Artigo: ‘Jornalismo não é um crime’
ANCARA — As perseguições e as pressões que sofremos ao trabalhar no jornal “Meydan” são tão graves que poderiam fazer parte dos livros didáticos. Só para terem uma ideia, resumirei o que sofremos durante o processo.
Fui convocado a ir à delegacia várias vezes, e provavelmente todos os funcionários da delegacia de Bakirkoy me conhecem. Parei de contar as acusações e investigações sobre mim, e nunca faltaram ameaças nas redes sociais. Mesmo sabendo que o jornal será fechado, decidimos trabalhar até a última edição.
Emitiram um mandado de prisão contra mim devido a uma ação judicial que sequer consta no sistema de processos jurídicos. Na quarta-feira passada, fui detido. O policial foi truculento ao me algemar, no chão, na frente dos meus amigos.
O acesso ao jornal foi bloqueado. No último dia, estávamos trabalhando normalmente quando os policiais chegaram. Só assim fiquei sabendo que havia um mandado de prisão contra mim. Não consigo acreditar que estes últimos acontecimentos façam parte de um processo judicial.
Perdi a minha fé na existência da Justiça na Turquia. Tomara que eu não tenha razão. Eu somente fiz jornalismo, e isso é suficiente para mim! Eu me posicionei contra o golpe, podem conferir pelas manchetes e pelos artigos que publicamos no jornal.
A minha consciência está tranquila, não importa se serei preso ou não. Sou jornalista, e jornalismo não é crime. Não faço parte de organização alguma. Ver a humilhação e o descrédito do jornalismo crítico me deixa triste. Agradeço a todos que me apoiaram e oraram. Estou em paz comigo. Não perdi minha fé em vermos dias melhores. Mando abraços aos colegas de trabalho. Foi uma honra trabalhar com eles. Era o meu destino, aceito com prazer.
*Diretor do jornal turco “Meydan”, fechado após a tentativa de golpe. Levent Kenez escreveu este artigo antes de ser preso anteontem
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