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Refugiados viram alvos da prostituição na Alemanha

Por Agência O Globo

13/01/2018 19h01 — em
Mundo



BERLIM - Protegidos pelo Estado quando chegaram à Alemanha ainda crianças, os jovens refugiados são entregues à própria sorte ao atingirem a maioridade: quem tem o pedido de asilo recusado, já na clandestinidade e sem ajuda, encontra o caminho da prostituição. A realidade é tão dramática que ONGs que trabalham com refugiados calculam que este grupo de imigrantes já compõe 90% da prostituição masculina na Alemanha.

A ONG Ajuda a Rapazes () monitora a rotina destes jovens. O funcionário Rolf Rötten distribui preservativos e oferece aos que vivem nas ruas a possibilidade de tomar banho e lavar a roupa na sede da organização, que faz parte da associação federal Ajuda Aids. Segundo ele, o combate ao problema é árduo.

— Entre o tempo de espera por uma decisão das autoridades sobre o pedido de asilo e a recusa, os jovens refugiados entram em crise. O combate à prostituição só é possível com mais chances de educação e de emprego — observa Rötten.

As ONGs que acompanham refugiados começaram a registrar o problema no início do ano passado. Por coincidência, nessa época o Tiergarten — uma área de 210 hectares que, antes de tornar-se o primeiro parque público de Berlim, no final do século XVIII, era um reduto de caça dos aristocratas — começou a atrair moradores de rua. Eram tanto alemães quanto imigrantes dos países do Leste, membros da União Europeia, como búlgaros, poloneses e tchecos, que têm direito a permanecer no país, mas não recebem ajuda financeira, nem conseguem emprego por falta de qualificação. A estes se somaram os refugiados que não obtiveram o status de asilado. E também aqueles que não têm, sequer, o status de “tolerado”, no qual a pessoa pode ficar no país por motivos humanitários, mas não na condição de asilado.

Mas foi uma reportagem divulgada no fim do ano passado pela TV ZDF que despertou imediatamente a reação das autoridades municipais. Segundo a emissora, os próprios guardas dos abrigos estariam atuando como agenciadores de uma rede de prostituição masculina. A ZDF acusa os encarregados de segurança dos lares de obrigar parte dos refugiados a se prostituir. Legalizada na Alemanha, a prostituição é proibida se for forçada ou envolver menores de idade.

Temeroso de ser identificado pela família na internet, o afegão Mohammad, de 20 anos, não revela o seu sobrenome nem permite ser fotografado. Ele justifica sua opção de integrar uma rede de prostituição masculina.

— Não vejo outra possibilidade para ganhar dinheiro. É sempre melhor do que roubar — diz.

Ilyas A. veio para a Alemanha criança e desacompanhado. Passava os dias com outros imigrantes no parque. Há poucas semanas, ele assassinou a historiadora de arte Susanne Fontaine, de 60 anos, no parque Tiergarten, para roubar um celular de € 50. O crime causou muita comoção porque aconteceu em paralelo ao julgamento de um afegão de 17 anos, que no ano passado estuprou e assassinou uma estudante de medicina de 21 anos, em Freiburg, no sul do país.

Depois que o governo alemão tornou mais rígida a lei de asilo, afegãos perderam o direito de serem reconhecidos como refugiados, já que o país foi excluído da lista de nações que oferecem risco de vida a uma parte de seus cidadãos. Ainda assim, este grupo prefere ficar na Alemanha.

Há também refugiados da Síria e do Iraque que receberam permissão de permanência e se prostituem para financiar o vício em drogas. Segundo um estudo de um grupo de psiquiatras alemães, a dependência é quase sempre consequência do trauma dos horrores do terrorismo, da guerra ou mesmo da fuga.

A brasileira Patricia Sanches Lima, da ONG berlinense Kompaxx, que trabalha com famílias e administra lares de adolescentes, admite que muitos jovens refugiados enfrentam problemas quando perdem o status de “menor desacompanhado” e, com isso, a proteção do Estado alemão.

A promotoria alemã começou a investigar a denúncia feita pela TV alemã. Stephanie Reisinger, da assessoria de imprensa do Departamento Municipal de Assuntos de Refugiados, confirmou ao GLOBO a abertura de um processo de investigação:

— Até agora, não conseguimos comprovar a denúncia.

Outra medida das autoridades foi banir as tendas do parque. Mas os seus moradores continuam a viver nos arredores, debaixo de um viaduto ou em áreas abertas próximas, para voltar assim que a polícia se retira.

Embora seja a capital do país mais rico da UE, Berlim registrou cerca de 20 mil sem-teto. A população de rua, contudo, pode encontrar lugar em abrigos de emergência. Cerca de seis mil vivem nas ruas, e há somente mil vagas para passar a noite durante o inverno.


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