Oposição busca uma face mais diversa na política sul-africana
Johannesburgo — A nova cara improvável da política sul-africana é branca e fala nos estalidos enfáticos da língua xhosa. Otimista e sorridente, Athol Trollip, o novo prefeito da Baía de Nelson Mandela, sexta maior área metropolitana da África do Sul, dirigia-se a uma multidão de simpatizantes no começo de agosto.
— Quando os ventos da mudança começam a soprar neste país, eles são irrefreáveis — declarou Trollip, alternando facilmente entre inglês e xhosa, língua bantu falada principalmente pelos negros sul-africanos na província do Cabo Oriental.
A vitória de Trollip foi vista como uma derrota embaraçosa para o partido de Mandela. Nas eleições locais do início do mês, um número recorde de eleitores abandonou o Congresso Nacional Africano (CNA), que está no poder desde as primeiras eleições pós-apartheid em 1994, e deu seus votos para a oposição.
Além da Baía de Nelson Mandela, de maioria negra, o CNA também perdeu o controle de Pretória, capital do país, e Johannesburgo. Nacionalmente, viu sua parcela de votos cair de 62% para 54% desde as eleições locais de 2011.
Mas há uma ironia na má sorte do partido — que poderia acelerar a realização, ainda que lenta e imperfeita, da visão do líder sul-africano de uma multicultural “nação arco-íris”. Não só uma importante cidade de maioria negra elegeu um prefeito branco, mas seu partido, a Aliança Democrática (AD), começou gradualmente a mudar sua imagem como legenda de brancos. No ano passado, elegeu o promotor Mmusi Maimane, pregador de 36 anos que cresceu em Soweto, no município de Johannesburgo, como seu primeiro líder negro.
Durante a campanha, muitas vezes desagradável, deste ano, o CNA usou fortemente uma retórica destinada a fomentar a divisão racial. O presidente Jacob Zuma, cujo mandato foi marcado por um escândalo após o outro, advertiu que a oposição traria de volta o apartheid e acusou Maimane de ser um “fantoche da minoria branca”. No final de julho, em um comício, ele acusou o AD de ser um ninho de cobras e “cria” do racista Partido Nacional, que governou no apartheid. Na verdade, o grupo nasceu em 1959 de um conjunto complexo de fusões de legendas, progressistas ou não.
O CNA ainda acusou Trollip de ser racista, e afirmou que sua família tinha abusado de trabalhadores negros em sua fazenda no Cabo Oriental. Trollip refutou veementemente as acusações, que chamou de “pacote de mentiras”.
Mas se o partido exagerou em alguns de seus ataques, ele tentava explorar uma reputação de insensibilidade racial por parte do AD que é muito real. Embora a maioria de seus eleitores não seja racista, o partido há muito tem atraído um grupo intolerante, cuja presença na mídia social tornou-se uma tendência.
Em um incidente particularmente prejudicial no início deste ano, Penny Sparrow, membro da legenda, foi expulsa depois de reclamar no Facebook da confusão que “os macacos” tinham deixado nas praias da cidade costeira de Durban.
Este passado ajuda a explicar por que a legenda tem historicamente lutado para atrair os eleitores negros: enquanto a África do Sul é formada por 80% de negros, Maimane recebeu apenas 6% dos votos deles nas eleições gerais de 2014. Desde então, o partido tenta duramente se diversificar — não apenas elegendo um líder negro, mas concentrando os esforços em áreas anteriormente dominadas pelo CNA.
De maneira controversa, Maimane afirmou que seu partido, e não o CNA, é o verdadeiro descendente da política de Mandela.
— Existe apenas um partido da África do Sul, que representa hoje verdadeiramente os valores que Madiba vivia — disse na véspera da eleição, usando o nome do clã de Mandela em xhosa. — E esse partido é a Aliança Democrática.
A mensagem pode ter ajudado a AD a ampliar seu apelo, mas o fator decisivo parece ter sido os erros do CNA. A legenda de Mandela não só tem decepcionado eleitores com a prestação irregular de serviços básicos, especialmente em áreas rurais e cidades pobres, como assistiu à deterioração da economia marcada pelo agravamento do desemprego e escândalos de corrupção.
A economia da África do Sul deverá crescer apenas 0,1% este ano, enquanto o desemprego atinge 36%. Frans Cronje, CEO do Instituto de Relações Raciais, em Johannesburgo, disse que a eleição dificilmente marcou “uma mudança revolucionária para a oposição liberal”. Pelo contrário, foi um referendo sobre o emprego e a economia — áreas onde o CNA claramente fracassou.
— Toda pesquisa que temos visto ou feito durante anos revela que a questão que os sul-africanos querem ver resolvida é sobre empregos — disse Cronje. — Isso não foi feito, e as políticas do governo permanecem hostis ao crescimento, investimentos e criação de trabalho.
Ainda assim, vitórias inesperadas da AD em Pretória e na Baía de Nelson Mandela — bem como ganhos impressionantes em Johannesburgo — ressaltaram a vontade recém-descoberta dos eleitores em olhar para além da corrida ao eleger os seus líderes políticos.
— O uso abusivo de declarações sobre raça para tentar influenciar eleitores e a retórica populista do CNA falharam — disse Cronje.
E os eleitores mais jovens, em particular, parecem imunes às críticas sobre preconceito racial do CNA contra a legenda opositora.
— Eles estão preparados para esquecer isso, e ver o AD emergindo — disse Susan Booysen, da Universidade de Witwatersrand.
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