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Para presidente da Alvarez & Marsal, linha do BNDES pode ser ‘solução’

Por Agência O Globo

26/08/2016 3h52 — em
Economia



RIO - A linha de R$ 5 bilhões criada pelo BNDES para a compra de empresas em dificuldade financeira marca uma nova fase no setor de recuperação judicial do Brasil, na avaliação de Marcelo Gomes, presidente da Alvarez & Marsal. O executivo destaca ainda que a iniciativa do banco de fomento “vai ser importante para viabilizar muitas operações que estão em andamento hoje”. Somente ele está à frente de oito processos de recuperação judicial, como os de Sete Brasil (que faz as sondas de exploração para o pré-sal), Galvão Engenharia, Leader, OAS, GEP (holding do setor de varejo dona de marcas como Gap, Luigi e Bartolli), entre outras. Gomes é responsável ainda por mais de 30 processos de reestruturação e atua em dez casos como administrador judicial.

A notícia pegou todo mundo de surpresa. Mas foi uma surpresa positiva. Ver a aquisição de uma empresa em recuperação judicial é algo muito raro e difícil de acontecer no Brasil. A criação dessa linha do BNDES é muito positiva para o mercado de recuperação judicial. Hoje, até existe interesse de companhias em comprar empresas em recuperação judicial, mas o problema é que falta dinheiro. Há uma forte restrição de crédito, pois o banco sempre vai questionar o porquê de se fazer investimento em uma empresa com problemas. É um fato histórico para esse segmento, de fomentar a aquisição. É algo inédito no Brasil e no mundo, pois não há iniciativas desse jeito envolvendo outros bancos de fomento. Só existem fundos de investimentos específicos para comprar empresas em dificuldade.

É um valor alto e vai ser importante para viabilizar muitas operações que estão em andamento hoje. A linha do BNDES vai dar impulso às empresas que estão em processo de recuperação judicial. É uma solução para as empresas que atravessam esse momento atualmente. O foco do governo com essa medida não são as pequenas e médias companhias, e sim as empresas maiores, que empregam muita gente e são grandes geradoras de impostos devido ao tamanho de suas operações, como as envolvidas na Operação Lava-Jato (as maiores construtoras do país), as do setor de agronegócio e as de varejo. Todas têm bons ativos, mas pouco acesso ao crédito.

Poderá haver a compra de ativos, de um grupo de ativos ou até mesmo da empresa inteira. A Lei de Recuperação Judicial prevê a criação de Unidades Produtivas Isoladas. Ou seja, as companhias em recuperação judicial podem vender ativos de forma isolada como maneira de gerar caixa e resolver seu nível de endividamento, que é o principal problema. Esses ativos podem ser fábricas, um conjunto de instalações e até a própria marca. E a lei diz que quem comprar esses ativos não carrega os passivos nem as contingências (que são os passivos futuros). E isso cria uma blindagem para quem está comprando. Mas hoje essas operações não ocorrem porque não há crédito.

Podem ocorrer vários tipos de negócios. Um estaleiro, por exemplo, pode vender os contratos para uma outra empresa. Ou então vender uma unidade e, assim, é possível dar continuidade às obras. Uma rede de varejo pode se desfazer de um conjunto de lojas. Ao permitir esse tipo de operação, a empresa em recuperação judicial ou com dificuldade financeira consegue ter um novo panorama. O mercado inteiro vai ganhar, pois vai permitir que grupos saudáveis tenham acesso a bons ativos. Mas é importante ver os detalhes da linha.

É uma iniciativa inteligente porque, se essas empresas não se recuperarem, não vão gerar empregos. Além disso, o BNDES é credor de várias companhias hoje em recuperação judicial.


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