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Confinado após golpe no Zimbábue, Mugabe se nega a renunciar

Por Agência O Globo

16/11/2017 20h11 — em
Mundo



HARARE - Apesar da foto publicada por um jornal do Zimbábue, na quinta-feira, que mostrava o presidente Robert Mugabe, ao lado do sorridente general do Exército Constantine Chiwenga, o chefe de Estado não parece disposto a aceitar facilmente sua destituição, após 37 anos no poder. Fontes que participaram do encontro revelam que, aos 93 anos, o presidente — confinado por militares em sua mansão desde quarta-feira — insiste em afirmar que continua a ser o único governante legítimo do país que comanda desde 1980. Mas o presidente está sendo cada vez mais pressionado a aceitar a oferta dos militares para uma saída honrosa, e há especulações de que um governo provisório seria formado nas próximas 36 horas. Os responsáveis pelo golpe querem que o ex-chefe guerrilheiro da independência se afaste de imediato, cedendo o poder de forma pacífica ao ex-vice-presidente Emmanuel Mnangagwa — destituído por Mugabe na semana passada para dar espaço a sua mulher, Grace, na sucessão.

A crise política está sendo mediada por um padre católico chamado Fidelis Mukonori. Uma fonte que conversou com aliados do primeiro escalão de Mugabe — que estariam com ele e Grace na mansão presidencial — contou que o líder não planeja renunciar voluntariamente antes das eleições agendadas para o ano que vem.

— É uma espécie de ponto morto, um impasse — revelou a fonte à agência Reuters. — Eles (os aliados) estão insistindo que o presidente deve acabar o seu mandato.

Informações de bastidores sugerem que a criação de novos cargos, como o de primeiro-ministro, estaria sendo negociada. Caso aceite renunciar, Mugabe não seria acusado por nenhum crime cometido em suas quase quatro décadas no poder e poderia partir para a África do Sul — de onde recebeu oferta de asilo. Mas, o presidente estaria resistindo fortemente à pressão. Mais cedo, uma comitiva governamental sul-africana chegou a Harare para tentar mediar uma solução pacífica. Representantes da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral — um bloco regional com 15 países — também participaram da reunião de emergência com o presidente, dois ministros do Gabinete e o chefe dos militares revoltosos.

Enquanto isso, a oposição, que no início se colocara ao lado de Mugabe, também começa a pressionar por sua saída. Morgan Tsvangirai, líder do Movimento pela Mudança Democrática, afirmou na quinta-feira que a negociação tem apoio das potências regionais e reiterou que o presidente deveria renunciar no “interesse do povo”:

— Há uma transição de poder em curso com um acordo tácito das potências regionais — disse Tsvangira à CNN. — Há conversas ativas acontecendo para formar um governo de transição, que precisará incluir a oposição.

Reforçando as especulações, o ex-ministro das Finanças Tendai Biti confirmou que trabalharia numa formação de unidade nacional que emergisse da turbulência política. Impôs como condição, no entanto, a participação de Tsvangirai.

— Se Morgan diz que está dentro, eu estou dentro — afirmou Biti, que conquistou respeito internacional durante o seu período como ministro entre 2009 e 2013, quando Tsvangirai foi premier, num arranjo de partilha de poder com Mugabe após denúncias de fraude na derrota eleitoral da oposição levarem a uma onda de violência. — O país precisa de uma liderança sólida.

Embora os militares, comandados por Chiwenga, insistam que não se trata de um golpe — mas que suas ações visam a “proteger Mugabe de criminosos” próximos a ele — a facilidade com que ocorreu a tomada de poder evidenciou a fragilidade do presidente. Mugabe, no entanto, conta com um forte poder de barganha, lembra Jeffrey Smith, diretor-executivo da ONG Vanguard Africa: “Os militares não querem ser vistos como líderes definitivos de um golpe. E eles não se tornaram democratas de um dia para o outro”, escreveu no Twitter.

Para o político Earnest Mudzengi, “as pessoas querem que a Constituição seja mantida”.

— As conversas devem considerar como lidar com a questão de Mugabe de forma progressiva — explicou à AFP.

Eldred Masunungure, professor da Universidade do Zimbábue, acrescentou que a formação de uma “coalizão pré-eleitoral” também poderia ser uma resposta viável à crise.

A pressão da comunidade internacional é outro ponto a favor de Mugabe. Depois da África do Sul expressar preocupação com a situação do país, o chefe de Estado da Guiné, Alpha Condé, presidente em exercício da União Africana (UA), exigiu o “retorno da ordem constitucional no país”.

— Jamais aceitaremos o golpe de Estado militar no Zimbábue — declarou em Paris.

Em Harare, no entanto, o clima de normalidade contrastava com a tensão dentro do governo. Moradores ignoraram em grande parte os poucos soldados ainda nas ruas e continuaram com suas atividades rotineiras.

— A população está extremamente calma e funciona tudo debaixo de uma grande normalidade, mas acredito que as pessoas estejam ansiosas para saber o desfecho de tudo isto — afirmou um turista português, que pediu para não ser identificado.


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