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Análise: Por que a França é o principal alvo do terror?

Por Agência O Globo

27/07/2016 3h52 — em
Mundo



PARIS — Quando extremistas ligados ao Estado Islâmico (EI) querem atacar a Europa, a França é o alvo favorito. Desde janeiro de 2015, ataques inspirados pelo EI mataram pelo menos 235 pessoas no país, mais que em qualquer outra nação ocidental. Cidadãos franceses e residentes no país realizaram a maior parte dos atentados, quase sempre utilizando táticas suicidas.

Analistas concordam com a afirmação do presidente francês, François Hollande, de que o país é o principal alvo do terrorismo por sua reputação de berço da democracia moderna e dos direitos humanos. No entanto, apontam a história colonialista da França, suas tensões demográficas e políticas intervencionistas contra muçulmanos no exterior como as principais motivações por trás dos atos dos terroristas.

A França abriga a maior população muçulmana da Europa, e muitos deles cresceram falando o idioma local nos distritos mais pobres e alienados do país. A tentativa de promover a integração da população muçulmana a uma sociedade secular aumentou as tensões em diversas ocasiões, como nas proibições do uso de véus nas salas de aula, em 2004, e das burcas, em 2010.

“Aqueles que ficaram à margem da sociedade francesa são mais rancorosos que os imigrantes no Reino Unido e na Alemanha”, afirmou o sociólogo Farhad Khosrokhavar ao “New York Times”.

O Marrocos conseguiu sua independência em 1955, a Tunísia em 1956, e a Argélia em 1962. Mas assim como acontece na África Ocidental, onde o capital e as tropas francesas continuam a atuar ajudando governos amigos de Paris, a França nunca retirou completamente sua influência do Norte da África, mantendo um papel muito maior do que o desempenhado pelo Reino Unido em suas antigas colônias. E essa atuação militar nas antigas colônias africanas aumentou durante o governo de Hollande, que em 2013 ordenou uma intervenção no Mali e ainda hoje mantém soldados espalhados pelo continente. Não é surpresa, portanto, dizem os analistas, que a maior parte dos responsáveis por ataques na França tenha laços familiares com o Norte e o Oeste da África, e não com o Oriente Médio.

Os filhos desses imigrantes africanos agora buscam atender ao chamado de recrutamento do EI em níveis bastante superiores aos de outras nações europeias. Cerca de mil cidadãos franceses, a vasta maioria deles descendentes de muçulmanos africanos, viajaram à Síria, ou foram detidos em sua tentativa, desde que o país — que também passou duas décadas sob domínio francês — entrou em ebulição há cinco anos. O EI, por sua vez, intensificou sua propaganda usando jihadistas francófonos em pelo menos nove comunicados emitidos nos últimos três meses, e pedindo que “seus soldados derramem o sangue dos porcos, destruam suas almas e façam a França tremer”.

Em resposta ao ataque que deixou dezenas de mortos em Nice no Dia da Bastilha, Hollande prometeu ampliar a participação francesa na coalizão que combate o EI no Iraque e na Síria. Alguns analistas, no entanto não veem na participação militar francesa um motivo para os ataques. Segundo eles, o país abriga a maior concentração de muçulmanos marginalizados do planeta, que enxergam sua pátria como um local pecaminoso e hostil às tradições islâmicas.

— Não sei dizer se o terrorista que atacou com um caminhão em Nice estava particularmente preocupado com os bombardeios sobre Raqqa — diz o analista François Heisburg, da Fundação de Pesquisa Estratégica.

Para Heisburg, ataques à população francesa utilizando terroristas locais deram ao EI a chance de agir com “sucesso garantido” contra uma nação que representa, aos olhos de seus líderes, “um alvo de descrença, heresia e apostasia”.


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