma parcela bem pequena. Mas é preciso fazer com que eles saiam para votar no dia da eleição - afirmou Jennifer Lawless, professora da American University, de Washington.

Além disso, a convenção democrata deverá ser marcada pela diversidade. O próprio slogan de Hillary "mais forte juntos", é uma tentativa de se contrapor ao discurso excludente de Trump, que, para muitos, ofendeu latinos, imigrantes, mulheres e muçulmanos. São esperados mais grupos sociais e palestrantes mais diversos para também se contrapor à maioria branca que subiu ao palco em Cleveland, no encontro republicano.

E a convenção democrata não será apenas sobre a Presidência: o partido se arma para avançar no Congresso e, talvez, recuperar o controle do Senado. Com o alto índice de rejeição de Trump, muitos no partido consideram que podem roubar cadeiras dos conservadores. No caso do Senado, está mais fácil voltar a ter a maioria. Na Câmara dos Representantes, os democratas têm a difícil tarefa de reverter uma vantagem de 60 cadeiras - de um total de 435 -, mas no Senado a vantagem dos republicanos é de apenas quatro cadeiras, de um total de 100.

Nos últimos meses, diversos senadores republicanos candidatos à reeleição dizem estar enfrentando problemas por causa da rejeição ao nome de Trump.


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