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Vale sofre pressão por troca de presidente

Por Agência O Globo

26/08/2016 3h52 — em
Economia



RIO, BRALÍLIA E SÃO PAULO - Após a conclusão do processo de impeachment, caso o afastamento de Dilma Rousseff seja confirmado, as pressões sobre o presidente interino, Michel Temer, para a troca de comando na Vale devem ser retomadas, segundo fontes.

O movimento seria liderado pela bancada mineira do PMDB, insatisfeita com as demissões promovidas no estado pelo presidente da Vale, Murilo Ferreira, ao longo do ano passado e com o impacto do acidente da Samarco, empresa da qual a mineradora é sócia ao lado da australiana BHP, em Mariana (MG).

No ano passado, a Vale interrompeu algumas unidades de beneficiamento de minério de ferro no estado que tinham custo mais alto e demitiu centenas de pessoas. A tragédia da Samarco, após o rompimento de uma barragem de rejeitos de minério de ferro, agravou a situação dos municípios mineiros.

A Vale ainda discute na Justiça uma ação, de autoria da União e dos estados de Minas Gerais e Espírito Santo, para que a mineradora desembolse R$ 20 bilhões para recuperar a Bacia do Rio Doce, atingido no acidente.

— Parece que há pressões, mas sou favorável à permanência de Murilo na Vale. Além de mineiro, faz boa gestão para a economia do estado — disse o deputado Fábio Ramalho (PMDB-MG).

Circula no mercado que os candidatos à sucessão de Ferreira seriam José Carlos Martins, ex-diretor da Vale e hoje conselheiro da NovaAgri (empresa de commodities agrícolas), e Tito Martins, atual presidente da Votorantim Metais e ex-diretor da Vale. Internamente, o atual diretor de Ferrosos, Peter Poppinga, desponta como outro possível nome.

As pressões do PMDB, porém, esbarram na oposição de acionistas privados da Vale. O govertem, direta e indiretamente — via BNDESPar e fundos de pensão —, 60,5% da Valepar, holding que controla a Vale. A Bradespar (braço de participações do Bradesco) tem 21,2%, e a japonesa Mitsui, 18,2%. Embora o governo tenha a maioria dos votos, na prática, uma troca de comando depende do aval do Bradesco.

Segundo fontes próximas à mineradora, Bradesco e Mitsui estão satisfeitos com a gestão de Ferreira e veem com apreensão um provável impacto negativo no mercado de uma nova interferência política no comando da Vale. Em maio de 2011, quando Ferreira assumiu a presidência no lugar de Roger Agnelli, o banco cedeu às pressões do governo Lula. A intervenção foi mal recebida no mercado na época.

— O valor de mercado da Vale já caiu mais que o de suas concorrentes nos últimos anos, pois o contexto político-econômico do país impede uma recuperação mais ágil da empresa. Se houver troca (de presidente) no meio do caminho, será ruim, e as ações tendem a ser punidas — avaliou Alexandre Wolwacz, diretor da Escola de Investimentos LES Educação.

O valor de mercado da Vale caiu mais de 80% desde 2010. Suas concorrentes BHP e Rio Tinto recuaram 67% e 59%, respectivamente.

Uma primeira tentativa de afastar Ferreira da presidência foi ensaiada em maio. Na ocasião, o então ministro do Planejamento Romero Jucá (PMDB-RR) era quem articulava a troca de comando na mineradora nos bastidores. Assim como o governo Temer mudou o comando das estatais, afastando executivos ligados ao PT, a ideia era substituir Ferreira, pois ele era próximo de Dilma. Com a saída de Jucá, as pressões perderam força.

Segundo fontes ligadas aos fundos de pensão, a tendência é encontrar “saída menos traumática” e esperar o fim do mandato de Ferreira, que termina em abril de 2017. Interlocutores de Temer afirmam que “só haverá troca no próximo ano”. Procurados, Vale, Bradesco, Mitsui e Previ (fundo dos funcionários do Banco do Brasil) não comentaram.


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