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Líder comunitária dá nova pista para polícia sobre morte de Marielle Franco

Por Portal Do Holanda

23/06/2018 10h59 — em
Policial


Foto: Emily Almeida

RIO - Um depoimento prestado por uma líder comunitária de Vargem Pequena, na Zona Oeste do Rio, ofereceu à Delegacia de Homicídios (DH) da Capital uma nova pista sobre a motivação do assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL) e do motorista Anderson Gomes, que ontem completou cem dias. A presidente de uma associação de moradores disse que, em novembro do ano passado, foi ameaçada por homens armados que invadiram sua comunidade, irritados com as atividades de um movimento popular de regularização fundiária supostamente ligado ao gabinete de Marielle.

A mulher disse, em depoimento dado na semana passada, que só escapou de um ataque porque um dos homens armados constatou que ela não era a pessoa que estavam procurando. Para os investigadores, um dos motivos da abordagem criminosa pode ter sido a atuação, na região, de um grupo de pessoas que se identificavam como representantes de Marielle. Elas, segundo a polícia, entraram em áreas cujo eleitorado é dominado por milícias. E o objetivo dessas ações seria incentivar uma luta por títulos de posse de terrenos em comunidades carentes.

Uma linha de investigação da DH aponta que a “invasão” do grupo da vereadora incomodou políticos da região, que passaram a ficar preocupados com a possibilidade de perderem eleitores para Marielle.

Em março do ano passado, uma moradora de Vargem Pequena procurou o gabinete da vereadora. Ela pediu o apoio de Marielle e sua equipe para tentar regularizar terrenos da região ocupados por famílias carentes. No mesmo mês, foi realizada uma reunião, da qual participaram duas assessoras da parlamentar, um representante da Defensoria Pública e integrantes de uma comissão de moradores. O debate foi acompanhado por líderes comunitários de dez favelas.

'AMEAÇA A POLÍTICOS'

Depois da reunião, a pessoa que procurou o gabinete de Marielle passou a representá-la em outros encontros dedicados ao mesmo tema — o problema fundiário é comum na região que abrange Vargem Pequena, Vargem Grande, Pedra de Guaratiba e Ilha de Guaratiba. A atitude da moradora, que mostrava fotos suas com a vereadora (que não comparecia aos eventos), começou a ser vista, segundo investigadores, como uma ameaça à influência de dois políticos.

— O slogan “Marielle presente” era usado por quem dizia representá-la. A imagem dela foi associada ao movimento pela regularização de terrenos naquela parte da Zona Oeste — disse um policial da DH que participa da investigação do assassinato.

Em novembro do ano passado, quatro meses antes da execução de Marielle e Anderson, surgiu a primeira ameaça ao movimento. Homens armados chegaram de carro a uma favela de Vargem Pequena perguntando pela líder comunitária que se dizia representante de Marielle. Moradores indicaram um endereço, mas, quando chegaram ao local, os invasores perceberam que a mulher que vivia ali não era a mesma da foto que um deles segurava junto com uma pistola. Mas, antes de ir embora, um integrante do grupo deixou um aviso.

‘O slogan “Marielle presente” era usado por quem dizia representá-la. A imagem dela foi associada ao movimento pela regularização de terrenos naquela parte da Zona Oeste’

— Ele disse “avisa aí, na sua comunidade, que as pessoas não podem se meter na nossa” — contou, ao GLOBO, a mulher que prestou depoimento à DH.

Para a polícia, o relato traz novas pistas para a investigação da morte de Marielle e Anderson. Segundo um agente da DH, o gabinete da vereadora se envolveu numa luta pela regularização fundiária de terrenos da Zona Oeste, cujos moradores reivindicavam a posse por meio do usucapião.

A especulação imobiliária na região ganhou força nos últimos anos, apesar de, em muitos casos, envolver áreas de preservação ambiental, inclusive do Maciço da Pedra Branca. Condomínios irregulares foram erguidos e assentamentos, formados. Parte deles fica numa área onde, segundo a polícia, Orlando Oliveira de Araújo, o Orlando da Curicica, atuava. Ele foi preso dentro de casa em outubro do ano passado, em Vargem Grande.

 


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ASSUNTOS: líder comunitária, Marielle Franco, pista, Policial

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