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Desigualdade continuará a assombrar próximo presidente chileno

Por Agência O Globo

19/11/2017 19h11 — em
Mundo



buenos aires Seja quem for o vencedor das eleições presidenciais chilenas, terá a partir de 2018 o desafio de reduzir a enorme desigualdade social no Chile, uma das principais demandas de grande parte da sociedade. Os números são contundentes: segundo o Banco Mundial, hoje 1% dos chilenos mais ricos concentra 33% da renda nacional. As reformas implementadas pela presidente Michelle Bachelet, sobretudo em educação, tributos e saúde, não conseguiram reverter este cenário, que, segundo especialistas, não se resolverá apenas com crescimento econômico — a grande promessa do favorito desta eleição, o ex-presidente e candidato da coalizão de direita Chile Vamos, Sebastián Piñera.

Em Santiago, a desigualdade social é visível. As regiões mais nobres são mais seguras e têm melhores serviços. Os bairros pobres estão distantes do centro e, neles, a violência é um problema cotidiano. Os indicadores de insegurança chilenos são bem melhores do que os de outros países do continente, mas, para os chilenos, a violência é uma preocupação, sobretudo nos bairros mais humildes.

A desigualdade social em termos de acesso a saúde, educação e segurança foi abordada por todos os candidatos nos debates. Apesar de o Chile ter tido um dos melhores desempenhos econômicos da América Latina nos últimos 30 anos, esta é uma questão pendente, que nenhum governo democrático posterior à ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990) conseguiu resolver.

— Nas últimas três décadas, o Chile multiplicou a renda per capita, sua capacidade exportadora, recursos fiscais e investimentos. Também reduziu de forma expressiva a pobreza, atualmente menos da quinta parte do que era em 1987. Tivemos avanços importantes em matéria de educação, saúde e cultura, mas, de fato, a desigualdade melhorou pouco — explicou Osvaldo Larrañaga, diretor da Escola de Governo da Universidade Católica e ex-coordenador da pesquisa sobre desigualdade do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD).

fosso entre ricos e pobres

Ele acredita que as reformas em educação e saúde poderão, no médio e longo prazo, melhorar este panorama.

— As reformas tributária e da educação do segundo governo Bachelet tiveram como objetivo central reduzir a desigualdade. Foram reformas ambiciosas e sua implementação é gradual. Ainda não temos resultados definitivos — afirmou.

Um dos temores neste momento é que Piñera, caso seja eleito, interrompa processos iniciados. Na visão do especialista da Universidade Católica, “se o próximo governo fizer alterações às reformas, os efeitos esperados serão afetados”. Para o economista David Bravo, também da Católica, “a desigualdade deverá ser prioridade”.

— Trata-se de um problema estrutural, e não basta crescer — frisou Bravo.

Ele estudou as diferenças entre crianças e adolescentes que pertencem a famílias integrantes dos 20% mais ricos e dos 20% mais pobres do país.

— A partir dos 5 anos de vida, começamos a ver como vai se acentuando a desigualdade. Aos 10 anos, as crianças já mostram perfis quase definidos, e, aos 18, as diferenças são enormes — comentou Bravo. — Os que pertencem aos 20% mais ricos fazem melhores carreiras e, no futuro, têm melhores rendas.

Mas mesmo os avanços celebrados pelo governo Bachelet — aumento do número de estudantes com educação gratuita de 260 mil para 310 mil em 2018, e do número de trabalhadores sindicalizados — ainda são insuficientes, apontaram os especialistas, e não bastam para modificar o mapa da desigualdade chileno.


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