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Esquerda chilena entra no debate sobre Nicarágua

Por Agência O Globo

21/08/2018 3h29 — em
Mundo



SANTIAGO E CIDADE DO MÉXICO — Em meio à divisão da esquerda latino-americana em relação aos governos da Nicarágua e da Venezuela, Gabriel Boric, ex-líder estudantil e deputado da esquerdista Frente Ampla — que surpreendeu ao ficar em terceiro lugar nas eleições parlamentares e presidenciais de novembro passado no Chile —, entrou no debate com um texto publicado em seu blog. Ele defendeu que “os direitos humanos devem ser respeitados e suas violações condenadas sem matizes, independentemente de quem sejam as vítimas e os algozes”.

“Assim como condenamos a violação dos direitos humanos no Chile durante a ditadura (e também hoje, com a criminalização do povo mapuche, por exemplo), os ‘golpes brancos’ no Brasil, Honduras e Paraguai, a ocupação israelense sobre a Palestina, ou o intervencionismo dos Estados Unidos devemos, a partir de uma perspectiva de esquerda, condenar com a mesma força a permanente restrição de liberdades em Cuba, a repressão do governo de (Daniel) Ortega na Nicarágua, a ditadura chinesa e o enfraquecimento das condições básicas de democracia na Venezuela”, afirmou Boric.

O deputado de 32 anos publicou o texto como parte da discussão provocada pela renúncia, em 13 de agosto, do ministro de Arte e Cultura chileno, Mauricio Rojas. O ministro caiu quando soube-se que, anos antes, havia criticado o Museu da Memória e dos Direitos Humanos, onde estão documentados os abusos da ditadura de Augusto Pinochet.

No Chile, o Partido Socialista da ex-presidente Michelle Bachelet já criticou tanto a repressão oficial na Nicarágua quanto o autoritarismo do governo de Nicolás Maduro. No entanto, na Frente Ampla, partido fundado no início de 2017, há divisão.

“Ser crítico do governo de Maduro significa necessariamente estar ao lado do setor golpista da oposição venezuelana? Condenar a repressão estatal na Nicarágua significa validar os assassinatos cometidos por grupos armados contra militantes sandinistas? Dizer que o modelo monopartidário de Cuba, onde não há liberdade de expressão, não deve ser o modelo a seguir significa que nos transformamos em pseudoagentes da CIA?”, questionou Boric.

O racha da esquerda em relação à repressão aos protestos na Nicarágua, com um saldo de pelo menos 317 mortes desde abril, repete a que já ocorria no caso do autoritarismo de Maduro. Em julho, o Foro de São Paulo, que reúne partidos latino-americanos, aprovou uma resolução em que chama os que pedem a saída de Ortega de golpistas e terroristas. O PT brasileiro e o Movimento ao Socialismo do presidente boliviano, Evo Morales, apoiaram o documento.

No Uruguai, o ex-presidente José Mujica afirmou no Congresso que se lembrava dos anos gloriosos da Revolução Sandinista na Nicarágua, e convocou o presidente Daniel Ortega a — em homenagem a esse legado — reconhecer que havia chegado o momento de deixar o poder. No Brasil, Argentina e México, intelectuais de esquerda se solidarizaram com o movimento que se opõe ao comportamento de Ortega e de sua mulher, a vice-presidente Rosario Murillo.

— Na Venezuela, como na Nicarágua, não há socialismo. O que há é o uso de uma retórica da esquerda do século XX para encobrir uma oligarquia que rouba o Estado — afirmou o ex-candidato presidencial colombiano Gustavo Petro.

No México, o presidente Enrique Peña Nieto e seu secretário do Interior, Luis Videgaray, se manifestam criticamente em foros continentais como a Organização dos Estados Americano (OEA). Mas ambos estão de saída, enquanto o próximo presidente mexicano, Andrés Manuel López Obrador e seu futuro chanceler, Marcelo Ebrard, se mantêm em silêncio. Embora tal comportamento possa ser esperado de um governo que ainda não assumiu o poder, nas fileiras internas do Movimento de Regeneração Nacional (Morena), legenda do futuro presidente, os principais dirigentes do partido não escondem seu apoio a Ortega e Murillo.

“Acredito profundamente numa esquerda socialista, democrática e libertária, que enfrente o neoliberalismo sem medo e que seja capaz de propor uma alternativa ao sistema que hoje condena a maioria do povo a viver em condições de incerteza permanente”, afirma Boric na conclusão de sua publicação. “Para isso temos que garantir que, no mínimo, os direitos humanos sejam sempre respeitados, em qualquer contexto e sem nenhuma desculpa”.


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