Dólar sobe 0,61% e encosta nos R$ 4,40; Bolsa acompanha exterior negativo
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A cotação do dólar segue em trajetória de alta, batendo os inéditos R$ 4,40 durante o pregão desta quinta-feira (20). Ao fim do pregão, a moeda perdeu força e fechou em alta de 0,61%, cotada a R$ 4,3920, também recorde o terceiro seguido. Na semana, o dólar acumula alta de 2%. No ano, há alta de 9,35%.
O recorde do dólar, porém, é nominal. Em termos reais (corrigidos pela inflação), a moeda americana ainda está longe de sua máxima de 2002. Se for considerado apenas o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), calculado pelo IBGE, o pico de R$ 4 naquele ano, equivale a cerca de R$ 10,80 hoje. Caso também seja levada em conta a inflação americana, o valor corrigido seria cerca de R$ 7,50.
Segundo analistas o movimento é reflexo da cautela de investidores com o coronavírus. A doença afeta a economia chinesa e global, com impacto no (PIB) Produto Interno Bruto.
Nesta quinta, foram confirmadas duas novas mortes pela doença no Japão e a primeira na Coreia do Sul. Uma pesquisa também sugeriu que o vírus estava se espalhando mais rapidamente do que se pensava anteriormente.
Com o temor ao impacto econômico do coronavírus, investidores buscam ativos mais seguros, como o dólar e o ouro e vendem ações.
O movimento levou a moeda americana a se valorizar ante as principais divisas globais. Dentre emergentes, o real foi a sétima que mais se desvalorizou.
O grama de ouro subiu 0,8%, a R$ 227,880, maior valor nominal do plano real. A Bolsa brasileira fechou em queda de 1,66%, a 114.586 pontos.
No cenário doméstico, a Selic na mínima histórica também contribui para o dólar elevado, por meio do carry trade, prática de investimento em que o ganho está na diferença do câmbio e do juros. Nela, o investidor toma dinheiro a uma taxa de juros menor em um país, no caso, os EUA, para aplicá-lo em outro, com outra moeda, onde o juro é maior, o Brasil. Com a Selic a 4,25% ao ano no Brasil, essa operação deixa de ser vantajosa e estrangeiros retiram seus recursos, em dólar, do país, o que eleva a cotação da moeda.
"A Selic está muito baixa, o que deixa o risco-retorno do Brasil muito baixo. Fora que a economia está com o crescimento muito brando. Com esses fatores, o estrangeiro não vai deixar dinheiro aqui", Fabrizio Velloni, chefe da mesa de câmbio e sócio da Frente Corretora.
Nesta quinta, o banco Fator reduziu a estimativa para o PIB brasileiro em 2020 de 2,2% para 1,4%, considerando as eleições municipais e crises do governo de Jair Bolsonaro.
"A desaceleração vem tanto da demanda externa quanto do consumo das famílias, sendo que este já vinha sendo revisto antes de o peso do vírus ser considerado", diz relatório do banco.
Neste ano, há saída de R$ 28 bilhões de investimento estrangeiro da Bolsa brasileira, mais da metade do déficit em 2019.
"O dólar a R$ 4,40 não é sustentável pela pressão inflacionária e o mercado sabe disso. Os investidores apostam na alta para ver até onde o Banco Central vai", diz Velloni.
Nesta semana, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse que a instituição está tranquila com relação ao câmbio. No entendimento do mercado, a fala de Campos Neto indica que o BC não vê urgência em fazer recorrentes intervenções para defender o patamar da moeda.
Nesta quinta, o ministro da Economia, Paulo Guedes, também reiterou sua avaliação de que o patamar do dólar deve ser mais alto conforme os juros de equilíbrio caem.
"(O câmbio de equilíbrio) pode ser R$ 3,80, pode ser R$ 4, pode ser R$ 4,20. O câmbio é flutuante, o Banco Central opera isso. Mas o patamar é inquestionavelmente mais alto", disse Guedes.
As declarações foram feitas na presença de Campos Neto, e do presidente Jair Bolsonaro. O BC precisou intervir no mercado na semana passada enquanto o dólar batia novos recordes históricos, enquanto Bolsonaro chegou a dizer que o dólar estava "pouquinho alto".
"O posicionamento do ministro da Economia de que não há problema no dólar alto e a sinalização de que o BC que não vai intervir abrem margem para o movimento comprador. Hora ou outra vamos ver uma intervenção do BC, ao menos para acalmar o mercado", diz Stefany Oliveira, analista de investimentos da Toro Investimentos.
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