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Fundação americana desiste de patrocinar evento na Índia por causa de arquiteto da Síria

Por Agência O Globo

17/11/2017 7h11 — em
Mundo



BRASÍLIA- A participação de um em encontro mundial sobre preservação da monumentos fez com que a , organização americana conhecida internacionalmente por patrocinar ações de preservação do patrimônio histórico e artístico, pedisse a devolução do dinheiro repassado para o evento que ocorrerá em dezembro na Índia. No mês passado, a fundação avisou que não poderia mais patrocinar financeiramente a assembleia geral do (Conselho Internacional de Monumentos e Sítios), uma ONG que assessora a na preservação de patrimônio arquitetônico mundial. Alegou que estava impedida de fazer tal doação por conta de sanções do governo dos Estados Unidos aos governos da Síria e Iraque. E que tal sanção se aplicava a funcionários do governo desses dois países, como o arquiteto sírio que dá aulas em uma universidade pública na Síria e é membro do Icomos.

A Fundação Getty pediu desculpas aos organizadores do evento, mas deu uma sugestão: desconvidar o sírio para que não houvesse problema com o patrocínio. O Icomos, que já havia gasto os 80 mil euros do patrocínio para organizar o encontro internacional, preferiu "seguir seus princípios", como manifestou em comunicado aos seus integrantes, e avisou que irá devolver o dinheiro à Getty. O Icomos vai manter a participação do arquiteto sírio, cuja identidade preferiu preservar.

Segundo relato publicado pelo Icomos, a Fundação Getty alegou que não tinha problema algum com a ONG ligada à preservação dos monumentos, mas por motivos "imprevistos" se via obrigada a cancelar o patrocínio para realização da Assembleia Geral do Icomos na Índia em dezembro. A Getty alegou que teve que tomar tal medida por conta da participação na assembleia geral de um arquiteto da Síria que dá aula em universidade pública daquele país. "A Fundação Getty deu à Icomos a alternativa de impedir a participação (do arquiteto sírio) ou ter a doação revogada", diz nota divulgada pelo Icomos.

A entidade de arquitetos decidiu então abrir mão do dinheiro do patrocínio. "Icomos escolheu seguir seus princípios e devolver a doação à Fundação Getty", diz o comunicado da entidade. O Icomos lançou uma campanha na internet há três dias para arrecadar fundos a partir de doação de voluntários. Até a noite de ontem, a entidade tinha arrecadado 12,8 mil euros.

O GLOBO entrou em contato com a sede do Icomos internacional em Paris. A entidade confirmou o caso envolvendo a fundação americana e o arquiteto sírio. Segundo o Icomos, a Getty patrocina eventos do conselho de preservação de monumentos desde 1993 e essa foi a primeira vez que houve um problema.

A diretora-geral do Icomos, Gaia Jungeblodt, enviou ao jornal cópia de uma explicação que distribuiu aos arquitetos que pediram detalhes sobre o caso. A entidade foi informada pela Getty que qualquer organismo americano que patrocine ou financie evento do qual participa um funcionário dos governos da Síria ou Iraque, incluindo empregados da área de ensino ou cultura, corre o risco de ser acusado de violação das sanções impostas pelas autoridades dos EUA aos dois países. Eventual patrocínio só poderia ser feito com autorização expressa do governo americano e o processo para concessão dessa autorização costuma levar meses. As sanções estão em vigor desde 2012, mas a Getty alegou que só agora se deu conta do alcance da regra e que as exceções nelas previstas eram por demais estreitas.

"Uma vez que havia uma pessoa, um jovem arquiteto sírio, que dá aula em regime de tempo parcial em uma universidade estatal síria, Getty deu ao Icomos a alternativa de desconvidá-lo ou de devolver os fundos da subvenção para cumprir a lei dos EUA. A Fundação Getty disse ao Icomos que lamenta profundamente essas circunstâncias, porque continua comprometida com o intercâmbio internacional entre todos os países e que valoriza seu relacionamento de longa data com o Icomos", diz o comunicado de Gaia Jungeblodt.

A diretora preferiu não revelar a identidade do sírio para preservá-lo. "A questão não é a pessoa em particular, mas o fato de que, aparentemente, qualquer indivíduo empregado pelos governos da Síria ou do Iraque (mesmo aqueles empregados por organizações ou divisões educacionais ou culturais) sem uma licença específica do governo dos EUA coloca patrocinadores dos EUA, como a Getty em risco de violar as sanções impostas pelo governo dos Estados Unidos", justificou Gaia, em resposta por e-mail ao GLOBO.

O escritório central da Fundação Getty, em Los Angeles, enviou ao jornal uma declaração sobre o caso. A fundação admitiu que só recentemente passou a entender que o patrocínio ao Icomos, com participação de "um funcionário do governo sírio", poderia configurar uma violação das sanções do governo americano à Síria. Mas a fundação disse ainda que o Icomos também é obrigado a seguir seu estatuto garantindo a seus membros o direito de participar da assembleia geral da entidade. "Isso tornou impossível para o Icomos negar a participação (no evento) a qualquer um de seus membros, e também impossibilitava a Getty de continuar a apoiar a reunião", diz nota, enviada ao GLOBO.

A fundação sustenta que tanto a Getty como o Icomos "concordaram mutuamente" que o dinheiro seria devolvido, mas não menciona a sugestão dada à entidade de arquitetos de barrar a participação do associado sírio. "Lamentamos que isso crie uma situação infeliz para todas as partes envolvidas. Getty está totalmente empenhado em apoiar uma rede global de profissionais e um diálogo sem restrições através das fronteiras, e fazê-lo de acordo com todas as leis. Atualmente, estamos buscando licenças para futuras conferências acadêmicas e profissionais", diz a nota da fundação.

Criada na década de 80 pelo fundo que administra a herança do milionário Jean Paul Getty, a fundação que leva seu nome patrocina ações ligadas às artes plásticas, fotografia, preservação de monumentos em todo o mundo. A cada três anos, a entidade costumava patrocinar os encontros internacionais do Icomos. Segundo a direção do conselho de preservação de monumentos, o evento na Índia vai reunir especialistas de vários países. A maior parte do dinheiro oriundo da fundação americana foi usado para bancar a viagem de arquitetos de países pobres, mas segundo o Icomos, os custos da viagem do arquiteto sírio estavam sendo custeados por recursos do próprio Icomos.


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