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Vice de finanças explica por que Fla ainda sofre para contratar no início do ano

Por Agência O Globo

17/01/2018 18h01 — em
Esportes



O vice de finanças do Flamengo, Claudio Pracownik, deu detalhes sobre a situação financeira do clube para o ano de 2018, e explicou o motivo de a diretoria não conseguir investir em contratações de peso no começo da temporada, embora tenha terminado 2017 pela primeira vez com patrimônio líquido positivo, sobretudo pela venda de Vinicius Júnior.

Em entrevista ao canal “Urubucam” no Youtube, o dirigente explicou que o Flamengo funciona em regima de caixa único e ainda não consegue virar o ano com sobra para investir. Por isso, é obrigado a contrair empréstimos, em 2018 previstos em R$ 40 milhões, e só no meio da temporada, com o cumprimeiro dos compromissos dos patrocinadores, ter receita para contratações de maior impacto.

Esse ano, lembrou Pracownik, o Flamengo terá que pagar a maior parte dos reforços que chegaram nas últimas temporadas. Dos R$ 55 milhões investidos ano passado, este ano o clube vai pagar R$ 48 milhões. Além disso, terá mais de R$ 20 milhões para pagar referente a Marcelo Cirino, que foi colocado no clube pela empresa Doyen em 2015 e não rendeu.

Claudio Pracownik, por fim, não descartou se candidatar a presidente do Flamengo no fim do ano, quando haverá eleições.

ONDE FOI INVESTIDO O DINHEIRO DA VENDA DO VINICIUS JUNIOR

- O Flamengo trabalha em regime de caixa único. Qualquer dinheiro que receba não é numerado. Não tem destinação específica. A despesa em 2017 foi de R$ 390 milhões. Qualquer dinheiro que entrou foi para pagar isso. Aí está também contratação, investimos R$ 55 milhões, mas está a conta de luz, gás, o CT, a dívida, a folha do clube. A aplicação do caixa no clube você observa pela demonstração que tem no site do clube. O Flamengo é há anos o clube mais transparente do país. Sobre a venda do Vinicius Junior, o Flamengo recebeu 45 milhões de euros, mas a parte do Flamengo foi 32 milhões de euros, e disso, dois terços foram recebidos, a última parte será recebida quando ele se apresentar ao Real Madrid.

AS DÍVIDAS DO FLAMENGO ATRAPALHAM O INVESTIMENTO?

- A dívida em 2017 estava em R$ 385 milhões, 280 milhões é do Profut, tudo na previsão orçamentária. Tem setenta e poucos milhões com bancos, R$ 35 milhões com dívidas trabalhistas. Em 2018 a previsão é terminar com R$ 330 milhões, R$ 277 público e R$ 47 milhões de dívida privada. Temos previsão 40 milhões de reais de empréstimo. O clube pega 40, mas paga R$ 102 milhões de dívida, porquê? O Flamengo tem um problema de fluxo de caixa do início do ano. Não conseguimos ainda terminar o ano com reserva. O início do ano é ruim, não tem jogos, difícil conseguir patrocínio, tem que renovar no início do ano, e acabou de pagar décimo terceiro alto em dezembro, e tem que fazer contratações. O déficit é sério. Os empréstimos servem para equacionar o fluxo inicial e depois eles são pagos. Então no fluxo se prevê pagamento de R$ 102 milhões de dívidas, mas contraindo 40 milhões de empréstimos no ano. A receita prevista bruta é R$ 477 milhões, então é um ainda é clube superavitário, e a dívida é na maior parte escalonada. O Flamengo é um clube resolvido. Não conseguimos gerar essa sobra de caixa para não pegar empréstimo no início para aquisição de jogadores, o que mudaria a dinâmica do futebol, que se reforça no meio do ano. O Flamengo começa o ano com capacidade menor e no meio do ano consegue a contratação de jogadores. Ano passado investimos R$ 55 milhões. Esse investimento foi pra 2018. Por isso o orçamento prevê valor menor de pagamento por jogadores. Ainda tem a pagar, de R$ 55 milhões, R$ 48 milhões esse ano. O Cirino pertence ao clube, não trouxe retorno desportivo, o Flamengo está pagando por ele. O orçamento prevê esse pagamento. Não impacta em nada. Estamos negociando com eles uma forma de pagamento para se adequar ao nosso fluxo de caixa. São vinte e poucos milhões. Alguns investimentos dão certo, outros não.

VENDA DE JOGADORES PARA CONTRATAR

- Se o Flamengo vender jogadores, o valor reverte para o futebol. Tem R$ 10 milhões previsto no orçamento para isso, e houve aumento de folha de mais R$ 1 milhão. Tem um investimento consolidado entre julho do ano passado e julho desse ano, quando o fluxo se equaciona. Se desonerar a folha, reverte para o futebol, esse é o acordo. E futebol não é só jogador, tem R$ 40 milhões em estrutura, como o CT. A base tem investimento direto, verba de contratação esse ano de R$ 1,5 miçhão. Orçamento de R$ 20 milhões de despesas. Existe uma lenda que o Flamengo paga dívida e não usa no futebol. Mas 10% da receita do futebol é para o pagamento de dívida. São 65% revertido para o próprio futebol.

COMPARAÇÃO COM GESTÕES MENOS RESPONSÁVEIS, COMO O CORINTHIANS, CAMPEÃO BRASILEIRO

- O Flamengo é responsável e os títulos a gente espera que venham. Fomos a duas finais esse ano, além do Carioca, que levamos o título. Deveria ter ganho, mas perdeu. Se tivesse ganho teria mudado? Teria, estaríamos felizes. Mas não mudaria a política financeira do clube. Isso vai sempre ser mantido enquanto estivermos no clube. Se os resultados vieram ou não, de que forma vieram, isso tem que ser discutido, ouvidos os participantes, reclamações da torcida. Agora, perguntar se vale a pena ser irresponsável... Se quiserem alguém que traga política irresponsável e que traga títulos, não somos nós. A gente não quer ser campeão hoje, que é ótimo, mas ser campeão sempre. Se tiver que abrir mão da felicidade de curto prazo para ter uma duradoura, assim tem que ser feito. Estamos satisfeitos em não ser campeão? Lógico que não. O futebol tem coisas para melhorar, mas não é da minha pasta. Tenho opiniões, são discutidas. Vamos torcer para as coisas melhorarem para coroar o trabalho.

PALMEIRAS COMO PRINCIPAL RIVAL

- O Palmeiras tem uma relação de mecenato. Um torcedor fanático do clube que vai além do que se espera de uma relação comercial, cujos retornos são medidos e esperados. Quando se trata de mecenato, os cheques tendem a ser maiores. Não entendo ser a política mais sustensável no longo prazo. Quando trabalha com esse regime, investe os recursos, sempre compra jogadores, no curto prazo funciona, mas as dívidas continuam no longo prazo. O Fluminense teve uma relação parecida. A relação é sujeita a chuvas e trovoadas. E o clube ficou só com as despesas no longo prazo, sem as receitas. Eu prefiro um crescimento sustentável, com as próprias pernas. Mas o Palmeiras faz um excelente trabalho de finanças. Imagino que possa ter remédios para garantias de longo prazo. É um grande clube, profissional. Mas algumas coisas provam a política que a gente adotou. Primeiro, a relação de geração de caixa versus a dívida. O Flamengo está em situação confortável para apagar, e o Palmeiras pouco melhor. Demonstra a capacidade de pagar o Profut. O Palmeiras devia menos, tem Profut menor, mas estamos próximos deles. Em termos filosóficos, mostra que os dois clubes estão em nível melhor em relação ao futebol brasileiro. A geração de caixa é 40% de todo o país. Só receitas ordinárias, são 86%, com 14% dos demais. Os dois juntos são 20% das receitas totais. Está acontecendo uma polarização. Com visões distintas da forma de gerir. Que estão no caminho. Nossa visão é menos dependente de um patrocinador. E o Palmeiras tem uma vantagem relevante: estádio. O Flamengo dificilmente vai dar um salto maior sem estádio próprio. É nossa busca em 2018. Ter solucionado isso. O Maracanã só com nova licitação.

CRIAÇÃO DE EMPRESA S.A NO FLAMENGO

- A nossa grande conquista de 2017 foi passar a ter patrimônio líquido positivo, R$ 38 milhões. Em 2018, esse patrimônio chega a R$ 75 milhões. O custo de captação de empréstimo fica mais barato. Isso torna possível, teoricamente, que você crie uma empresa pra administrar certos recebíveis do Flamengo, na casa do bilhão. E pode vender parte dela, nunca o controle, ao mercado, para compra de ações. O Flamengo possui as condições básicas necessárias para promover um estudo desses, se for o caso e entender se isso é viável, é levar a cabo um projeto desse. É uma discussão teórica que eu tenho prazer em participar.

META DE ESTAR ENTRE OS 20 CLUBES DO MUNDO

- A previsão, até 2020, é trabalhar o clube para ter 200 milhões de euros em receitas recorrentes. Estaria entre os 20 melhores clubes do mundo. Tem um estudo da Uefa que 77% das receitas estão ligadas a títulos. O poderio econômico costuma estar relacionado.


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