Compartilhe este texto

Mortes em protestos agravam crise no Irã e países defendem manifestações

Por Agência O Globo

01/01/2018 21h01 — em
Mundo



TEERÃ — Os acirramento nos confrontos entre manifestantes e forças de segurança deixaram nos dois últimos dias 11 mortos nas manifestações que tomaram conta do Irã desde a última quinta-feira, aumentando para 13 o número de vítimas fatais — incluindo um policial na segunda-feira. Novos protestos voltaram a tomar as ruas de Teerã no começo da noite, novamente com uma forte presença policial. Na capital, 200 pessoas foram detidas, e outras 200 acabaram presas em diferentes cidades da província. Enquanto a imprensa estatal divulgava imagens de manifestantes incendiando prédios públicos, o presidente iraniano, Hassan Rouhani, voltou a ameaçar o uso da força contra os “agitadores e os que descumprirem a lei” e reagiu às novas críticas de Donald Trump. Rouhani chegou a ligar para o chefe de Estado americano.

— Trump não tem o direito de simpatizar com manifestantes porque chamou o povo iraniano de terrorista no passado — desafiou.

A Rússia criticou indiretamente as declarações do governo americano, afirmando que as manifestações são um “caso interno” do Irã. Em nota, o Ministério das Relações Exteriores acrescentou que “a interferência externa que desestabiliza a situação é inaceitável”, mas reiterou que espera que os protestos “não se desenvolvam sob o cenário de derramamento de sangue e violência”. Preocupado com os distúrbios, o Ministério de Assuntos Exteriores do Bahrein pediu a seus cidadãos que não viajem para o Irã “sob nenhum pretexto”, enquanto a Alemanha solicitava que Teerã permitisse protestos pacíficos.

Em reunião com deputados iranianos, na segunda-feira, Rouhani pediu calma e instou a unidade nacional, enquanto seu governo tenta lidar com o levante espontâneo generalizado que se espalhou pelo país. O presidente reforçou que os iranianos tinham o direito de protestar legalmente, mas criticou os “agitadores”, a quem chamou de uma pequena minoria.

— A crítica não é o mesmo que a violência, que destruir os bens públicos. Isso deveria ficar claro para o mundo: somos uma nação livre e, em virtude da Constituição, o povo é absolutamente livre para expressar suas críticas e inclusive para protestar — disse, tentando minimizar o significado de protestos. — Nossa grande nação testemunhou uma série de incidentes semelhantes e soube lidar com eles confortavelmente. Isso não é nada.

Mais cedo, em novas críticas ao governo iraniano, Trump afirmara que é “tempo de mudança” no Irã e que a população do país estava “com fome de liberdade”. “Os regimes opressivos não podem durar para sempre, e chegará o dia em que o povo iraniano enfrentará uma escolha”, tuitou. “O Irã está falhando em todos os níveis, apesar do terrível acordo feito com eles pelo governo Obama”.

Mas as mortes se espalharam pelo país. Dois manifestantes morreram no domingo à noite na cidade de Izeh, e outras duas pessoas em Dorud, em um incidente indiretamente relacionado com os protestos. Um dia antes, duas pessoas haviam morrido na mesma cidade, mas o vice-governador provincial garantiu que as forças da ordem não atiraram na multidão. Segundo a TV pública iraniana, mais seis pessoas perderam a vida nos protestos na cidade de Tuyserkan, por “tiros suspeitos”.

Na segunda, um policial foi morto a tiros e três ficaram feridos, de acordo com um porta-voz da polícia — a primeira morte de um agente das forças de segurança desde que as manifestações começaram.

— Um rebelde se aproveitou da situação na cidade de Najaf Abad e disparou contra as forças policiais com um rifle de caça. Como resultado, três foram feridos e um foi martirizado — afirmou Saeing Montazer al-Mahdi, citado pela TV estatal iraniana, que não especificou quando o incidente ocorreu.

A repressão também continua forte. Após a morte do policial, o Ministério da Inteligência emitiu um comunicado, afirmando que “os instigadores dos recentes tumultos foram identificados e alguns foram detidos”. A polícia também anunciou a prisão de quatro pessoas que haviam queimado a bandeira da República Islâmica do Irã.

Os protestos começaram na quinta-feira, na cidade de Mashhad, a segunda maior do país, contra o aumento do custo de vida, a corrupção, o desemprego e as dificuldades econômicas, mas se espalharam rapidamente por outros centros urbanos e ganharam conotação política. Alguns manifestantes pedem a renúncia do líder religioso aiatolá Ali Khamenei e do governo, descrito como “ladrão”.

Embora o número de manifestantes tenha se limitado a algumas milhares de pessoas nos primeiros dias, esta foi a primeira vez — desde 2009 — que tantas cidades foram palco de protestos de cunho social. Para tentar conter as manifestações, o governo anunciou o bloqueio temporário dos aplicativos Instagram e Telegram, que vinham sendo usados como ferramentas para organizar os protestos. Também há relatos de que o acesso à internet por celulares foi banida em algumas regiões do país.


Siga-nos no
O Portal do Holanda foi fundado em 14 de novembro de 2005. Primeiramente com uma coluna, que levou o nome de seu fundador, o jornalista Raimundo de Holanda. Depois passou para Blog do Holanda e por último Portal do Holanda. Foi um dos primeiros sítios de internet no Estado do Amazonas. É auditado pelo IVC e ComScore.

ASSUNTOS: Mundo

+ Mundo