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Itália: 'Tem gente dormindo em carros com medo de casas desabarem', conta brasileira

Por Agência O Globo

25/08/2016 14h00 — em
Mundo



RIO - São 241 mortos até o momento no terremoto que atingiu o centro da Itália na madrugada de quarta-feira. Equipes de resgate na região começam a perder as esperanças de encontrar mais sobreviventes em meio aos escombros. Brasileiros que estão na Itália contam o que viram e os efeitos da tragédia no país.

- Mais do que os danos (em Rieti não houve estragos), a população está com muito medo. Tem muita gente dormindo nas ruas dentro dos carros, quem mora em prédios nos andares mais altos procurou ir para casas de parentes e outros lugares onde se sintam mais seguros. Muitas pessoas feridas das cidades afetadas estão nos hospitais daqui. A população está recolhendo comida, roupas e muitos foram doar sangue, diz Anita Conti, moradora de Rieti, capital da província onde fica Amatrice, epicentro do terremoto.

Segundo a paulista de 20 anos, estudante de arquitetura, os tremores, embora menores, seguem atingindo a região.

- Essa noite dormimos na casa de uma prima e às 5 da manhã teve outro tremor, saímos correndo pra fora da casa. Também teve outro tremor hoje as 14h30 (9h30m de Brasília), e mais uma vez saímos correndo pra um lugar seguro, conta ela.

Os tremores noturnos seguem assustando moradores e visitantes, sem previsão para que parem. Paulo Soncini, paulista de origem e hoje morador de Ancona, estava em Numana, na costa leste do país, quando acordou às 3h30 da manhã de quarta-feira com o terremoto.

- Acordei com tudo tremendo, com barulho da porta de vidro batendo. No início pensei que fosse o vento, diz ele

O brasileiro, morador da Itália há cinco meses, estava na casa do primo. Todos acordaram com o tremor. Segundo ele, o terremoto chegou fraco em Numana e Ancona. As notícias da tragédia não.

- Na hora parecia fraco, quando eu acordei foi um susto, mas você logo via que era fraco, ficou por alguns segundos. Mas no dia seguinte quando vimos o tamanho daquilo, as pessoas precisando de ajuda, as cidades destruídas, uma perda enorme. O que mais me tocou foi quando vi as imagens de uma menina de 10 anos saindo com vida dos escombros. Comecei a chorar lembrando da minha filha, que vive no Brasil. A situação está muito triste aqui, lamenta Paulo.

'Uma tempestade em terra firme'

O aposentado José Ribamar Pinheiro, de 74 anos anos, morador de Niterói, está na cidade de San Severino, região Marche e próxima ao local onde houve o epicentro do terremoto. Ele não ficou ferido nem no tremor nem nas réplicas.

- O susto muito grande. Estou hospedado num antigo Palazzo construído em 1600 e onde também funciona a Edulingua, escola para ensinar italiano a estrangeiros. Às 03h40 tivemos o primeiro abalo sacudiu todo o prédio. Havia cerca de 50, 60 pessoas hospedadas e só atentamos para a gravidade 20 minutos depois, quando houve um segundo abalo, conta ele.

Segundo José, todos saíram do prédio com medo de um desabamento.

- Nos concentramos na parte mais baixa e junto à saída que dá acesso à parte mais larga da rua, onde, numa emergência, poderíamos correr para nos abrigarmos longe do prédio se desabasse. Nesse meio tempo recebemos a visita do diretor da escola, que nos acalmou um pouco mostrando que o prédio tinha 1.600 anos e já tinha sobrevivido vários abalos. Só mais tarde soubemos que em regiões mais próximas ao epicentro os estragos foram enormes, com vítimas fatais, soterradas e algumas ainda desaparecidas.

Entretanto, segundo ele, as informações não está ajudando as pessoas a dormirem melhor: os tremores não param.

- Hoje (quinta-feira) levantei às 05h15 com outro abalo, mais leve e curto. A explicação que pesquisei é que é normal essa "acomodação" de terreno após os grandes abalos. Às vezes são imperceptíveis, mas é difícil ficar sem medo assim, afirma ele.

José, funcionário aposentado da Petrobras, diz que as únicas coisas que já viu parecidas com o primeiro abalo foram tempestades em alto-mar:

Estive embarcado como oficial da marinha mercante, teve alguns episódios de tempestades em alto mar e depois, na Petrobras, algumas poucas experiências ao trazer duas plataformas construídas no Japão. Mas um barco treme normalmente. Um prédio tremer daquele jeito é algo que ninguém espera.

'Tetos de cimento caíram'

A brasileira Beatriz Spagnuolo mora em Roma. Acordou com o tremor, mas a capital da Itália não teve danos sérios. Entretanto, o medo e o horror com a tragédia se espalham por todo o país.

- Amatrice, que foi o epicentro, é uma cidade muito antiga, chamam de a Suíça italiana. Muitos turistas vão pra la, alias essa época de ferias, verão aqui, tinha muita gente la. As notícias que temos aqui é que as casas desabaram lá porque as restaurações foram mal-feitas, conta a estudante de 22 anos, de Salvador e moradora da Itália há 9 anos.

Segundo ela, as casas tradicionais da cidade são feitas de pedra. Os tetos originalmente eram feitos de madeira e com o tempo apodreceram. Em anos recentes, teriam sido substituídos por tetos de cimento, que desabaram com o tremor:

- Amigos meus arquitetos dizem que isso pode ser visto nas fotos, que as casas que caíram são as com tetos de cimento, na maioria dos casos, a estrutura não teria aguentado o peso do teto depois que tudo começou a tremer.

Ela, que estuda direito na Universidade de Roma "La Sapienza", diz que a uma lei europeia sobre restauração de casas medievais e da Renascença para evitar problemas do tipo, mas moradores da cidade dizem que não teria sido cumprida, afirma a imprensa local.


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