Um dos símbolos da sensualidade, o salto alto está presente na vida das mulheres quase que diariamente. São sexys, minimalistas e transformam qualquer produção. Porém, o uso contínuo e excessivo dele, além da má qualidade do produto, podem trazer desconforto ou se tornar porta de entrada para doenças na coluna, na planta do pé e em toda a estrutura óssea.

O médico ortopedista Medre Henrique, titular da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia (SBTO), alerta para o uso diário do salto alto. Entre os principais fatores prejudiciais estão alterações na curvatura do pé (que causam dor e inflamação), acentuação da curvatura lombar e encurtamento do músculo da panturrilha. As desordens biomecânicas no corpo causam sobrecarga no joelho, no tornozelo e o quadril. Em alguns casos, as deformidades nos dedos são irreversíveis. "Apesar do risco existente, o sapato alto não é o vilão da história. O risco ocorre se ele for usado de forma exagerada e desenfreada. O uso do sapato alto de forma rotineira (+ de 3 vezes na semana) e em excesso (+ de 6 horas por dia) podem causar problemas na coluna, joelhos e, principalmente, nos pés".

De acordo com o ortopedista, as mudanças genéticas da mulher (como menstruação, gravidez, peso da mama, oscilação de peso e carregamento de pesos) associadas ao uso excessivo do salto podem sim trazer doenças, principalmente na região lombar da coluna. Ele ressalta que a mulher tem mais probabilidade de apresentar problemas por ter articulações mais maleáveis. Quanto mais alto for o sapato, maior é o seu efeito negativo.

"O corpo é projetado para frente, e para ter o equilíbrio, a pessoa força sua coluna para trás, causando uma hiperlordose lombar. Já nos pés, devido ao salto alto, todo o peso do corpo é sustentado pela parte anterior do pé, podendo causar hálux valgo (joanetes), metatarsalgia (dor na frente dos pés) ou calosidade", diz Medre Henrique. Ele alerta que o uso crônico do salto também pode causar o aparecimento da hérnia de disco.

Um estudo feito pelo pesquisador da Universidade de São Paulo (USP), Wagner Tedeschi Filho, aponta que altura do salto maior do que 3,5 centímetros é prejudicial à saúde. Medre indica que até 5 cm, cerca de três dedos de largura, com bases largas e solado em borracha, ainda é seguro para o uso. "O ideal é usar saltos de até 5 cm de altura com base largas. Caso for necessário o uso de saltos maiores, a mulher não deve ficar mais de 6 horas com eles. Ela deve intercalar com saltos menores. Os solados de borracha são outras boas opções por absorverem melhor o impacto. E, se for possível, ao sentar, tire o salto e apoie os pés no chão, principalmente se for ficar muito tempo sentada".

Como identificar possíveis problemas causados pelo salto alto?

A concentração de peso na panturrilha é um dos motivos que causam outros distúrbios no corpo. Os principais sensores de risco são a dor, o cansaço e o inchaço nas pernas. Entretanto, outros fatores acendem o alerta para possíveis problemas com o uso do calçado, como por exemplo: desenvolvimento de calosidades; manchas avermelhadas; aparecimento dos famosos olhos de peixe; bolhas nas pontas dos pés; deformidades dos dedos; inflamação dos nervos das plantas dos pés; tendinites; desgaste e dor nos joelhos e joanetes.

"O primeiro passo é o diagnóstico de cada doença e depois seguimos com o tratamento adequado. A mulher tem que mudar o estilo de vida e diminuir o uso de salto alto. O profissional vai administrar analgésicos, outras opções fisioterápicas e até mesmo indicar cirurgias corretivas caso necessário", ressalta o ortopedista.

Modelo plataforma é indicado?

O sapato com salto inteiro, mais conhecido como plataforma ou Anabela, é uma opção para as mulheres que não conseguem usar calçados sem salto. Ainda assim, ele - apesar de proporcionar maior sensação de conforto aos pés - pode prejudicar a circulação do sangue venoso nas pernas.

A plataforma também reduz a mobilidade e altera a forma de apoio em mata-borrão dos pés. Em alguns casos, esse modelo de salto até é indicado para o tratamento de patologias nos pés. Apenas um ortopedista poderá indicar qual o melhor calçado para o uso diário.