Para mercado, fevereiro será o prazo-limite de agências de risco
SÃO PAULO - As três principais agências de risco — Fitch, Standard & Poor’s e Moody’s — devem esperar até fevereiro e dar um voto de confiança para que o governo consiga os votos necessários e aprove a reforma da Previdência, antes de disparar o gatilho de um novo rebaixamento da nota de risco (rating) do Brasil. Se a votação for adiada novamente, com a agenda eleitoral de 2018, uma nova queda da nota do país é dada como certa.
Analistas advertem quanto ao impacto negativo de uma redução do rating: o país ficaria mais vulnerável ao capital especulativo de curto prazo, recurso que não se converte em investimento produtivo. Além disso, para as empresas, a mudança resultaria em custo mais alto para fazer captações. Esta combinação de fatores em ano de eleição e com cenário externo desfavorável, com alta de juros nos EUA, teria potencial de atrasar a recuperação da economia.
— As agências de risco devem esperar até fevereiro. Se a reforma da Previdência não passar, vão bater o martelo de um novo rebaixamento — diz Silvio Campos Neto, economista da consultoria Tendências.
Em nota divulgada na quinta-feira, a Fitch informou que o atraso na votação da reforma da Previdência “traz riscos negativos para a avaliação de rating soberano do Brasil”. Para a agência, a janela de oportunidade para uma reforma significativa da Previdência, antes do ciclo eleitoral de 2018, está se reduzindo. A Standard & Poor’s faz avaliação similar.
— Quando fevereiro chegar, não saberemos o ânimo dos deputados para aprovar a reforma. E se isso não acontecer, o resultado será um novo rebaixamento — avalia Paulo Bittencourt, direto técnico da Skylla Investimentos.
Um novo movimento de piora da nota de crédito brasileira será uma sinalização muito ruim do país à comunidade internacional e a investidores que pensam em aportar recursos de longo prazo no país, dizem os analistas. O país e as empresas já sofrem restrições de grandes fundos de investimento, que não podem aplicar recursos em nações com grau (rating) especulativo. O resultado é que o Brasil passa a atrair o capital mais especulativo, que vai embora no curto prazo.
— E as empresas brasileiras, que já pagam prêmios mais altos para obter capital no exterior para seus investimentos, terão que pagar taxas ainda mais elevadas — diz Bittencourt.
Há ainda, lembra ele, o risco de que companhias que estão preparando captações no exterior, no próximo ano, tenham de desistir das operações.
Com uma nota mais baixa, a economia do país fica mais vulnerável, avalia Claudio Frischtak, presidente da Inter.B Consultoria Internacional de Negócios. Atualmente, observa ele, a economia internacional está dando uma “colher de chá” ao Brasil, com crescimento econômico num cenário de juro e inflação mais baixos:
— As economias dos EUA e Europa voltam a crescer com juros e inflação baixos. Mas esse quadro deve mudar, com os juros subindo e atraindo recursos que vêm para emergentes. Hoje, temos boa reserva internacional, algo como US$ 360 bilhões, mas um novo rebaixamento nos deixará mais vulneráveis.
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