Compartilhe este texto

Le Pen parte para o ataque contra Macron no segundo turno da França

Por Agência O Globo

24/04/2017 20h04 — em
Mundo



PARIS — Contabilizadas as urnas do primeiro turno, os dois candidatos finalistas da eleição presidencial francesa, o centrista Emmanuel Macron, do movimento Em Marcha!, e a líder da extrema-direita, Marine Le Pen, da Frente Nacional (FN), deflagraram uma nova campanha para acentuar suas diferenças e ampliar suas bases de votos na disputa pela conquista do Palácio do Eliseu. Macron, em vantagem nas pesquisas de opinião, é favorecido por apoios de adversários na eleição que apelam a barrar a ida da direita radical ao poder, e assume um programa de liberalização econômica e de reforço da União Europeia. Le Pen se apresenta como a candidata e antissistema, com prioridades na luta antiterrorista, no combate ao islamismo radical, contra a Europa e por um rígido controle da imigração. Nos resultados oficiais do primeiro turno, Macron venceu com 24,01%, contra 21,30% para Le Pen.

Em seu primeiro compromisso de campanha de segundo turno, numa visita ontem à Rouvroy, cidade do Norte na qual recebeu os votos de 47,2% do eleitorado (contra 12,2% para Macron), a candidata da extrema-direita deu o tom de sua artilharia eleitoral até o 7 de maio, data em que os franceses escolherão seu novo presidente, evocando um de seus temas de preferência em sua tentativa de se distinguir de seu oponente: a ameaça terrorista do Islã radical.

— Sobre o qual, o menos que se pode dizer, é que o senhor Macron é fraquinho. Aí está alguém que se apresenta à eleição presidencial e que não tem programa para proteger o povo francês face ao perigo do terrorismo islamista — acusou.

No plano econômico, Le Pen definiu o segundo turno como “um referendo a favor ou contra a globalização selvagem”, e ironizou a frente formada no país para impedir sua ascensão ao poder:

— A velha frente republicana toda podre, que ninguém mais quer, que os franceses varreram com uma violência rara, tenta se juntar em torno do senhor Macron. Quase tenho vontade de dizer: tanto melhor!

ADESÃO DE HOLLANDE E LÍDERES RELIGIOSOS

O presidente François Hollande manifestou ontem seu apoio ao candidato do movimento Em Marcha!.

— A presença da extrema-direita provoca um risco para nosso país. Diante de um tal risco, não é possível se calar ou se refugiar na indiferença. Por minha parte, votarei em Emmanuel Macron — disse Hollande em pronunciamento na TV.

David Rachline, diretor de campanha de Le Pen, não perdeu a oportunidade para fustigar Macron: “Quando se tem amigos assim, não se precisa de inimigos”, escreveu em seu Twitter.

O próprio Macron parece não discordar inteiramente de seus adversários. Ontem, Hollande convidou-o a participar de uma cerimônia em memória do genocídio armênio de 1915, num monumento à beira do Rio Sena, próximo ao Palácio do Eliseu. O candidato, no entanto, declinou o convite e preferiu depositar um buquê de flores no local separadamente, em outro horário.

Macron recebeu ainda os apoios manifestos da Grande Mesquita de Paris (GMP) e do Conselho Representativo das Instituições Judaicas da França (Crif, na sigla em francês). Num comunicado, Dalil Boubaker, reitor do instituto muçulmano, sinalizou que diante de um segundo turno “que se anuncia decisivo para o destino da França e de suas minorias religiosas, todos os franceses devem permanecer unidos face à realidade da ameaça encarnada por ideias xenófobas perigosas para nossa coesão nacional”. Já o Crif afirmou sua satisfação em ver um candidato defendendo valores democráticos, mas se disse inquieto com os 40% dos votos destinados “aos extremos” no país.

Para Bruno Cautrès, do Instituto de Estudos Políticos de Paris (Sciences-Po), Macron deverá manter sua linha de campanha e o estilo que o tornou um candidato presidenciável, mesmo sem ter sido eleito para nenhum cargo em sua trajetória política. Ele deve, no entanto, esclarecer com que forças políticas pretende formar uma maioria parlamentar, caso seja eleito, e definir quem será o líder do movimento Em Marcha!. Já em relação a Le Pen, o analista acredita que ela deverá reforçar a imagem do final de sua campanha no primeiro turno, quando endureceu seu discurso sobre as históricas bandeiras da FN, e ao mesmo tempo entrar em temas como a proteção social, procurando apontar Macron com um candidato liberal amigo das elites. Mas, na sua opinião, a provável derrota da líder da extrema-direita não será comparável ao baixo placar obtido por seu pai, Jean-Marie Le Pen, em 2002, no segundo turno contra Jacques Chirac, em que perdeu por 82,2% a 19,8%.

— Uma parte dos eleitores de François Fillon (da direita tradicional de Os Republicanos) e de Jean-Luc Mélenchon (da frente de esquerda radical França Insubmissa) votará nela, o que pode levá-la a obter entre 35% e 40% dos votos. Se a FN alcançar este índice, já será um terremoto na França e na Europa. Seu desempenho no segundo turno indicará qual será a margem de manobra de Macron, se for eleito presidente.

O confronto entre Macron e Le Pen, por enquanto, ocorre à distância. Em 3 de maio, no entanto, os dois candidatos se encontrarão face a face em um debate presidencial na TV.


Siga-nos no
O Portal do Holanda foi fundado em 14 de novembro de 2005. Primeiramente com uma coluna, que levou o nome de seu fundador, o jornalista Raimundo de Holanda. Depois passou para Blog do Holanda e por último Portal do Holanda. Foi um dos primeiros sítios de internet no Estado do Amazonas. É auditado pelo IVC e ComScore.

ASSUNTOS: Mundo

+ Mundo