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Vale fecha ano da tragédia de Brumadinho com prejuízo de R$ 6,7 bi

Por Folha de São Paulo

20/02/2020 20h48 — em
Economia



RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) - A Vale fechou 2019 com prejuízo de R$ 6,7 bilhões, provocado principalmente pelos gastos e provisões para indenizações e remediação de danos da tragédia de Brumadinho (MG), que deixou 270 mortos em janeiro daquele ano.

Foi o segundo prejuízo da mineradora em um período de 20 anos. Em 2018, a Vale havia registrado lucro de R$ 25,6 bilhões.

O prejuízo foi provocado por provisões e despesas relacionadas ao desastre, que devem custar à empresa R$ 28,8 bilhões. Deste total, R$ 18,5 bilhões são para remediação e R$ 10,3 bilhões para descaracterizar barragens semelhantes à que se rompeu.

O rompimento de barragem de rejeitos da mina Córrego do Feijão ocorreu no dia 25 de janeiro de 2019. Um ano depois, o Ministério Público de Minas Gerais denunciou 16 pessoas por homicídio doloso --entre elas o ex-presidente da Vale Fabio Schvartsman.

A companhia abre o balanço divulgado nesta quinta (20) dizendo que "reafirma seu respeito pelas vítimas e suas famílias e agradece às autoridades envolvidas nas medidas de busca e salvamento".

Depois, lista uma série de medidas já adotadas para remediar a situação, como o pagamento de acordos de indenização trabalhistas para empregados que perderam as vidas —R$ 1,4 bilhão já pago a famílias de 244 das 250 vítimas.

"A Vale permanece firme em seus propósitos: reparar integralmente Brumadinho e garantir a segurança das nossas pessoas e ativos", escreve, em carta publicada no balanço, o presidente da companhia, Eduardo Bartolomeo.

Segundo ele, o resultado de 2019 "evidenciou a resiliência e a capacidade de resposta da Vale".

Beneficiada pelo aumento dos preços do minério, a companhia teve aumento de receita, mesmo com corte de 21,5% em sua produção da commodity. A receita em 2019 foi de R$ 148,6 bilhões, 10% acima do registrado em 2018.

Segundo a Vale, o preço médio de referência do minério de ferro 62% ficou 34% acima do ano de 2018 devido a disrupções de oferta provocadas por Brumadinho e pelo ciclone Veronica, na Austrália.

O aumento nas cotações representou um ganho de R$ 23,6 bilhões na receita, compensando a perda de R$ 19,6 bilhões com as vendas menores. 

A queda na produção foi provocada, principalmente, pela suspensão das operações nas minas Vargem Grande, Fábrica, Brucutu, Timbopeba e Alegria, todas em Minas Gerais, devido ao aumento das restrições operacionais após o desastre.

A produção de pelotas —minério processado para uso em siderúrgicas— da companhia caiu 24,4% no ano, para 41,8 milhão de toneladas. As operações estão interrompidas em minas com capacidade de produção de 40 milhões de toneladas por ano.

No quarto trimestre de 2019, a Vale fez provisões adicionais para a descaracterização de barragens.  Parte do valor refere-se à inclusão de cinco novas estruturas no programa original.

A descaracterização consiste na retirada dos rejeitos e na recuperação da área, para que seja novamente integrada à natureza. O primeiro processo desse tipo foi concluído em dezembro, na barragem 8B, em Nova Lima (MG).

Com as provisões, o resultado de quarto trimestre foi prejuízo de R$ 6,4 bilhões, praticamente anulando o lucro de R$ 6,5 bilhões registrado no trimestre anterior. No quarto trimestre de 2018, a Vale teve lucro de R$ 14,5 bilhões.

Os dados do quarto trimestre, porém, reforçam sinais de recuperação. As receitas cresceram 9,5% em relação ao mesmo período do ano anterior, para R$ 41 bilhões. 

Mesmo com as provisões bilionárias, a empresa reduziu sua dívida quase à metade, para US$ 4,9 bilhões (R$ 21 bilhões, pela cotação atual), o menor valor desde 2008. Segundo a mineradora, o pagamento de dívidas foi possível devido à forte geração de caixa.

No balanço Vale alerta, porem, para as incertezas econômicas geradas pelo surto de coronavírus na China, sua maior cliente.

"O preço do minério de ferro pode ser impactado no curto prazo por tais incertezas e pelo sentimento geral, mas deve se recuperar, em resposta à atividade de reestocagem e politicas de estímulo", diz.


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