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Nos EUA, campanhas partem com cicatrizes das primárias

Por Agência O Globo

31/07/2016 4h00 — em
Mundo



WASHINGTON — Esta eleição não será marcada apenas pelos candidatos com maior rejeição da História recente dos Estados Unidos: ela começa com os dois principais partidos com profundas cicatrizes adquiridas durante o processo de primárias e com risco, inclusive, de deserções. Sem um forte apoio interno, fica mais difícil conquistar os eleitores independentes e, assim, chegar à Casa Branca. E com uma forte avaliação negativa, Hillary Clinton e Donald Trump ainda precisam convencer os eleitores a irem às urnas, em um país onde o voto não é obrigatório.

Especialistas alertam que ainda é cedo para dimensionar os impactos destas feridas nas eleições e, principalmente, depois delas. As convenções de ambas as legendas — republicana em Cleveland, Ohio, de 18 a 21 de julho; e democrata em Filadélfia, na Pensilvânia, de 25 a 28 de julho — escancararam ainda mais as divisões.

No partido de Donald Trump, houve uma tentativa de virada de mesa de última hora para evitar que ele fosse oficializado candidato, as grandes estrelas da legenda não discursaram. Ele ainda teve de ouvir, do local da convenção, uma das lideranças mais conservadoras negar o endosso à sua candidatura. Durante as primárias, políticos da legenda falavam abertamente em criar um partido “realmente conservador”, uma vez que viam a legenda refém de um populista.

Já Hillary chegou a ouvir vaias e protestos durante toda a convenção por parte dos apoiadores de Bernie Sanders e precisou encarar vazamentos de e-mails que mostraram como a direção do partido favoreceu deliberadamente a ex-secretária de Estado.

Os mais exaltados afirmavam que houve um golpe na legenda e, por isso, ela precisava ser abandonada, tentando provocar um levante da ala mais progressista.

— Ambos os partidos partem com problemas, em uma situação mais frágil que a habitual. Mas acredito que, após os acenos à esquerda feitos por Hillary, a situação está mais fácil de ser resolvida no lado democrata que no republicano. Nossas pesquisas indicam que o número de republicanos entusiasmados (com a campanha) está 10% menor que em 2012. Isso pode significar uma perda importante de energia para a campanha de Donald Trump — afirmou Clifford Young, presidente da seção de temas públicos dos EUA do instituto de pesquisa Ipsos.

Para ele, só o desenrolar das eleições irá mostrar se os republicanos viverão um racha após a campanha de Trump. E, embora considere ser muito cedo para arriscar alguma previsão, afirma que a legenda vive uma crise de identidade: tem uma plataforma completamente nova e precisará definir se será o partido antitratados comerciais e anti-imigrantes ou se voltará a defender o livre mercado, como fazia no passado, e recuperar sua bandeira da liberdade — que aproximava os imigrantes de seus candidatos.

Opinião semelhante tem o cientista político Michael Crovetto, da Cornell University:

— Ambos os partidos estão vivendo problemas muito sérios, mas acredito que a situação republicana é pior, por haver uma crise de identidade e por estarem muito tempo fora da Presidência. Se os democratas perderem em novembro será apenas uma troca normal de governo — explicou ele, lembrando que é raro um partido ter três mandatos seguidos na Casa Branca.

Por outro lado, os democratas viram uma explosão de escândalos e de rebeldia em sua convenção. Na hora em que começou o discurso de Hillary na noite de quinta-feira, por exemplo, ocorreram algumas vaias isoladas, enquanto alguns delegados saíram do encontro carregando cartazes ou com as bocas tapadas.

Com estes problemas envolvendo os apoiadores de Bernie Sanders, teme-se que a ala mais à esquerda do partido — que mobiliza os movimentos sociais — deixe a legenda. E que com ela saia a bandeira mais usada dos democratas, a favor da tolerância, das minorias, da igualdade racial e de gênero, dos direitos dos gays e dos imigrantes. O deputado democrata Ruben Gallego (Arizona) admitiu ao GLOBO o risco de uma debandada, mas minimizou a situação:

— Isso é possível, mas não será em número suficiente para nos criar um problema. Se querem sair, podem sair, nós continuaremos aqui, na luta. Os republicanos têm maiores problemas internos. Nós estamos unidos como partido. Há algumas pessoas que querem inventar que há problemas, mas não há algo relevante — disse o congressista.

E com a confusão no lado dos rivais, os democratas aproveitaram a convenção para se aproximar do eleitor republicano descontente e até usar algumas de suas bandeiras e mitos. Abraham Lincoln, grande herói da legenda republicana e “pai” do fim da escravidão nos EUA, e Ronald Reagan, o presidente que ajudou a pôr fim ao comunismo, foram citados nos discursos da convenção democrata, inclusive por Barack Obama.

— O partido Republicano sempre foi o mais otimista e patriótico, mas agora estas bandeiras estão com os democratas — disse Crovetto.


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