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Portuguesa vai muito além da ilha

Por Agência O Globo

17/03/2018 16h03 — em
Esportes



Uma vitória da Portuguesa sobre o Flamengo no jogo de hoje, às 16h, não dará apenas a vaga inédita na semifinal da Taça Rio para o clube da Ilha do Governador: ela abrirá o horizonte para o cenário nacional, com possibilidade de disputar a Copa do Brasil e a Série D do Brasileiro do ano que vem, caso fique entre as quatro melhores equipes do Estadual. Mas, da mesma forma que o time, que não perdeu para os grandes este ano e foi montado com base na ambição, a Lusinha quer mais, e conta com o valor do Luso-Brasileiro para obter recursos.

— A intenção é até 2020 estar na Série B do Brasileiro — declarou Marcelo Ramos, de 37 anos, vice de futebol desde 2014 e vice-presidente geral do clube.

A meta ousada está inserida no tempo de contrato com o Flamengo para uso do estádio: três anos, renováveis por mais três. O planejamento, que começou no ano passado, redundou na melhor campanha da história do clube no Carioca, com quatro vitórias, quatro empates e duas derrotas — 66% de aproveitamento. Resultado, também, do aporte financeiro com o pagamento do aluguel de R$ 200 mil por mês pela nova Ilha do Urubu.

Deste valor, a Portuguesa usa 60% para o seu futebol, que hoje tem folha mensal justamente de R$ 200 mil, 50 vezes menor que a do Flamengo, de R$ 10 milhões. A reconstrução do clube na elite do futebol carioca, no entanto, aconteceu um pouco antes deste impulso do rival de grande expressão. A atual administração assumiu em 2011, com o clube rebaixado para a terceira divisão por uma dívida de R$ 350 mil com a Federação de Futebol do Rio. Após o compromisso do pagamento a perder de vista, o acesso à Série A veio em 2015. A primeira injeção financeira aconteceu com o Botafogo em 2016. Na volta à elite, a Lusa chegou à décima posição naquele ano, e foi nona em 2017. Agora, ocupa a quinta posição geral.

— O início foi difícil, a gente contava moeda para pagar a prestação na Federação, as dívidas de fundo de garantia. Conseguimos trazer o Botafogo, agora o Flamengo, e isso nos trouxe suporte financeiro para planejar melhor o ano — explicou Marcelo Ramos.

O resultado da organização financeira veio em campo. Primeiro clube a iniciar pré-temporada, em outubro do ano passado, a Portuguesa montou um elenco formado por jogadores sem muito nome nem salário alto, mas com vontade de sobra. Sob o comando do técnico João Carlos Ângelo, de 51 anos, a equipe não perdeu para nenhum time grande, e vê seus atletas despertarem interesse do mercado. A ideia é aumentar o investimento na base para lucrar.

— São atletas com ambição de buscar uma coisa na vida. Não adianta trazer jogador com renome para passar o tempo — conta João Carlos, que é formado pelo sindicato dos treinadores do Rio e passou pela comissão de Renato Gaúcho no Fluminense, em 2007.

Entre idas e vindas por clubes de Portugal e pela Lusa, viu o ressurgimento do clube. A inspiração tática, curiosamente, vem de São Paulo. Em busca de uma equipe compacta, mas que não abdique do ataque, o treinador viu o Corinthians campeão brasileiro como referência para as pretensões no Estadual.

— É uma equipe formada com menos investimento se comparada à de Flamengo, Palmeiras, mas é coesa. Abre mão da posse de bola, mas é bem aguda, objetiva, com transição forte. Tenho isso como parâmetro — disse o comandante lusitano, adepto do sistema 4-2-3-1.

vitória sobre o real madrid

Os resultados obtidos por João e seus jogadores vieram mesmo com a incerteza sobre o uso do próprio estádio. No acordo com o Flamengo, é proibido treinar na Ilha do Urubu. Com a queda de duas torres por causa da chuva, os jogos também foram transferidos. Para um clube acostumado a tormentas, isso não atrapalhou. Na história acolhedora com os rivais, a Portuguesa também teve presença em águas europeias. E derrotou ninguém menos que o Real Madrid, em amistoso de entrega de faixas em 1969. No clube, que teve seu parque aquático reformado, o patrimônio histórico guarda também recortes de jornais da época. E também lembra passagens de grandes craques brasileiros pelo Luso-Brasileiro, como Zico e Roberto Dinamite. De alma provinciana e acolhedora, a Lusa quer conquistar seu lugar no coração dos cariocas.

— O nosso sonho é ser a quinta força, todo mundo torcer, depois dos grandes. É um clube simpático e acolhedor. Todos que precisam de uma casa, a gente sempre recebeu — lembra Marcelo Ramos, vice do presidente João do Rego, que foi reeleito duas vezes desde 2011, mas de governança moderna.

Terra de grandes sambas, mas devastada pelo temporal de fevereiro, a Ilha ganhou um novo motivo para se orgulhar. Adversário de hoje, o Flamengo foi o seu trampolim.


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O Portal do Holanda foi fundado em 14 de novembro de 2005. Primeiramente com uma coluna, que levou o nome de seu fundador, o jornalista Raimundo de Holanda. Depois passou para Blog do Holanda e por último Portal do Holanda. Foi um dos primeiros sítios de internet no Estado do Amazonas. É auditado pelo IVC e ComScore.

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