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Coligação com direita radical derruba herdeira de Merkel e complica sucessão na Alemanha

Por Folha de São Paulo

10/02/2020 9h25 — em
Mundo



BRUXELAS, BÉLGICA (FOLHAPRESS) - Apontada como herdeira da chanceler alemã, Angela Merkel, a líder da União Democrata-Cristã (CDU), Annegret Kramp-Karrenbauer, anunciou nesta segunda-feira (10) ao partido que renunciará à chefia da legenda.

A decisão de AKK, como é conhecida, se segue a uma onda de críticas e manifestações contra a participação do partido Alternativa para a Alemanha (AfD), da ultradireita nacionalista, no governo regional do estado da Turíngia. 

Foi a primeira vez na história desde a Segunda Guerra Mundial que um primeiro-ministro regional chegou ao poder com votos da direita radical.

A coligação com um partido associado pelos alemães ao passado nazista havia exposto a fragilidade de AKK: sua orientação para que os representantes da CDU não votassem no candidato liberal do FDP, Thomas Kemmerich, foi desrespeitada, levando à coligação integrada pela AfD.

A associação levou Merkel a declarar publicamente que o comportamento da CDU era "inaceitável" e que a eleição deveria ser cancelada. Após protestos nas ruas alemãs, Kemmerich anunciou que convocaria novas eleições.

Além de renunciar à chefia da legenda, AKK disse também que não vai concorrer à sucessão de Merkel como chanceler nas eleições previstas para 2021, o que pode afetar toda uma União Europeia à procura de um novo equilíbrio após a saída do Reino Unido, no brexit, em 31 de janeiro.

Maior economia do continente, a Alemanha divide com a França a liderança da União Europeia. A dúvida sobre se Merkel será capaz de fazer um sucessor já era apontada por analistas como um dos principais elementos de instabilidade da UE.

O país vem sendo assombrado pelo fantasma da recessão, com crescimento oscilando perto de 1%. A atividade industrial e a exportação, pilares da sua força econômica, têm sido afetadas pela competição com a China e pela disputa comercial entre os asiáticos e os EUA, contribuição mais recente para a inanição da atividade global que persiste desde a crise de 2008.

Sem um governo forte, a Alemanha pode perder batalhas na política de austeridade fiscal que tem imposto à União Europeia.

Em vários países do continente, governos avaliam a possibilidade de aproveitar os juros muito baixos (ou até negativos) para se endividar e investir em infraestrutura, como forma de reativar a economia.

A eleição na Turíngia acendeu uma luz amarela no cenário político alemão, tradicionalmente dominado por coligações majoritárias -3 dos 4 últimos governos foram formados pelos dois maiores partidos, a CDU, de centro-direita, e o SPD (Partido Social-Democrata) , de centro-esquerda.

A AfD, no entanto, apareceu como a principal oposição nas eleições de 2017. Embora sua composição seja heterogênea, o partido é associado à extrema direita porque alguns de seus políticos se recusam a condenar o nazismo -um deles é justamente o líder da legenda na Turíngia, Björn Höcke.

AKK liderava a CDU desde dezembro de 2018, após Merkel anunciar que não pretendia candidatar-se novamente ao cargo de chanceler nas próximas eleições gerais, previstas para 2021. A chanceler alemã está em seu quarto mandato e disse que vai se aposentar.

Segundo a imprensa europeia, um porta-voz do CDU disse que AKK permanece na liderança do partido até que seja escolhido um novo nome.

Merkel afirmou na reunião que espera que a política continue como sua ministra da Defesa, cargo que ela acumulava com a liderança da CDU desde julho do ano passado.

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