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Região italiana atingida por terremoto tem grande atividade sísmica

Por Agência O Globo

25/08/2016 3h52 — em
Mundo



RIO — O terremoto desta quarta-feira que devastou várias cidades na região central da Itália não foi o primeiro, nem será o último. Por estar na fronteira de duas grandes placas tectônicas, o Mediterrâneo tem grande atividade geológica e fortes tremores são recorrentes. Um dos primeiros registros de grandes abalos no país aconteceu em 1693, na Sicília, com magnitude estimada de 7,4, deixando cerca de 60 mil mortos. O mais mortal, também na Sicília, matou entre 75 mil e 200 mil pessoas em 1908.

— Infelizmente, não podemos prever os terremotos, mas podemos apontar as regiões onde eles são corriqueiros, e a Itália é uma delas — diz Renata Schmitt, professora do Departamento de Geologia da UFRJ. — O Mediterrâneo está na zona de convergências das placas Africana e Eurasiática. Isso explica não apenas os abalos sísmicos, mas também os vulcões, que são numerosos na região.

A Itália tem ao menos 12 vulcões, sendo três deles considerados ativos: o Monte Etna, o Vesúvio e o Stromboli. E a atividade tectônica formadora dos vulcões também atuou na formação da cordilheira dos Apeninos, cadeia montanhosa que se estende por 1.200 quilômetros ao longo da Península Itálica, erguida ao longo do tempo por sedimentos depositados no limite de microplacas tectônicas convergentes.

De acordo com Iago Costa, pesquisador do CPRM - Serviço Geológico do Brasil, a região é geologicamente complexa, envolvendo a subducção - quando uma placa desliza sob outra - da microplaca Adriática sob a dos Apeninos, além da colisão entre as placas Eurasiática e Africana.

— Esse sistema causa vários processos tectônicos na região ao redor da Itália e no Mediterrâneo Central - explica Costa. — O evento de hoje (ontem) de falhas geológicas rasas, de nordeste para sudeste, nos Apeninos Centrais.

O evento foi tão devastador que suas ondas de choque atravessaram o Atlântico e foram captadas pela Rede Sismográfica do Brasil. Das 87 estações que fazem o monitoramento das atividades sísmicas no território brasileiro, 54 captaram o tremor que abalou a região central da Itália.

— Ele não chegou a ser sentido no país, mas a nossa rede captou as ondas de choque provocadas pelo tremor — conta Costa. — Com esses dados, conseguimos determinar a magnitude e o epicentro do evento.

Os dados do CPRM indicam que o tremor afetou principalmente as cidades de Amatrice, Accumoli e Norcia, todas na região da Perugia, e teve magnitude de 6,1, praticamente o mesmo resultado apontado pelo Serviço Geológico dos Estados Unidos. Além da força, o abalo foi devastador por ter tido epicentro a apenas dez quilômetros de profundidade.

— Quanto menor a profundidade, maior o poder destrutivo — diz Iago. — Hoje mesmo, o nosso sistema registrou um tremor de magnitude perto de 5 na região de Porto Velho, mas ele não foi sentido na superfície porque aconteceu a 400 quilômetros de profundidade.

O último grande tremor a abalar a Itália aconteceu em abril de 2009, com epicentro em Áquila. Com magnitude de 6,3 graus, o terremoto provocou a morte de mais de 300 pessoas, com cerca de 1.500 feridos. O fato inusitado é que sete pesquisadores foram condenados a seis anos de prisão por não terem alertado com precisão os riscos para o evento.

Por meses, a região apresentou pequenos tremores, e a equipe de cientistas foi chamada para avaliar os riscos de um grande terremoto. Eles informaram ao público que o risco não havia aumentado ou diminuído, até porque não existem meios científicos para tal medição.

O caso repercutiu na comunidade acadêmica internacional, já que abriu um precedente na responsabilização criminal da ciência. A decisão só foi suspensa no ano passado, pela Suprema Corte italiana.


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