Compartilhe este texto

‘Canadá e EUA podem ocupar espaço britânico’, diz Gary Hufbauer

Por Agência O Globo

26/06/2016 3h52 — em
Economia



WASHINGTON - Apesar do pessimismo que tomou as primeiras horas após o Brexit, Gary Clyde Hufbauer, economista do Peterson Institute for International Economics, minimizou o impacto da saída do Reino Unido da União Europeia. Em sua opinião, haverá uma pequena queda na taxa de crescimento da economia mundial a curto prazo. Ele afirma que os problemas financeiros serão sentidos, mas que o maior risco é um efeito dominó, que leve outros países a adotarem, com plebiscitos, a saída da União Europeia ou outras políticas antiglobalização, que poderiam ser devastadoras.

O economista, que já foi vice-secretário para Comércio Internacional e diretor da Equipe Fiscal Internacional do Tesouro americano, acredita que Canadá e Estados Unidos podem se beneficiar exportando produtos para a Europa, ocupando a lacuna dos britânicos, dependendo do acordo que negociarão neste divórcio com o continente. Para o Brasil, ele vê mais dificuldades nas negociações com os europeus, embora acredite numa tendência de maior abertura com os ingleses.

Eu penso que terá um impacto negativo, mas não será nada parecido com o que foi a quebra do Lehman Brothers (em 2008, que marcou o início da crise financeira global). O Brexit vai criar problemas, mas não será um desastre para o sistema financeiro global. É um golpe, mas que terá impactos diferenciados. Este impacto será, claro, maior na economia do Reino Unido, e importante na União Europeia. Além da volatilidade, o Brexit vai reduzir um pouco o crescimento econômico no resto do mundo, que já está em um cenário desfavorável, de fraco crescimento global. Assim, apenas o Brexit tende a ter um impacto relativamente pequeno em todo o mundo. O grande impacto pode ocorrer se tivermos mais referendos, mais países tentando sair da União Europeia. Isso pode gerar crises de instabilidade e afetar os bancos. O pior impacto ocorrerá se outros países começarem a realizar plebiscitos para a saída da União Europeia, em um efeito dominó, ou ainda outros países realizarem plebiscitos (para aprovar medidas antiglobalização). Este efeito dominó pode não ser rápido e não ocorrer apenas na Europa, mas em outras partes do mundo. Mas precisamos de tempo para saber se isso acontecerá.

Não será uma instabilidade de décadas, mas de alguns anos. Ainda é difícil fazer uma previsão exata de prazos, pois há muitas incertezas sobre como será o processo de desligamento do país. Como serão as negociações entre europeus e britânicos? Quanto os europeus vão querer ceder aos britânicos? E vai depender de quanto tempo os britânicos precisarão para fazer acordos com outros países pelo mundo. Ainda há muita incerteza sobre os próximos passos.

Isso depende muito dos termos que os britânicos conseguirão negociar nesta saída da União Europeia, mas alguns países vão tentar ganhar esse espaço. À primeira vista, os países que mais podem se beneficiar são o Canadá e os Estados Unidos. Mas isso ainda depende dos acordos comerciais que o Reino Unido fará com a União Europeia.

A situação ficou muito desfavorável para o setor financeiro londrino continuar o mesmo sem o acesso à Europa. Para onde este setor vai? A cidade com maior potencial, em um primeiro momento, é Frankfurt (sede do Banco Central Europeu e principal cidade financeira da Alemanha). Mas, na verdade, são duas opções: Frankfurt e Paris. A capital francesa tem algumas vantagens: está muito perto de Londres, acessível por trem, e é um cidade mais agradável para viver do que Frankfurt. Estas devem ser as duas cidades que mais ganharão com a perda de importância de Londres.

Eu penso que, neste primeiro momento, todas as economias estão sendo afetadas, de alguma maneira, pelo choque de instabilidade e pela volatilidade financeira. Todos estão sofrendo agora. A longo prazo, tende a ficar mais complexo para a União Europeia assinar acordos comerciais com o Brasil ou com o Mercosul. Assim, ficará mais difícil para o Brasil negociar produtos agrícolas. Novos acordos serão uma questão mais complexa para a Europa, em todos os sentidos, não apenas com o Brasil. Já o Reino Unido, por sua vez, poderá ter uma postura mais favorável a acordos comerciais, e os emergentes, como o Brasil, podem se beneficiar disso. No fim das contas, os aspectos negativos tendem a ser maiores que os positivos para os países emergentes.


Siga-nos no
O Portal do Holanda foi fundado em 14 de novembro de 2005. Primeiramente com uma coluna, que levou o nome de seu fundador, o jornalista Raimundo de Holanda. Depois passou para Blog do Holanda e por último Portal do Holanda. Foi um dos primeiros sítios de internet no Estado do Amazonas. É auditado pelo IVC e ComScore.

ASSUNTOS: Economia

+ Economia