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Após visita ao México, Trump defende muro na fronteira e ataca migrantes ilegais

Por Agência O Globo

31/08/2016 23h26 — em
Mundo



WASHINGTON - Donald Trump voltou ao tema que embalou o início de sua candidatura: a imigração. Mas, nesta quarta-feira, ele deu sinais trocados sobre o assunto. Depois de uma ousada visita-relâmpago ao México, o candidato republicano fez um forte discurso sobre o tema em Phoenix (Arizona). Se diante do presidente Enrique Peña Nieto o magnata adotou um tom mais ameno, elogiou os mexicanos e prometeu trabalho conjunto, em casa voltou à carga, defendeu enfaticamente erguer um muro fronteiriço, disse que terá “tolerância zero” com estrangeiros que cometem crimes e chegou até a insinuar a deportação de sua oponente democrata, Hillary Clinton. No longo discurso, de mais de uma hora de duração, Trump chamou ao palco parentes de americanos mortos por imigrantes ilegais.

— Vamos triplicar o número de deportações — disse Trump no Arizona, afirmando que não “passará a mão” na cabeça de criminosos, como “fez Hillary Clinton quando era secretária de Estado”. — Talvez eles (o órgão de deportação) possam deportá-la.

O discurso voltou a flertar com o ódio, apresentando os imigrantes ilegais como uma ameaça aos americanos e afirmando haver dois milhões de estrangeiros criminosos nos EUA, segundo suas contas. Trump começou lembrando de casos de americanos que foram mortos por imigrantes ilegais e disse que nem o presidente Barack Obama e nem Hillary “têm compaixão” por estas vítimas. E disse que os mexicanos pagarão pelo muro que será construído na fronteira com o México:

— Eles não sabem ainda disso, mas vão pagar pelo muro. E vão pagar por 100% — disse Trump em Phoenix, entrando na grande polêmica do dia, que teve ainda a defesa do fim das “políticas de admissão” do governo Obama e as promessas de reforço nas equipes de patrulha, de endurecimento de leis e do veto a sírios e líbios.

Na sua ousada viagem ao México, Trump voltou a defender sua proposta:

— Os EUA têm o direito de construir um muro fronteiriço — disse ao lado do presidente mexicano.

Numa rápida entrevista coletiva após o encontro na Cidade do México a portas fechadas, o candidato disse que não debatera com Peña Nieto quem pagará pela construção — embora sempre tenha dito que obrigaria os mexicanos a arcarem com o custo bilionário. Peña Nieto, que ouviu calado, deu uma outra versão em seu Twitter: “No começo da conversa com Donald Trump deixei claro que o México não pagará pelo muro”, escreveu.

Trump evitou entrar em confronto com Peña Nieto e elogiou o mandatário mexicano. Mas este episódio sairá mal para algum deles (ou ambos): um deles está mentindo, e isso deverá ser explorado na campanha eleitoral nos próximos dias.

A barreira foi a primeira grande proposta de Trump em sua corrida para a Casa Branca e sempre foi cercada de polêmicas. O magnata chegou a dizer que o México manda “estupradores e criminosos” para os EUA e que o muro controlaria a imigração ilegal, o tráfico de drogas e o envio de armas. Anteriormente na campanha, Trump ainda acusara os mexicanos de roubarem empregos dos americanos com o Acordo de Livre Comércio da América do Norte (Nafta, do qual também faz parte o Canadá). E usou a “herança mexicana” de um juiz para ofendê-lo no período das primárias partidárias.

A reunião na capital mexicana tomou conta do debate político nos EUA ontem. Embora os dois tenham dito que a reunião foi “aberta” e “produtiva”, cada um saiu reforçando seu discurso. Trump dominou o evento, que ocorreu no salão presidencial mexicano. Disse que pode chamar Peña Nieto de amigo, conseguiu a foto do aperto de mãos entre os dois e ainda “coordenou” a rápida entrevista coletiva após os pronunciamentos. O republicano escolhia quais repórteres fariam as perguntas e respondia livremente — apenas na última intervenção deu o direito de fala a Peña Nieto, outro ponto que foi muito criticado pelos mexicanos. Tecendo elogios, tentou mostrar um lado mais presidencial — e maleável:

— Mexicanos são espetaculares. E trabalhadores. Tenho grande respeito por eles e seus valores de família, fé e comunidade — disse.

Peña Nieto, por sua vez, tentou fazer um discurso de estadista e disse que EUA e México precisam um do outro mutuamente. Ele também aproveitou para, indiretamente, responder às críticas de Trump aos mexicanos:

— A comunidade mexicana contribui todos os dias com seu trabalho, talento e criatividade para o desenvolvimento dos EUA e do México. São pessoas honestas, trabalhadoras e de bem, que respeitam a família, a vida em comunidade e a lei. Os mexicanos merecem o respeito de todos, e vamos seguir trabalhando para solidificar a relação — declarou, acrescentando que apoiará o próximo governo, independentemente do resultado das eleição presidencial de novembro.

A visita ao México, anunciada com surpresa na noite de terça-feira, visa a tornar a campanha de Trump mais aceitável aos latinos, que devem representar 13% dos votos em novembro. Alguns esperavam que seu discurso sobre imigração seguiria esta linha, mas ele voltou a apresentar a linha-dura de antes. No discurso de Arizona, disse que fará mais pelos latinos e pelos negros que Hillary, que ganha de lavada nestes dois grupos étnicos. E disse que limitará a imigração legal para fazer os salários dos americanos aumentarem.

Peña Nieto foi duramente criticado por receber Trump, visto por muitos como um “inimigo” dos mexicanos. Algumas figuras proeminentes do país disseram que o republicano não eram bem-vindo e deveria pedir desculpas ao povo mexicano. Ex-presidentes e postulantes à sucessão de Peña Nieto o criticaram abertamente, e especialistas do país indicam que este encontro e o aperto de mãos pode ter sido seu “suicídio político”.

Hillary Clinton também atacou o encontro. Em comício em Ohio, disse que “uma visita ao México não compensa os insultos” que Trump já proferiu contra os latinos.

Mas a democrata não vive um bom momento: pesquisas divulgadas ontem apontam que sua taxa de rejeição é de 59%, mesmo patamar de Trump, de 60%. Ela tem apenas 38% de opinião favorável, contra 37% de Trump. A sondagem Reuters/Ipsos, que chegou a dar dez pontos de vantagem para a democrata, mostra ambos em empate técnico, com Hillary tendo apenas um ponto de vantagem: 40% a 39% das intenções de votos.


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